sábado, 22 de fevereiro de 2014

TRIBUTO - Virgínia Lane

Sassaricando no paraíso 

A Vedete do Brasil e de Getúlio 


Internada desde o início do mês no CTI do Hospital São Camilo, em Volta Redonda, teve falência múltipla dos órgãos aos 93 anos, após sofrer de uma forte infecção urinária. Seu nome de batismo era Virgínia Giaccone, e veio ao mundo para tornar nossa vida menos penosa em 28 de fevereiro de 1920. Começõu cedo na carreira artística, ainda garota, com apenas 15 anos. Foi a estrela da fase áurea das chanchadas, gravou sucessos de carnaval e se tornou sex symbol nacional. Ela cantava no programa "Garota Bibelô" da extinta rádio Mayrink Veiga comandado por Césra Ladeira. Aos 18, já atuava no cinema; aos 23, passou a integrar o elenco do Cassino da Urca, onde cantou e dançou à frente de orquestras como a de Carlos Machado e Benny Goodman.

Virgínia foi uma das mais importantes vedetes do cinema e do teatro do Brasil. Segundo Maria, sua filha, com quem morava na cidade de Piraí, há cinco anos ela já havia separado a roupa com que desejava ser enterrada: coroa, maiô, meia, strass e muitas plumas, ou seja, caracterizada como a vedete que sempre foi. Ela já tinha dito que não queria saber de flores no seu caixão e ninguém chorando no seu velórioque morava com a mãe na cidade de Piraí.

Virginia participaria da abertura oficial do carnaval do Rio de Janeiro, na Cinelândia, no próximo dia 28 de fevereiro, data em que completaria 94 anos. Inteligente, sua atribulada agenda artística não a impediu a seguir com os estudos. Interna do Colégio Regina Coeli dos seis aos 14 anos, passou pelo Instituto Lafayette, em Botafogo, e chegou a cursar o primeiro ano da faculdade de Direito.

Não obstante construir uma bela carreira no teatro de revista, foi no cinema que obteve grande sucesso. Sua estreia no cinema se deu no musical da Cinédia Alô, Alô Brasil (1935), o primeiro filme brasileiro que teve sua trilha sonora lançada em disco – com a participação dos mitos da música Sílvio Caldas, Ary Barroso e o Bando da Lua. Mas seu auge foi na década de 1950. Participou, ao todo, em mais de 30 filmes como Laranja da China (1940), de Ruy Costa (1897-1967), e Carnaval no Fogo (1949), de Watson Macedo (1919-1981). Contracenou com grandes nomes da época como Oscarito (1906-1970), Grande Otelo (1915-1993) e Zé Trindade (1915-1990).

Virginia foi uma das artistas brasileiras de maior prestígio durante o governo de Getúlio Vargas, de quem recebeu, pessoalmente, a faixa que acabou se tornando seu slogan: "Vedete do Brasil". Indiscreta, ela mesma afirmava que teve um caso com o então presidente durante uma década. 

Já famosa como vedete do teatro de revista, Virginia gravou em 1951, a marchinha "Sassaricando", de Luis Antônio, que se tornou um estrondoso sucesso. Serviu de inspiração para a novela Locomotivas (1977), a primeira a ser exibida a cores no horário das 19h00 na TV Globo. A ex-vedete integrou também, em 2005, na mesma emissora, ao lado de outras ex-vedetes, o elenco da novela Belíssima. Dois anos mais tarde, ela voltou a aparecer em Sete Pecados, uma outra atração da emissora.

Em 2002, sofreu um acidente de carro que lhe obrigou a colocar pinos nas pernas que já foram consideradas as mais bonitas do Brasil. Sua última homenagem em vida foi recebida no dia 25 de janeiro deste ano, quando foi eleita a Imperatriz do Amazônia, em Belém, no Pará.


Por Luiz Alvarenga