sábado, 9 de novembro de 2013

domingo, 3 de novembro de 2013

RANKING: - 30 + 1 Top Westerns - Lista Pessoal

Trata-se de uma visão estritamente pessoal, e tão polêmica quanto qualquer outra. 

Também com a média das notas dadas pelos Top Editores do site Cineplayers

Frame clássico do magnífico Meu Ódio Será Sua Herança.
A forma mais clássica de valorar uma lista de melhores filmes, seja de que gênero for, é dando-lhes uma nota de 1 a 10. Usei esta mesma metodologia, segundo critérios pessoais, para elaborar esta que podemos também chamar de Ranking dos Melhores Filmes de Faroeste de Todos os Tempos. Para chegar ao resultado, o fator primordial, obviamente, foi ter assistido a cada obra, e no mínimo por duas vezes. O rigor se justifica.  

Não obstante, e apenas por curiosidade, antes de elaborar minha lista andei consultando alguns blogs e sites de prestígio, cuja influência, é bom deixar claro, na elaboração da mesma foi 'zero'. Abaixo estão eles: 


Elaborar uma lista séria não é tarefa simples. Requer disponibilidade de tempo e critério, pois, particularmente entre os 15 primeiros colocados, as produções são ótimas o que torna as diferenças de qualidade entre elas muito sutis. Leva-se muito tempo com o inventário, debatendo consigo mesmo, os méritos do porque, por exemplo, a solidão do xerife em Matar ou Morrer o coloca à frente, no ranking, da insanidade em Meu Ódio Será Sua Herança. Ambos, dois gigantes do gênero. Portanto, peço que tenham sempre em mente que esta é a melhor lista que pude elaborar. Com certeza, um ou outro, que conta com a preferência do leitor pode ter sido preterido, afinal a lista só comporta 31. Ela não é definitiva nem está incólume a erros. Porém, espero que agrade em totalidade. Para finalizar, três pontos: primeiro, alguns filmes, como o excelente O Tesouro de Sierra Madre (1948), que aparecem bem posicionados em algumas listas não estão presentes nesta, porque não contêm os principais elementos que, segundo uma visão estritamente pessoal, caraterizam o faroeste clássico; segundo, a forma como o ranking está exibido foi inspirado no site http://www.timeout.com/london/film/the-50-greatest-westerns, porém a semelhança para por aí; terceiro, o + 1, que é o 31º filme, se deu por dois motivos: mérito e sentimental. 

Por fim, quatro filmes filmes que constam no ranking serão comentados neste blog na série A Quadra de Ases; são eles pela ordem: Johnny Guitar, Rastros de Ódio, Matar ou Morrer e O Homem Que Matou o Facínora. Então, vamos ao que interessa:


1º
Rastros de Ódio
The Searchers (1956)
Diretor: John Ford
Elenco principal: John Wayne, Jeffrey Hunter, Natalie Wood
Nota Média Top EditoreCineplayers_Rastros de Ódio 8,9
Nota dos Usuários = 8,2

                    
2º
Os Brutos Também Amam
Shane (1953)
Diretor: George Stevens
Elenco principal: Alan Ladd, Jean Arthur, Van Heflin
Nota Média Top Editores Cineplayers_Os Brutos Também Amam 8,0 
Nota dos Usuários = 8,1 

        
3º
Matar ou Morrer
High Noon (1952)
Diretor: Fred Zinnemann
Elenco principal: Gary Cooper, Lloyd Bridges, Grace Kelly
Nota Média Top EditoreCineplayers_Matar ou Morrer 8,6 
Nota dos Usuários = 8,4 

                    


4º
Pat Garrett & Billy The Kid
Pat Garrett & Billy The Kid (1973)
Diretor: Sam Peckinpah
Elenco principal: Kris Kristofferson, James Coburn, Bob Dylan 
Nota Média Top Editores Cineplayers_Pat Garret & Billy the Kid 9,2
Nota dos Usuários = 8,4


                    
5º
Johnny Guitar
Johnny Guitar (1954)
Diretor: Nicholas Ray
Elenco principal: Joan Crawford, Sterling Hayden, Mercedes McCambridge
Nota Média Top Editores Cineplayers_Johnny Guitar 8,0
Nota dos Usuários = 8,2 


                   
6º
O Homem Que Matou o Facínora
The Man Who Shot Liberty Valance (1962)
Diretor: John Ford
Elenco principal: James Stewart, John Wayne, Vera Miles
Nota Média Top Editores Cineplayers_O Homem Que Matou o Facínora 8,4
Nota dos Usuários = 8,6
                   


7º
Três Homens em Conflito
The Good, The Bad and the Ugly (1966)
Diretor: Sergio Leone
Elenco principal: Clint Eastwood, Eli Wallach, Lee Van Cleef
Nota Média Top Editores Cineplayers_Três Homens em Conflito 8,9 
Notas dos Usuários = 9,1 


                    
8º
Dead Man
Dead Man (1995)
Diretor: Jim Jarmusch
Elenco principal: Johnny Depp, Gary Farmer, Crispin Glover
Nota Média Top Editores Cineplayers_Dead Man 8,3 
Notas Usuários = 8,1

                    


9º
Era Uma Vez No  Oeste
Once Upon a Time in the West (1968)
Diretor: Sergio Leone
Elenco principal: Henry Fonda, Charles Bronson, Claudia Cardinale
Nota Média Top Editores Cineplayers_Era Uma Vez No Oeste 8,9
Notas dos Usuários = 9,0


                    
10º
Winchester
Winchester ’73 (1950)
Diretor: Anthony Mann
Elenco principal: James Stewart, Shelley Winters, Dan Duryea
Nota Média Top Editores Cineplayers_Winchester '73 8,3
Notas Usuários = 8,2


                    
11º
A Paixão de Fortes
My Darling Clementine (1946)
Diretor: John Ford
Elenco principal: Henry Fonda, Linda Darnell, Victor Mature
Nota Média Top Editores Cineplayers_A Paixão dos Fortes 8,3
Notas Usuários = 8,2


                    
12º
Os Imperdoáveis
Unforgiven (1992)
Diretor: Clint Eastwood
Elenco principal: Clint Eastwood, Morgan Freeman, Gene Hackman
Nota Média Top Editores Cineplayers_Os Imperdoáveis  = 8,8
Nota dos Usuários = 8,7


                    

13º
No Tempo das Diligências
Stagecoach (1939)
Diretor: John Ford
Elenco principal:  John Wayne, Claire Trevor, John Carradine, Andy Devine
Nota Média Top Editores Cineplayers_No Tempo das Diligências 8,6
Nota dos Usuários = 8,3


                    
14º
Meu Ódio Será Sua Herança
The Wild Bunch (1969)
Diretor: Sam Peckinpah 
Elenco principal: William Holden, Ernest Borgnine, Robert Ryan
Nota Média Top Editores Cineplayers_Meu Ódio Será Sua Herança 8,9
Nota dos Usuários = 9,0


                    
15º
Rio Vermelho
Red River (1948)
Diretor: Howard Hawks
Elenco principal: John Wayne, Montgomery Clift, Walter Brennan
Nota Média Top Editores Cineplayers_Meu Ódio Será Sua Herança 8,0
Nota dos Usuários = 8,1


                    
16º
Entardecer Sangrento
Decision at Sundown (1957)
Diretor: Budd Boetticher
Elenco principal: Randolph Scott, Noah Beery Jr, HM Wynant
Nota Média Top Editores  Cineplayers_Entardecer Sangrento - sem pontuação (novembro 2013)


                    
17º
Consciências Mortas
The Ox-bow Incident (1943)
Diretor: William Wellman
Elenco principal:  Henry Fonda, Dana Andrews, Anthony Quinn
Nota Média Top Editores Cineplayers_Consciências Mortas 8,0
Nota dos Usuários = 8,3


                    
18º
Onde Começa o Inferno
Rio Bravo (1959)
Diretor: Howard Hawks
Elenco principal: John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson
Nota Média Top Editores Cineplayers_Onde Começa o Inferno = 8,6
Nota dos Usuários = 8,4



                   
19º
Quando os Homens São Homens
McCabe & Mrs. Miller (1971)
Diretor: Robert Altman
Elenco principal: Warren Beatty, Julie Christie, Rene Auberjonois
Nota Média Top Editores Cineplayers_Quando os Homens São Homens = 8,3
Nota dos Usuários = 7,5


                    
20º
Sete Homens Sem Destino
Seven Men From Now (1956)
Diretor: Budd Boetticher
Elenco principal: Randolph Scott, Lee Marvin, Stuart WhitmanNota Média Top Editores Cineplayers_Quando os Homens São Homens = 8,8
Nota dos Usuários = 8,4


                    
21º
Django
Django (1966)
Diretor: Sergio Corbucci
Elenco principal: Franco Nero, José Bódalo, Loredana Nusciak
Nota Média Top Editores Cineplayers_Django = 8,0
Nota dos Usuários = 7,4


                    
22º
Dragões da Violência
Forty Guns (1957)
Diretor: Samuel Fuller
Elenco principal: Barbara Stanwyck, Gene Barry, Robert Dix
Nota Média Top Editores Cineplayers_Gradões da Violência = 7,8
Nota dos Usuários = 7,9


 
23º
Disparo Para Matar
The Shooting (1968)
Diretor: Monte Hellman
Elenco principal: Millie Perkins, Jack Nicholson, Warren Oates
Nota Média Top Editores Cineplayers_Disparo Para Matar = 8,8
Nota dos Usuários = 7,7


                    
24º
Josey Wales, O Fora da Lei
The Outlaw Josey Wales (1976)
Diretor: Clint Eastwood
Elenco principal: Clint Eastwood, Chief Dan George, Sandra Locke
Nota Média Top Editores Cineplayers_Josey Wales, o Fora da Lei = 7,5
Nota dos Usuários = 7,9

                    
25º
O Preço de um Homem
The Naked Spur (1953)
Diretor: Anthony Mann
Elenco principal: James Stewart, Janet Leigh, Robert Ryan
Nota Média Top Editores Cineplayers_O Preço de Um Homem = 8,0
Nota dos Usuários = 7,8


26º
El Dorado
El Dorado (1966)
Diretor: Howard Hawks
Elenco principal: John Wayne, Robert Mitchum, James Caan, Paul Fix
Nota Média Top Editores Cineplayers_El Dorado = 8,0
Nota dos Usuários = 8,3


                    
27º
O Estranho Sem Nome
High Plains Drifter (1973)
Diretor: Clint Eastwood
Elenco principal: Clint Eastwood, Verna Bloom, Mitch Ryan
Nota Média Top Editores Cineplayers_O Estranho Sem Nome  7,3
Nota dos Usuários = 7,3

28º
Por Uns Dólares a Mais
Per Qualche Dollaro in Piu (1965)
Diretor: Sergio Leone
Elenco principal: Clint Eastewood, Lee Van Cleef, Gian Maria Volonté, Klaus Kinski, Maria Krupp
Nota Média Top Editores Cineplayers_Por uns Dólares a Mais 7,7
Nota dos Usuários = 8,2

                    
29º
Pistoleiros ao Entardecer
Ride the High Country (1962)
Diretor: Sam Peckinpah
Elenco principal: Randolph Scott, Joel McRea, Ron Starr
Nota Média Top Editores Cineplayers_Pistoleiros ao Entardecer 7,3
Nota dos Usuários = 7,4

30º

Por um Punhado de Dólares

Per un Pugno di Dollari (1964)

Diretor: Sergio Leone

Elenco principal: Clint Eastwood, Gian Maria Volonté, Joseph Egge]

Nota Média Top Editores Cineplayers_Por um Punhado de Dólares = 7,1

Nota dos Usuários = 7,8

Este é o + 1:

                    
31º
Sete Homens e um Destino
The Magnificent Seven (1960)
Diretor: John Sturges
Elenco principasl: Yul Brynner, Steve McQueen, Eli Wallach, Charles Bronson, Robert Vaughn, James Coburn, Brad Dexter, Horst Bucholz 
Nota Média Top Editores Cineplayers_Sete Homens e um Destino 7,1
Nota dos Usuários = 7,7

Por Luiz Alvarenga

FALAS BACANAS: - O Poderoso Chefão

"Deixe que seus amigos
subestimem suas qualidades,

e que seus inimigos 
superestimem seus defeitos."



Don Corleone em O Poderoso Chefão (1972)

A QUADRA DE ASES: Introdução

Faroeste, o gênero americano por excelência
Parece que Hollywood não quer enterrar seu mais americano dos gêneros 

Nenhum outro período da história dos Estados Unidos mereceu tanta atenção da Meca do Cinema, como o retratado pelos Faroestes. O gênero já foi definido como sendo o cinema americano por execelência. Clint Eastwood, um de seu ícones, considerou-o como a única forma de arte genuinamente americana, ´excessão do Jazz.    
O gênero ainda tem seu espaço?¹
Se invocamos a memória é para nos sentirmos mais acompanhados, quando sabemos que ela não é compartilhada por mais ninguém. Não há nada de mais solitário do que a memória. João Bénard da Costa.


Sua exuberância e vastidão transformaram Monument Valley no cenário
predileto de grandes cineastas como John Ford e Howard Hawks, 
É defendido por alguns que o faroeste é página morta na história do cinema. De certa forma, a afirmação não está muito longe da verdade. E só não é página morta, porque algumas produções recentes, estimuladas pelo sucesso que Clint Eastwood obteve com Os Imperdoáveis (1992), não permitem que se coloque a derradeira ‘pá de cal’. O ocaso desse que é o mais americano dos gêneros, teve início no final dos anos 60. Após esta década, muito pouco se fez que merecesse algum destaque. Porém, na visão dos saudosistas o western ainda não acabou. Na minha, se não acabou totalmente, com certeza não tem mais o apelo e o charme de antes. Explico: as produções atuais por mais bem cuidadas que sejam, e algumas o são, Django Livre (2012) é um belo exemplo, chegando a disputar o Oscar este daquele, não conseguem reviver o glamour nem causar o frisson de antes. É possível lançar mão de todo o arsenal de recursos técnicos que o cinema dispõe atualmente para se reconstruir uma época, mas revivê-la novamente infelizmente não.
Cena de Os Imperdoáveis.
Portanto, não há como trazer de volta o esplendor e a magia daqueles tempos que se produziram em profusão obras do qilate de Os Brutos Também Amam (1953) de George Stevens, ou Meu Ódio Será Sua Herança (1969) de Sam Peckinpah. Esta última lançada já no crepúsculo do gênero. Mesmo que tenha conseguido um sopro de vida pelas mãos do competente Clint Eastwood, um de seus principais ícones, com a obra prima Os Imperdoáveis, o gênero está muito longe de manter o vigor de antes. A produção de Clint é, uma obra do ponto de vista de qualidade, quase que isolada. Como ela pouquíssimo se produziu em seguida.
A era de ouro do faroeste americano foi liderada por dois gigantes da arte de fazer cinema: John Ford, para muitos críticos seu mestre supremo, e responsável por clássicos como No Tempo das Diligências (1939), Paixão dos Fortes (1946) e o imbatível Rastros de Ódio (1956), protagonizado John Wayne, outro ícone do gênero; e Howard Hawks, diretor de Onde Começa o Inferno (1959), El Dorado (1966), este também produzido já no ocaso do gênero.
Os mestres John Ford e Howard Hawks.
Na história dos Estados Unidos o chamado cinema Western é o período recriado na tela, correspondente a três décadas, compreendido entre 1860 e 1890, e podemos afirmar que nenhum outro período da história mereceu tanta atenção do cinema. O gênero também foi definido pelo crítico francês André Bazin como o "cinema americano por excelência", no seu livro O que é o Cinema?
O Grande Roubo do Trem
Tudo começou no dia primeiro de dezembro de 1903, quando dois assaltantes armados renderam um operador de telégrafo, em uma inusitada e ousada operação. Haviam praticado o primeiro assalto a um trem. Iniciava-se assim, em Hollywood, com uma película de apenas 12 minutos, com título O Grande Roubo do Tremo que viria a se tornar um dos gêneros mais bem sucedidos de sua história . Produzido pela Edison Company, de Thomas Edison, o inventor da lâmpada e da câmera de filmar, esta foi a primeira grande obra cinematográfica a ser caraterizada como ‘western’.
O sucesso da produção superou em muito as expectativas mais otimistas na época do lançamento, pois, apesar dos apenas 12 minutos, continha todos os elementos necessários para agradar o público e que viriam a consagrar o gênero, desde um assalto e tiroteios, bem como assaltantes tentando escapar montados em seus cavalos. As pessoas ficavam extasiadas na plateia ao ver as armas apontadas em sua direção. O gênero consagrou-se como tipicamente masculino, no qual as mulheres sempre, ou quase sempre, foram relegadas a papéis inexpressivos. Exceto por um, o inusitado e excelente Johnny Guitar (1954), um dos quatro grandes faroestes que fazem parte da série A Quadra de Ases, e que iremos comentar aqui.
No Brasil o gênero também ficou popularizado com o nome ‘faroeste’. Apesar de reconhecidamente compor um gênero clássico do cinema norte-americano, também teve inúmeras produções em outros países, especialmente na Itália, com os seus famosos ‘western spaghetti’, que teve em Giuliano Gemma, o eterno Ringo, falecido em outubro último.
John Wayne em seu habitat no insuperável Rastros de Ódio.
Os acontecimentos dessa época e região e retratados de forma romanceada pelo cinema, já existiam através do folclore em canções populares e outras formas de expressão cultural, que já evocavam a iconografia dos cowboys, xerifes e bandidos. Embora de carne e osso, os homens que os inscreveram na história tinham algo de heróis. Assim, apenas coube ao gênero transformar em lenda o que já levava bastante jeito para a coisa.
A corrida expansionista, que levou a colonização à fronteira oeste dos EUA, no decurso do século XX, teve seu lado perverso como a dizimação das nações indígenas em nome dos valores que ergueram os EUA. Essa expansão confrontaram os interesses dos colonos de origem europeia com as populações indígenas que habitavam aquela região. A 'confederação Sioux', um dos grupos de nativos americanos foi severamente atingida por essa colonização. Na maioria dos filmes os indígenas foram retratados como criaturas primitivas e violentas, que demonstravam inexplicável hostilidade contra os colonizadores. Obviamente, uma visão míope e politicamente incorreta que, porém, não impediu, contudo, que surgissem obras-primas como No Tempo das Diligências.
Durante um bom tempo, acreditei que detinha pelo menos um recorde pessoal: o número de vezes que um cinéfilo assistiu a um mesmo filme. Foram tantas as vezes, que acreditava ser improvável encontrar um rival que pudesse superar-me. Já considerava, inclusive, a hipótese de reivindica-lo ao Guinnes Book, o Livro dos Recordes. O tal pretenso recorde pertencia ao longa, e bota longa nisto, Ben-Hur (1959), o épico dirigido por William Wyler. Mas estava enganado. 

A primeira vez que assisti ao clássico de William Wyler contava com apenas doze anos, e, desde então, seguramente, já o vi e revi por mais de 40 vezes. Coisa de doido, né? Obviamente, naquela idade, aos doze anos, ainda não tinha uma consciência crítica que justificasse interessar-me por filmes como este, longo e com muitos diálogos entre as cenas de ação. Estava bem longe disto. Entretanto, já possuía a percepção necessária, instintivamente, que me permitia enxergar uma obra com alguma qualidade. Era como se a coisa estivesse em meu DNA. Sei que minha geração teve uma infância diferente. Nosso principal meio de diversão foi o cinema. Era essencialmente um meio de diversão 'barato'.  
Roy Rogers, Dale Evans e seu
fiel cavalo Trigger.
Cada moleque naqueles tempos, final dos anos 50 e início dos anos 60, tinha seu ‘mocinho’ preferido, ás vezes mais de um, para acompanhar suas aventuras semanalmente nas tradicionais matinês das tardes de domingo. Um dos meus preferidos era Roy Rogers. Uma explicação para a drástica mudança, em relação aos tempos atuais, pode ser o fato que na minha época não havia Internet, os jogos eletrônicos etc. As opções de diversão eram as brincadeiras de rua, e naquele cenário o cinema reinava absoluto.  
Quando menos esperava, e para meu conforto espiritual, pois já achava que este negócio de ver o mesmo filme inúmeras vezes era coisa de maluco, um desvio de comportamento, descubro que existiam muitos outros doidos por este mundão afora com o mesmo hábito, para não dizer mania. E em gravidade maior.

Sterling Hayden e Joan Crowford em Johnny Guitar.
A coisa ficou estacionada por aí por um bom tempo até que, recentemente, descobrir que existem outros ‘doidos’ soltos por este mundão afora. Muitos outros, por sinal. È só dar uma olhada no Guinnes Book. Porém, este é um tipo de doido inofensivo, um tipo que só faz mal a si mesmo. Para ilustrar, cito dois casos: o primeiro, o  Germano, um conhecido, que contou-me ter superado minha marca com o mesmo filme. O segundo, este um 'gajo' em Portugal, com uma extensa biografia ligada ao cinema, que chamava-se (sim, porque faleceu em 2009) João Bénard da Costa. O cidadão era conhecido como ‘Senhor Cinema’. Ele ajudou a criar a revista O Tempo e o Modo e a Cinemateca Portuguesa, que foi sua segunda casa durante muitos anos. O gajo tinha algumas coisas em comum comigo: como eu, sem talento para dirigir, gostava de estar no lado oposto da objetiva. Sua paixão era falar e escrever sobre a Sétima Arte. Considerava Johnny Guitar, dirigido pelo competente Nicholas Ray (1911-1979), como um dos filmes de sua vida, e, entre 1957 e 1988, o teria visto apenas umas 68 vezinhas. Quando tomei conhecimento destes dois casos, e de quem se tratavam, pessoas tidas como perfeitamente normais, tranquilizei-me um tantinho, vocês nem imaginam. Percebi que meus números eram até modestos, e que sou, acreditem se quiser, até bem normal.(rs). 
João Bénard da Costa costumava afirmar que, como as coisas muito grandes, Johnny Guitar não se explica. Conta-se (vê-se), outra, outra e outra vez como as histórias que se contam às crianças, até que tudo se saiba de cor e se aprenda que tudo está certo nelas. É a ‘Imitação de Cristo’ dos cinéfilos. Basta abrir-se ao acaso e se encontra a frase certa. Basta ver pela sexagésima oitava vez e se encontra a resposta certa para o que se está a viver. Que Deus o tenha.
¹ A partir deste post será usada a fonte Verdana.
Por Luiz Alvarenga