O romance de Margareth Mitchell, que imortalizou o visionário produtor David O. Selznick, se transformou em um dos maiores épicos do cinema ao narrar a história das vicissitudes de uma sulista aristocrática, mimada e orgulhosa, que vê seu mundo desabar com a chegada da Guerra Civil.
Devo a decisão e coragem, principalmente a ousadia, de haver criado meu próprio blog aos constantes encorajamentos de uma pessoa muito querida: minha sobrinha Ana Paula. Portanto, pareceu-me mais do que justo a ideia de expressar no próprio blog meu reconhecimento e gratidão pelos constantes incentivos recebidos. Basicamente, a ideia foi deixar que ela escolhesse um filme, entre os de sua preferência, sobre o qual gostaria que escrevesse. Sugestão que de pronto foi aceita. Não suspeitava, entretanto, que teria pela frente uma missão um tantinho espinhosa. Pois, entre os milhares de filmes já produzidos, a 'diabinha' foi escolher justamente o clássico E o Vento Levou. Como seria constrangedor sugerir que escolhesse outro filme, não restou-me nenhuma outra alternativa a não ser seguir o conselho da Ministra: "relaxar e...".
E assim,, aqui estou tentando cumprir o mais dignamente possível a espinhosa missão. E o primeiro desafio foi tentar descobrir o que faltaria a ser escrito, que ainda valesse a pena, sobre este filme grandioso em todos os sentidos. Diria que pouco ou quase nada, pois este é um filme sobre o qual mais já se escreveu no planeta. Só livros, foram mais de 20, o que dizer dos incontáveis ensaios, críticas, artigos etc.. Para se ter uma pálida ideia sobre sua grandiosidade, os impressionantes números a seguir oferecem uma visão sobre seu festival de recordes.
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Vivien Leigh recebendo seu Oscar em 1940. |
"Existia uma terra de cavalheiros e campos de algodão chamada "O Velho Sul". Neste mundo bonito, galanteria era a última palavra. Foi o último lugar que se viu cavalheiros e damas refinadas, senhores e escravos. Procure-a apenas em livros, pois hoje não é mais que um sonho. Uma civilização que o vento levou!"
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Margareth Mitchell |
E o Vento Levou é uma obra que vai além apenas da qualidade. É eterna. É tão grandiosa e famosa por seus excessos, quanto o é pelo som, pela música, pelas cores e pela verdadeira epopéia que se transformou sua realização. Em sua fórmula podemos encontrar todos os ingredientes que habitam o imaginário, pelo menos os dos mortais comuns: melodrama, ação, sentimento, e tudo filmado em um glorioso Technicolor. Mas como em toda história real tem sua dose de acidental e confusa, pois a verdade é que E o Vento Levou também surgiu do caos, da obstinação e da fé cega de seus realizadores. Principalmente do caos. E é esse caos, essa fé, coragem e obstinação em fazer o quase impossível se tornar possível, é que vamos tentar mostrar aqui. Para isto, foram necessárias horas e horas de pesquisa histórica, em livros, revistas, Internet e documentário de bastidores que registraram em imagem e som o processo de sua produção. Tudo atrás de fatos e fotos. Um trabalho que, pelo tamanho, guarado obviamente a devida proporção, espero estar à altura do gigantismo do filme..
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Fotografia deslumbrante. |
Pelos ouvidos, por sua soberba trilha sonora. Ela foi escrita e conduzida pelo magistral Max Steiner (1888-1971), outra figura do cinema que se tornou lendária. Steiner, compatriota de Strauss, criou centenas de temas que se tornaram clássicos. Foi nomeado nada menos que dezoito vezes pela Academia, por seu trabalho, das quais ganhou três. Pelos olhos, por sua fotografia simplesmente deslumbrante e premiada com Oscar. Ela é recheada de cores vivas e intensas, e de autoria de Ernest Haller (1896-1970) e Ray Rennahan (1896-1980). Foi um o primeiro filme que usou o Technicolor a ganhar a estatueta de melhor filme. Pelo coração, por sua trama envolvente e melodramática. Inclusive, tentar entender esse fenômeno tem sido, ao longo de décadas, um enorme e infrutífero desafio para qualquer estudioso que se aventure a fazê-lo. Apenas por seus minutos iniciais já é possível entender que qualquer tentativa nesse sentido se transformará em frustração. Assim como em toda paixão, E o Vento Levou não pode ser entendido apenas do ponto de vista racional.
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Cortejada desde as primeiras cenas. |
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Fazendo seu famoso juramento sobre a terra devastada. |
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Scarlett sem a beleza de Viven, no romance de Michell. |
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Existia um mundo de damas e cavalheiros... Neste mundo bonito galanteria era a última palavra. |
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Mimada, centro das atenções e um mundo prestes a ruir. |
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O amadurecimento chegou também com a perda de entes queridos. |
Essa nova mulher, dona de novos hábitos, pode ser notada em cenas como a que ela faz seu próprio vestido aproveitando uma velha cortina. Ou ainda, quando atira sem nenhum sentimento de culpa em um ianque que invade sua fazenda. Essa Scarlett fria, inconformada e destemida: é a nova mulher em que se transfoormou com os sofrimentos. Assume a postura que vinha sendo moldada desde o início da guerra: com o abandono das atitude da mimada sulista e aceitação de sua verdadeira personalidade.
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Amadurecimento à custa de muito softimento. |
As vicissitudes começam cedo para essa menina mimada, com sua paixão infantil e desenfreada,. Logo no início, ao saber que seu amado irá se casar com Melanie Hamilton, Scarlett parte para tentar conquistá-lo a qualquer custo. Assistimos extasiados a ela jogar o que sabe e o que não sabe para fisgar Ashley. Porém, toda as artmanhas e esforços se mostram infrutíferos, pois não são correspondidos. Vale, aqui, chamar a atenção para a relação de Scarlett com Melanie, crucial na construção da história. No início, ela sente um ódio mortal por Melanie por enxergá-la como uma rival de peso. Afinal, ela esta de casamento marcado com Ashley Wilkes, filho do fazendeiro vizinho.
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A paixão não correspondida. |
Com o desenvolvimento da história o destino unirá fortemente Scarlett e Melanie. Somente dessa forma elas conseguirão superar os dias amargos que o futuro lhes reserva, com o recrudescer da guerra. Com o tempo elas vão se tornar cada vez mais íntimas, mais próximas uma da outra. Revendo o filme mais atentamente, para escrever este trabalho, pareceu-me nas cenas que a relação entre elas extrapola um pouco aquilo que convencionou-se chamar apenas de 'um sentimento de amizade'. A suspeita acabou levando-me a uma instigante e polêmica questão, que deixo para cada um dos leitores como uma boa oprtunidade para reflexão, sob a ótica do tão atual e acalorado debate sobre a causa gay: não teria rolado entre as duas mulheres uma reprimida relação homoafetiva? Reprimida porque uma relação aberta, ente duas mulheres, jamais poderia ser exibida numa tela de cinema naqueles anos 30, de velada censura. É algo para se pensar, não é mesmo?
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Seria a segunda história de amor do filme? |
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Ashley, desprezado por sua própria criadora. |
Vale também chamar a atenção para outros pontos não menos interessantes: o filme não retrata somente a desolação física causada pela guerra, mas, sobretudo, a desolação moral. Observem também que a história de Margareth Mitchell, como já mencionado acima, é "sobre as pessoas que têm e energia, e sobre as que não têm", segundo as próprias palavras de Mitchell. Não é difícil perceber que ela despreza o personagem Ashley Wilkes, relegando-o para segundo plano. É verdade que ela o descreve como um herói e integro, porém superficial e até meio bobalhão. E Scarlett só irá conseguir enxergar a fraqueza de Ashely já no final do filme, quando parece se dar conta de que jamais o conhecera de verdade. Reconhece que durante todo esse tempo endeusava um homem que, de fato, era cria de sua imaginação. Mitchell também esnoba o final feliz, bem como não há menção da vitória do bem sobre o mal.
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You should be kissed, and often. And by someone who knows how. Uma relação que não entra em choque com a moral da época. |
Rhett Butler e Scarlett, têm personalidades muito parecidas. São companheiros de trapaças tanto quanto de ideias. Não tinham vergonha de fazer o que fosse necessário para sobreviver em tempos duros como aqueles. Scarlett o criticava, hipocritamente, afinal em situações semelhantes ela agia da mesma forma que ele. O relacionamento dos dois é do tipo arrebatador, o amor negado, do permanente desencontro, que acaba por desaguar em ressentimento e mágoa.
O primeiro encontro dos dois ocorre no interior da sede de Tara, e se desenvolve até a última cena quando Rhett pronuncia a famosa frase final e considerada por muitos como uma das mais marcantes da história do cinema: “Frankly my dear, I don’t give a damn.” (Francamente minha querida, não dou a mínima). Frase que, como será visto mais à frente, foi motivo de muita dor de cabeça para Selznick. O Capitão Rhett não demorará muito para descobrir seu amor por aquela criaturinha geniosa e prepotente. Mas ela, cega pelo amor impossível a Ashley, não admite isto, e só vai descobrir seu amor por ele tardiamente. Pois, à medida que ambos vão superando as muitas dificuldades impostas pela guerra vão também tornando-se mais próximos um do outro.
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Este espetacular fotograma registra o o momento que Scarlett recebe os ensinamentos do pai, sobre a importância da terra, |
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Dois momentos alegóricos e emblemáticos de Scarlett: com o pai ao por do sol, à esquerda, sob uma árvore frondosa, e durante a guerra, sob uma árvore ressequida e a terra devastada, à direita. |
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Sob a mesma árvore, agora sem o apoio do pai, porém esperançosa de uma nova vida. |
Com o final do filme não é só Scarlett O'Hara que aprende ou pode tirar lições de vida, ela duramente, mas também o espectador. A lição que afinal a vida vale apena ser vivida. Outra lição importante, a última, e que provavelmente também deverá passar despercebida para alguns, é a que E o Vento Levou repudia de forma veemente o derrotismo. Através da fibra de Scarlett, mostra que sempre há coisas na vida pelas quais se deve e vale a pena lutar, por mais improváveis de acontecer que elas possam nos parecer.
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David O. Selznick. |
Todos que admiram ou amam o cinema, devem a existência e a grandiosidade de E o Vento Levou a um lendário sujeito chamado David O. Selznick, Ele foi o grande responsável não só por sua realização bem como pela fidelidade com que os personagens do best seller de Margareth Mitchell foram transpostos para a tela. Megalomaníaco, desde o início Selznick sonhara com um projeto ambicioso para o filme, e trabalhou duro para que ele fosse o maior de todos já produzidos em Hollywood. E foi esse empenho de Selznick que faz de E o Vento Levou até hoje uma referência para a produção de épicos.
Era filho do produtor Lewis
Selznick, um pioneiro da época do cinema mudo, para quem trabalahou como aprendiz até a falência do pai em 1923. Esse trabalho permitiu que ele conhecesse bem cedo os meandros do cinema, e contribuisse também, além de seu enorme talento é claro, para torná-lo um dos mais famosos e respeitados produtores da história. Em 1926, mudou-se para Hollywood usando as conexões de seu pai, e conseguiu um trabalho como editor assistente na Metro-Goldwyn-Mayer. Rapidamente passou a produtor associado. Mas pouco depois, em 1928, mudou-se para a Paramount Pictures, onde ficou até 1931.
Em seguida à Paramount, foi contratado pela RKO como chefe de produção. Esta, porém, foi atingida por graves
problemas financeiros, mas não sem antes proporcionar-lhe seu primeiro grande desafio ao
permitir que tocasse um ambicioso plano de produção, que incluiu o mítico King Kong (1933). Pouco depois, regressou à MGM, onde produziu alguns sucessos como A Queda da
Bastilha e A Vida e Aventuras de David Copperfield, ambos de 1935. Em 1936,
funda seu próprio estúdio a Selznick International, que produziria filmes de
elevada qualidade como Nasce Uma Estrela (1937), As Aventuras
de Tom Sawyer (1938) e Intermezzo
(1939), responsável pela vinda para Hollywood de Ingrid Bergman (1915-1982), a maravilhosa atriz de
Casablanca (1942). Ela encontrava-se no auge de sua beleza. Em 1939, dá-se o
momento mais mágico de sua carreira, quando compra os direitos
cinematográficos do livro de Margaret Mitchell Gone With the Wind. Em 1939, contrata o cineasta britânico
Alfred Hitchcock (1899-1980) com quem manteve uma relação atribulada. Isto
porque ambos possuíam personalidades fortes, gostavam de ter o controle
artístico dos seus filmes, o que gerava choques frequentes. Em 1940, realizam
o grande sucesso Rebecca, pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Filme.
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Selznick com Jennifer, na premíere de Duelo ao Sol. |
Podemos dividir E o Vento Levou em dois momentos distintos, e que, apesar de indiscutivelmente belos e tecnicamente quase perfeitos, possuem também um simbolismo profundo. A primeira, se concentra basicamente em mostrar a decadência de Tara e da família O’Hara. E a segunda no estudo da complexa personalidade de Scarlett, e de sua relação com Rhett Butler e Melanie Hamilton. Tão extenso quanto a obra de Mitchell, que possui 1037 páginas e é famosa por sua clareza, o filme também procurou manter todos os ingredientes, além dos já mencionados, que fascinam o imaginário popular, como aventura, guerra, paixão, traições e turbulência social. Acredito que são estes ingredientes que ajudam a fazer dele um septuagenário tão jovial quanto o era há mais de 70 anos.
Em 1961, David Selznick, Vivien Leigh (1913–1967) e Olivia de Havilland (1916) voltariam novamente a Atlanta. Foram participar das comemorações do Centenário da Guerra Civil. Eles estavam felizes e ao mesmo tempo tristes. Os sinais do tempo, implacável, já eram visíveis em suas faces. Não havia como não perceber como envelheceram e o filme, contudo, mantinha o mesmo frescor de seu lançamento, em 1939, quando lá estiveram para a pré estréia. Os três eram os últimos sobreviventes. Leslie Howard havia morrido em um acidente de avião durante uma missão secreta para o governo britânico. Margareth Mitchell, que nunca escrevera outro romance, morrera atropelada em 1949, em um acidente de carro, ao atravessar uma rua em Atlanta. Clark Gable (1901-1960) tivera um ataque cardíaco no ano anterior, logo após o término das filmagens de Os Desajustados (1960), onde contracenou com Marilyn Monroe.
Civil War Centenial - 1961
E o Vento Levou foi um filme que despertou muito interesse entre os cineastas e enorme sucesso com o público. Para os priimeiros, pelas inovações técnicas que introduziu na produção cinematográfica na época; para o segundo, por sua história imortal mesmo considerando seu excesso de cenas melodramáticas em determinados momentos, nos remetendo às atuais telenovelas, que mostram situações demasiadamente óbvias. Entretanto, o filme conta com o atenuante de ter sido feito há mais de 70 anos. Naqueles tempos, uma época de transição, pode se dizer que o cinema estava em sua adolescência e em franco processo de amadurecimento, e os roteiros ainda precisavam ter uma dose de obviedade para facilitar o entendimento do público.

Loui B. Mayer foi um homem que com seu império de teatro expandido, que ele havia adquirido, e suficientemente remodelado em pequenas salas de cinema, foi capaz de mover seu negócio para Los Angeles, em 1918, e se aventurar na produção de filmes. Junto com seus Samuel Goldwyn (1879-1974) e Marcus Loew (1870-1927) da Metro Pictures, ele formou uma nova empresa chamada Metro-Goldwyn-Mayer (MGM).
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Loui B. Mayer |
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Sede da Selznick International |
Whithey era descendente de John Whitney, um puritano que se estabelecera em Massachusetts em 1635, bem como de William Bradford, que veio no Mayflower. Seu pai era Payne Whitney, e seus avós foram William C. Whitney e John Hay, ambos os membros do gabinete presidencial. O tio de Whitney, Oliver Hazard Payne, um parceiro de negócios de John D. Rockefeller, organizou a compra de concorrentes do duque para criar a American Tobacco Co.Depois de se formar em 1926, Whitney foi para a Universidade de Oxford, mas a morte de seu pai exigiu seu retorno para casa. Ele herdou um fundo de $20 milhões (cerca de $210 milhões de Dólares por volta de 2005), e mais tarde herdou mais quatro vezes esse valor de sua mãe.
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Jack Whitney; |
Whitney investiu $870 mil Dólares na sociedade, e ficou como Chairman do Conselho da nova empresa. Ele investiu também a metade da grana na compra dos direitos para a filmagem de E o Vento Levou. Mais tarde investiu também na produção de Rebecca (1940). Whitney investiu também em vários espetáculos da Broadway, incluindo a de Pedro Arno em 1931, reedição Here Goes the Bride, um fracasso que lhe custou $100 mil Dólares, mas foi mais bem sucedido na vida como patrocinadoror. Em outubro de 1934, ele viu um artigo na revista Fortune, sobre a empresa Technicolor Corporation, que acabou despertando seu interesse pelas imagens. Whitney havia conhecido Herbert Kalmus, Chairman e CEO da Technicolor Corporation, no Saratoga Race Course. Em 1932, a Technicolor conseguiu um avanço com o seu processo three-strip. Merian C. Cooper da RKO Radio Pictures aproximou-se de Whitney com a idéia de investir na Technicolor. Então eles juntaram esforços e fundaram a Pictures Pioneer em 1933, com um acordo com o RKO para distribuir filmes da Pioneer. Whitney e seu primo Cornelius Vanderbilt Whitney comprou uma participação de 15% da Technicolor.
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O Estúdio Selznick no lote dos fundos da RKO. |
Não seria de todo errado, afirmar que a epopéia que estamos narrando começou realmente quando Selznick decidiu comprar os direitos de adaptação do romance de Mitchell, em junho de 1936. Quase que simultaneamente ao seu lançamento. Ele desembolsou a bagatela de $50 mil, até então a mais alta quantia já paga pela adaptação do primeiro livro de um autor desconhecido. Começava assim, os enormes desafios com os seus incontáveis imprevistos, que a ambiciosa produção iria lhe impor. Quem se acomoda em uma poltrona para assistir ao filme, ignora completamente, ou não faz a mínima ideia, do volume de trabalho e enormes dificuldades para se chegar ao seu resultado.
Porém, como veremos a seguir, a decisão de Selznick pela compra dos direitos autorais não foi imediata. Ele teve dúvidas no primeiro momento; A história toda iniciou quando Katherine Brown, a assistente e caçadora de talentos de Selznick, recebeu uma cópia do livro da representante da MacMillan, gestora pela venda dos direitos autorais. Então a assistente, responsável por encontrar material importante para Selznick, achou-o absolutamente maravilhoso e imediataemnte levou-o até ele. Um outro personagem, este o editor de histórias de Selznick, que também havia recebido uma cópia, correu ao escritório de Selznick e disse-lhe: "Sr. Selznick isso não passa de um monte de lixo. Vai cometer o maior erro de sua vida se tentar filmá-lo."
Assim, em 25 de maio de 1936, após refletir, Selznick enviaria um telegrama à sua assistente com os seguintes dizeres: "Pensei cuidadosamente sobre E o Vento Levou. Se contratarmos uma mulher perfeita para o papel principal, possivelmente ficarei mais inclinado a comprá-lo do que estou hoje. Sinto dizer "não" em virtude do seu entusiasmo por esta história."
Como podemos ver pela resposta, mal educadamente Selznick disse a ela que $50 mil por um livro de autor desconhecido era loucura. E perguntou se por acaso ela estava louca. Não, ela responderia. Ela achava que ele era o louco.
Mas, para o deleite dos amantes do cinema, aquela não era uma assistente qualquer. Não, não era do tipo que desistia assim tão facilmente. Com a negativa, ela apelou para Jack Whitney, o sócio de Selznick. Ele disse: "Certo, eu o compro para você, Kay (era como eles carinhosamente a chamavam). Nós o daremos para a Pioneer." Ela então respondeu: "Certo, vamos fazer isso." Mas é melhor contarmos a Selznick." Então, contaram a ele.
Ela teve certeza que esse foi o motivo para Selznick ter mudado tão rapidamente de ideia. Ele não queria que a Pioneer comprasse os direitos, pois era a outra metade da empresa. Portanto, no dia 6 de julho de 1936 ela recebia a seguinte mensagem de Selznick: "Se conseguir fechar E o Vento Levou por $50 mil, então faça." Ela fecharia o negócio naquele mesmo dia, semana antes da publicação do livro.
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George Cukor. |
Em 29 de setembro, três meses após a compra dos direitos autorais, Selznick tratou com Cukor a contratação de Sidney Howard para escrever o roteiro. Neste dia, ele enviaria à sua assistente o seguinte mensagem: "Eu acabei de falar com Cukor. Ele compartilha do meu entusiasmo por Sidney Howard para o filme. Gostaria muito que ele viesse e fizesse o roteiro assim que pudesse. A elaboração do roteiro seria, como vamos ver, um dos maiores responsáveis pelas muitas dores de cabeça que a pré-produção enfrentaria.
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Sidney Howard |
Era 1921, a primeira peça de Sidney Howard foi produzida na Broadway. Era um drama em versos neo- romântico definido no tempo de Dante, Swords, não se saiu bem com o público e os críticos. Foi com seu romance realista They Knew What They Wanted, três anos depois, que Howard estabeleceria sua reputação como um escritor sério. O romance foi elogiado por sua visão melodramática de adultério e a abordagem tolerante a seus personagens. O crítico de teatro Brooks Atkinson chamou-o de um drama "terno, original e misericordioso". They Knew What They Wanted ganharia o Pultizer em 1925, na categoria drama. No cinema teve três adaptações (1928, 1930 e 1940) No Brasil foi exibido com o título Não Cobiçarás a Mulher Alheia. Mais tarde tornou-se musical na Broadway com o título The Most Happy Fella. Howard ganhou o Oscar póstumo da Academia de 1939 por Roteiro Adaptado em E o Vento Levou (ele foi o único homenageado pelo roteiro, apesar do fato do mesmo ter sido revisado por vários outros escritores, inclusive o próprio Selznick) Foi a primeira vez que um candidato póstumo para qualquer categoria ganhara o prêmio. Sidney Howard morreu no verão de 1939, aos 48 anos, enquanto trabalhava em sua fazenda. Era um amante da vida rural tranquila, Howard passava tanto tempo em sua fazenda quanto possível. Só se ausentava para ir N. York ou a Hollywood, mesmo assim com relutância como iremos ver à frente. Ele foi esmagado até a morte em uma garagem por um de seus tratores. No momento da sua morte, ele estava trabalhando em uma dramatização da biografia de Benjamin Franklin, de Carl van Doren.
Na opinião de Selznick, ele e Ben Hecht (1894-1964) eram os dois melhores escritores para filmes. Além disso, não estavam de acordo com os estúdios, e eram raros, por não precisarem receber tudo mastigado ou que se escrevesse a metade dos diálogos."
Howard aceitou a tarefa de escrever o roteiro, com a condição que pudesse trabalhar em sua fazenda em Massachusetts. Era considerado o melhor dramaturgo daquela época. Mas esse era um trabalho muito difícil, que levaria tempo, muito tempo mesmo. E Selznick não era o tipo de chefe mais paciente do mundo. Ele ligava com frequência para sua assistente querendo saber sobre o andamento do roteiro.
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Gable, unanimidade entre o público. |
A escolha da atriz, porém, para o cobiçado papel de Scarlett O'Hara foi, ao lado do roteiro, um dos vários e grandes desafios enfrentados pela produção, e que deu um bocado de trabalho. As notícias sobre a pré-produção atraíram tanto a atenção dos norte-americanos que, em 1937, uma rádio decidiu realizar um concurso para saber quem faria o papel de Scarlett. O elenco do filme se tornara uma obcessão nacional. Foram, por ordem, seis as atrizes que receberam o maior número de votos: Bette Davis (1908-1969) em primeiro, Katherine Hepburn em segundo; seguidas por Miriam Hopkins (1902-1972), Margaret Sullivan (1909-1960), Joan Crawford (1906-1977) e Barbara Stanwick (1907-1990) em sexto.
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As seis mais bem colocadas do concurso, pela ordem: Bette, Katherine, Miriam, Margaret, Joan eBarbara. |
A revista Vogue também resolveu entrar na brincadeira, divulgando um esboço da Scarlett ideal com fotos das primeiras concorrentes. As cartas enviadas pelo público chegavam aos milhares. Nelas 121 atrizes foram recomendadas.
Iniciou-se, em paralelo, pelos realizadores, uma ação neste sentido. Selznick contratou um sujeito chamado Russel Juarez Birdwell, reporter do Hearst Newspapers, que sabia como ninguém escrever uma manchete e impulsionar uma história. Assim, o assunto se tornou uma mania. Quem fará Scarlett O'hara? Birdwell foi responsável por uma procura nacional e, já que todas as mulheres de qualquer idade, principalmente as jovens, na época se viam como Scarlett, a busca se tonou um verdadeiro alvoroço.
David Selznick era um gênio da publicidade. Ele sabia que a busca por Scarlett seria uma grande distração e um jeito de manter o interesse do público pelo filme. Filme para o qual ele ainda não tinha orçamento, roteiro e muito menos a coragem de fazer. Se ele não conseguia achar sua Scarlett, e quanto ao Capitão Rhett Butler?
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Os principais candidatos da direita para a esquerda: Ronald Colmam, Errol Flynn , Gary Cooper e Clark Gable, o preferido do público. |
Ele era a sensação do período de ouro de Hollywood, e o astro número "um", o ator mais rentável da Metro, ou seja, a estrela de maior de bilheteria. E não era hábito do estúdio sair emprestando sua melhor mercadoria. Portanto, foi um grande constangimento para Selznick saber que só poderia tê-lo se implorasse a Loui B. Mayer, seu sogro, e ainda se pagasse uma fortuna.
Nessa altura dos acontecimentos, Selznick ainda tinha esperanças que o filme fosse feito por $1,5 milhão e que conseguiria fazê-lo sem a ajuda de seu sogro. No final de fevereiro de 1937 Sidney Howard entregava o primeiro rascunho do roteiro. Ele tinha cinco horas de duração.Teria que ser cortado com certeza. E Haoward, relutantemente, concordou em ir a Los Angeles para as revisões. Apesar da obviedade de algumas situações e dos momentos melodramáticos já mencionados, o roteiro de Howard continha bons diálogos. Entre eles destacam-se os envolvendo Scarlett, sempre egoísta e mimada, e Butller, sempre sarcástico. O diálogo dos dois na biblioteca, por exemplo, após a declaração de Scarlett para Ashley, sem que ela tenha notado a presença de Butller deitado atrás no sofá é de refinado humor. Na sequência da cena, com o negativa de Ashley, ela joga um vaso contra a parede e Rhett se levanta fazendo a pergunta: "The war start?" Começava assim o tumultuado relacionamento entre os dois.
Howard chegou para as revisões em 1º de fevereiro, para descobrir que Selznick estava totalmente preocupado com outras questões. Passado duas semanas, Howrad enviaria uma carta à sua esposa com os seguintes dizeres: "Esse sujeito, Selznick, nasceu sem saber como organizar seu tempo." Envolvido com as filmagens de O Prisioneiro de Zenda (1937), só em julho Selznick, finalmente, voltaria suas atenções para o roteiro juntamente com Cukor e Howard. Assim, em 15 de agosto ele tinha um novo rascunho, porém 15 páginas maior que o original. Estava ficando claro para Selznick que este não seria um filme comum, mas dois filmes gigantes juntos. Aquilo estava exigindo um planejamento a longo prazo.
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William Cameron Menzies |
A verdade é que Selznick precisava de alguém com o talento e a experiência de Menzies nos cenários e na sua produção. Seu trabalho permitiu economizar algumas centenas de milhares de Dólares. Menzies elaborou um roteiro completo em quadrinhos. O visual do filme como um todo era ditado pelos storyboards de Menzies (exemplo na imagem logo abaixo), Os desenhos davam uma ideia de como o resultado final dos cenários, dos personagens e dos figurinos ficaria. Ele desenhou cada encenação, e os desenhos sugeriam o fluxo e o jeito de cada cena.
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Os storyboards de Menzies fazem parte de um planejamento cuidadoso. Acima estão alguns referentes à sequência da queima de Atlanta, realizado no lote dos fundos da MGM. |
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O vestido cor de vinho da mulher escarlate. |
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Arquitetura típica da Georgia, que serviu de inspiração para criação de uma Tara apimentada. |
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Interiores de fazer inveja a qualquer fazendeiro |
No começo de 1938, já havia se passado um ano inteiro desde que Sidney Howard apresentara seu primeiro roteiro. Selznick finalmente estava pronto para a difícil tarefa de enxugá-lo. Um trabalho frustante e os principais papeis ainda não haviam sido encontrados. Nessa altura, Selznick recebia uma mensagem de Cukor dizendo que ele parecia ter testado meio mundo, não se lembrando de alguém que não tenha feito testes.
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Bette Davis em sua história que também tem o Sul como palco, na N. Orleans do século XIX. Igualmente um interessante retrato sobre os costumes da época. |
O tempo foi passando e até julho de 1938 Selznick já havia torrado quase $400 mil em direitos, escritores, testes e preparação, sem ainda ter sua Scarlett, Rhett e nenhum roteiro. satisfatório Ser seu próprio patrão estava ficando caro para Selznick.
No final de maio, Selznick enviou uma mensagem a Jack Whitney dizendo que L.B. (como seu sogro també era tratado) havia ligado para sugerir que a MGM estaria interessada na compra imediata do filme, junto com os serviços dele, Selznick, como produtor, com uma quantia substancial a ser considerada. Os lucros seriam tão atraentes que "sinto que o risco é pequeno". Eu não gosto da ideia de ver a nossa empresa não fazendo o filme, completava Selznick: "Eu devo analisar a discussão dos dois lados. Se fizermos o filme, meu cabelo ficará branco; se eu vender para a Metro, meu cabelo só começará a ficar cinza."
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Selznick, jogador compulsivo como o pai. |
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Viu como fui trouxa! |
Selznick agora tinha pela frente um prazo limitado. As filmagens deveriam começar em janeiro de 1939. Assim, ele ficou um mês nas Bermudas para tentar terminar o roteiro. A difícil tarefa exigia novamente a ajuda de Sidney Howard. Esse disse que não iria às Bermudas, e que escreveria em sua fazenda. Então, Selznick chamou Jo Swerling (1893-1964), que havia acabado de escrever Nascidos para Casar (1939). Era alguém para discutir e para datilografar. Mas ao voltar das Bermudas já estava pedindo outro escritor: "Quero o escritor de diálogos para E o Vento Levou na minha chegada a Nova York. Não me interessa Sidney Howard. Entendo que a peça de Oliver Garret foi um terrível fiasco. Então, deve ser possível comprá-lo barato." Garret foi contratado, e começaram uma revisão substancial do roteiro, enquanto voltaram a Hollywood onde a favorita para Scarlett, finalmente, estava surgindo.
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Paulette, a atriz que impressionou Selznick. |
Sobre ela Selznick afirmaria: "Hepburn tinha duas coisas coisas contra ela. Primeiro, o inquestionável e amplo desgosto do público para com ela no momento. E, segundo, o fato de que ela ainda não provou que tem a sensualidade que, provavelmente, é o requisito mais importante de uma Scarlett. Só o que precisamos fazer é reunir um elenco completo com gente como Hepburn e Leslie Howard e teremos um filme adorável para ter sido lançado 8 anos atrás."
A imprensa continuava a dar espaço ao filme. Uma rádio voltaria com a manchete: Bette Davis, Carole Lombard, Margareth Sullivan e as outras candidatas agora estão fora do páreo. Hoje, um azarão apareceu no fundo quando os testes de Lana Turner (1921-1995), uma jovem atriz da MGM, foram feitos no set fechado, contracenando com Melvyn Douglas (1901-1981).
Selznick diria: "Eu vi o teste de Lana Turner e Melvyn Douglas. Achei Turner completamente inadequada. Jovem demais para entender o papel. Temo que devamos esquecê-la. Acho que Douglas ofereceria a leitura mais inteligente de Ashley qie vi. Mas, quanto ao tipo, é totalmente errado. É muito forte fisicamente. Isso torna a questão de Leslie Howard ainda mais vital e urgente."
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Paulette com Chaplin em Tempos Modernos. |
Paulette Goddard era uma atriz pela qual Charlie Chaplin (1889-1977) se apaixonara e que estrelpara em Tempos Modernos (1936). Ela era a favorita. Uma amiga de Selznick, Cukor e Jack Whitney. Era uma garota muito alegre, ria muito. Vivia com Chaplin, em frente a casa de Selznick, e Hollywood presumia ou achava que ambos eram casados. E se não fossem? Paulette poderia ser Scarlett na tela e na vida?
Para nós que já vimos o filme, temos hoje uma grande vantagem. Mas tentemos imaginar como estava a cabeça de Selznick na época. Depois de dois anos de muito barulho e uma busca por todo o país, quem ele acaba colocando como Scarlett? A própria vizinha. A cabeça do homem deveria estar parecida com um vulcão. Poderia, realmente, Paulette fazer o papel? Selznick escrevia bilhetes desesperados, tentando se convencer de que sim, mas o que ele precisava naquele momento era de algo que nenhum bilhete, charme ou dinheiro poderia conseguir: um milagre.
Quem seria essa garota?
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Beleza vinda de um convento Inglês; |
Produto de um convento inglês, o milagre havia nascido na Ìndia no seio de uma família inglesa rica. Criada para uma vida de lanches comportados em picniks ao ar livre, seu nome era Vivien Leigh. Ela era tímida com as câmeras. Mas, às vezes, a timidez pode ser uma máscara para as necessidades de fingir. Naquela época ela estava com 21 anos e não era uma atriz de muito sucesso. Em 1935, fez muito sucesso numa peça chamada The Mask of Virtue. E, quando ela leu E o Vento Levou, no ano seguinte, ficou convencida de que o papel de Scarlett fora escrito para ela. Sentia-se como Scarlett, desejosa de seguir seu próprio caminho. Assim, começou a trabalhar para obter o papel sem saber as poucas chances que tinha. Charles Morrison, um olheiro de Selznick, a recomendara em fevereiro de 1937. "A srta, Vivien Leigh em Fogo Sobre a Inglaterra (1937) é uma das maiores promessas ao estrelato, que vi ultimamente." Selznick viu um rolo de Fogo Sobre a Inglaterra, mas não conseguiu enxergar, desculpem o trocadilho, o fogo, este sob o vestido elizabetano dela.
Então, ela se apresentou a Myron. Ele a olhou e deve ter pensado: "Huuummm! Talvez."
Seria uma grande piada e um presente surpreendente para David, diria Myron mais tarde. Então, ele pergunta a Vivien: "Gostaria de ir a um incêndio?"
O lote dos fundos do estúdio tinha 40 acres.e estava entulhado de cenários de filmes antigos: King Kong (1933), O Rei dos Reis (1927) e O Jardim de Alá (1936). Portanto, a área precisava ser limpa para dar espaço à construção dos cenários de E o Vento Levou. Então, Menzies e o Gerente de Produção, Ray Klone, tiveram a ideia de botar fogo no velho para dar lugar ao novo, e filmar a sequência do incêndio de Atlanta. Lee Zavitz (1907-1977), dos efeitos especiais, infelizmente não creditado, construiu um sistema elaborado de canos para bombear óleo e água por todo o cenário, para que as labaredas pudessem ser controladas, aumentando ou diminuindo conforme a necessidade.
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A cena do incêndio: à esquerda sem os dublês e a carroça; e à direita adicionados mais tarde pelo pessoal de Jack Cosgrove. |
Dois personagens atuavam incógnitos, enquanto as chamas subiam> Eram dublês. Rhett foi substituído por um adestrador de cavalos, e a jovem que nos enganou, para que pensássemos ser Scarlett, contorcia-se no calor intenso encobrindo seu rosto, por medo que algum crítico com olhos de lince percebesse que ela era diferente da futura Scarlett O'Hara. Mais tarde, eles foram adicionados à frente do incêndio pelo pessoal dos efeitos especiais. Foi Menzies que desenhou e dirigiu esta grande sequência. Cukor, Selznick e seus convidados apenas assistiram e se deleitaram.
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Na manhã seguinte ao incêndio, Selznick escrevia para sua esposa em N. York: "Fiquei muito animado com a sequência do incêndio. Foi uma das maiores emoções que tive atrás das câmeras. Primeiro, por causa da própria cena e, depois, por causa da assustadora mas importante visão de E o Vento Levouem andamento. Myron apareceu com Larry Olivier e Vivien Leigh. Ela é o grande azarão de Scarlett e muito bonita. Vamos fazer os testes finais esta semana." O contrato seria assinado no mesmo mês de janeiro.
Anos depois, a secretária de Selznick diria para um documentário sobre o filme: "Ela incorporava perfeitamente a personagem que estávamos procurando pelo mundo." Qualquer um que visse de perto essa garota sentia o calor dela . Tinha uma intensidade e vivacidade que não havia sido visto, até então,
No Natal, Vivien ficou sabendo que ela faria o papel.
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Ashley, herói íntegro porém bobalhão. Leslie, nem tanto. |
Ele faleceu em 1º de junho de 1943, quando o avião que o levava da Espanha para o Reino Unido, o Ibis, foi derrubado por caças nazistas. Howard retornava a seu país após uma viagem de mais de um mês pela Espanha e Portugal, supostamente fazendo palestras para a guerra sobre Hamlet (para quem quizer acreditar), uma possibilidade improvável, para não dizer impossível, segundo Rey-Ximena, devido à importância de Leslie e ao momento tão crucial para a guerra, vivido na época. Suspeita comprovada pelas várias cartas entre Howard e Anthony Eden, então Secretário de Dehesa do Reino Unido, revelam que o ator foi enviado à Espanha por vontade do Governo, para cumprir com os esforços de guerra britânicos.
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Greta Garbo espanhola. |
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Leslie, rejuvenescido, ao lado de Scarlett. |
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Max Factor maquiando Jean Harlow. |
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A má, a boa e o bobalhão. Contratos finalmente assinados. |
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Bebendo em intimidade. |
Hedda Hopper foi uma colunista social, durante a primeira metade da década de 1900. Ela possuia intimidade para beber com os maiores e mais brilhantes personagens de Hollywood, para escrever sua coluna "Hollywood de Hedda Hopper", e era conhecida por usar chapéus incrivelmente ultrajantes. Ela foi também uma atriz de cinema mudo e personalidade do rádio.
Enquanto isso, as coisa estavam acontecendo para E o Vento Levou. Uma delas, era que Walter Plunkett (1902-1982), brilhante e talentoso figurinista, desenhava mais de 110 costumes só para os quatro papéis principais, sem contar os demais. Costumes, que, a esta altura, estavam sendo provados diante das câmeras Technicolor.
Desde O Nascimento de Uma Nação (1915), ninguém conseguia se lembrar de mais nada que tivesse atingido tanto, os EUA e o mundo, como esse livro conseguiu. Não importa o que e onde fosse em qualquer cidade, as pessoas liam e choravam em cima do livro. Os ecos de O Nascimento de Uma Nação, com suas notórias cenas da Ku Klux Klan eram pouco tranquilizadoras para o público negro. E em E o Vento Levou, os atores negros aceitaram os papéis em clima de desaprovação. Houve um período muito difícil para a imprensa, negra, que também ameaçou um boicote ao filme por medo de racismo.
Hollywood pior que Hitler. Sob pressão, a palavra "preto" (nigger) foi eliminada do roteiro e Selznick apagou todas as referências à KKK. De acordo com sua cabeça e com os padrões da época, ele tentou honrar o ponto de vista dos negros. Conforme um "memo" enviado a Jack Whtiney: "Prezado Jack, eu fui radical durante a preparação e escolha do elenco, para evitar qualquer alusão pejorativa aos negros como raça ou indivíduos, e eliminar as principais coisas da história que, aparentemente, fossem ofensivas aos negros no livro de Margareth Mitchell. Sinto tão profundamente o que aconteceu aos judeus (lembro que Selznick era descendente de judeus) no mundo, que não pude evitar de me compadecer com os negros em seu medo de ver algum material ofensivo ou prejudicial."
E o filme seguia em frente. Nesse momento, Selznick levou mais tempo e teve mais problemas moldando o visual e o sotaque de Vivien Leigh, para atender sua visão de Scarlett. Para atender essa visão, ela chegava regularmente até às 9h30, cada manhã, para trabalhar pelo menos duas horas no sotaque. Em seguida fazia os ajustes, depois ensaiava com Cukor e fazia os testes de fotografia necessários. Selznick, receoso das convenções sociais da época decidiu que Vivien e Olivier não viveriam juntos durante as filmagens. Ele queria que sua Scarlett fosse a bela e a virtuosa do Sul.
Em 21 de janeiro chegava a vez de Clark Gable iniciar seus testes. Rolou uma informação, vinda da MGM, que Gable se recusava veementemente a ter qualquer tipo de sotaque sulista. Ele estava inflexível em sua posição de nunca mais fazer um filme de época. Gable havia feito Parnell, o Rei Sem Coroa (1937), que foi um terrível fracasso. Fato que sempre o deixara constrangido. Segundo Gable, sua razão por não querer fazer o filme, era porque tratava-se de um romance dos mais vendidos de todos os tempos. E as pessoas já haviam formado opinião sobre as personagens e decidiram que ele deveria atuar. Segundo ele, o público tinha uma ideia preconcebida do que queriam ver. Era, por isso, que ele não queria fazê-lo. Haviam pessoas demais que conheciam a personagem. Então ele disse: "Mas, Deus, com Rhett Butler, se vissem qualquer coisa de que não gostassem, se lembrariam do livro. Eu sabia que tinha que ficar alerta."
Com o final das preocupações com o elenco, a revisão ficou mais intensa. Selznick teve uma sucessão de novos escritores. Edwin J. Mayer (1896-1960), John Van Dreton (1901-1957), e Scott Fitzgerald (1896-1940), que veio para enxugar o diálogo mas logo foi demitido. Nenhum deles foram creditados. A esta altura o roteiro estava uma bagunça, pois agora só um homem o escrevia: David Selznick.
Em 25 de janeiro, Selznick escrevia para Jack Whitney: "Prezado Jack, não se desespere ao ver essas poucas folhas do roteiro revisadas. Está tão claro dentro de minha cabeça, que eu poderia te contar o filme todo do começo ao fim, quase cena por cena. Há dois dias, eu estava doente de ansiedade mas, hoje, na noite anterior ás filmagens, estou cheio de confiança. Mas terá de me tolerar pelos próximos dois meses." Convenhamos, era um enorme risco um projeto desse porte, dependendo da cabeça de um só homem. Nessa altura, milhares de Dólares já haviam sido investidos.
No dia seguinte, 26 de janeiro de 1939, dois anos e meio depois de Selznick ter comprado os direitos do livro, finalmente, tinha início o que podemos chamar de "a segunda parte da odisséia", com o começo das filmagens E a primeira cena, seria a apresentação de Scarlett. Porém, a versão a vista por todos não seria a filmada naquele primeiro dia. Ela foi refilmada cinco vezes durante os meses seguintes, antes de Selznick se dar por satisfeito. Ali estava um homem realmente escravo dos detalhes.
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Cukor tinha talento para cenas com mulheres conversando, como esta, filmada por ele logo no início do clássico. |
Em 31 de janeiro, era a vez de Clark Gable chegar para sua primeira participação. Na cena do bazar. Ele chegou sem a preparação que Vivien Leigh estava recebendo, e com a suspeita de que Cukor não era o seu tipo de diretor. Suspeitava que Cukor tratava as mulheres como flores raras, e que os homens só serviam para trabalhar. Foi azar que logo nas primeiras cenas Gable tivesse de dançar, habilidade que não tinha. Foi preciso fazer uma plataforma móvel para dar suavidade aos seus passos, e ele se sentiu exposto.
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Butterfly: tapas realistas demais. |
Mas Butterfly não era a única a reclamar. Conforme a cena se desenvolvia, Selznick conflitava com Cukor por causa da leitura de uma das falas. Depois de 10 dias filmando, só haviam 23 minutos de tomadas finalizadas e 10 delas teriam que ser refeitas. A coisa não estava dando certo. Depois de mais de dois anos preparando as filmagens juntos, Cukor e Selznick não estavam se acertando. Brigavam pelo roteiro e o ritmo de Cukor era excessivamente lento para Selznick. O filme se estendia, e Gable estava começando a ficar inquieto, não estava seguro sobre o seu Rhett ser a 'cocada preta' do pedaço. Por outro lado, Selznick previa as grande cenas épicas ainda por virem, e sabia que iria precisar de um trator, coisa que Cukor definitivamente não era.
Fleming e Cukor: "trator" versus "pé no freio".
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Após a confusão, Vivien Leigh escreveu para casa dizendo: "Ele era minha última esperança de gostar do filme." Ela ficou muito chateada com a saída de Cukor do projeto. Victor Fleming foi chamado. Ele era um dos principais diretores da MGM, e amigo de Gable. Havia dirigido Terra de Paixões (1932) e Piloto de Prova (1938). No daquele ano de 1939, Fleming dirigia O Mágico de Oz, um dos maiores projetos da Metro. Mas ele era a primeira opção de Selznick para substituir Cukor. Então, Louis B. Mayer que, sem trocadilhos, era outro leão da Metro muito feroz, veio ao socorro com a velocidade de um campeão de Fórmula 1. Portanto, Fleming foi retirado da direção de O Mágico de Oz, antes de seu término.
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Fleming no comando. |
Os mais atentos perceberão uma diferença de condução entres as cenas rodadas por Cukor e as por Fleming. Este último, acabou ficando coma parte mais novelesca, principalmente as que o casal entra em crise, prejudicados pelas consequências da guerra. Essas são possuem menos brilho que as do início do conturbado romance, rodadas por Cukor.
Fleming se apresentou a Selznick em 17 de fevereiro. E, quando terminou a leitura das poucas páginas do roteiro que haviam sido filmados até o momento, ele se voltou a Selznck e disse: "Sr. Selznick o senhor não tem roteiro nenhum". Então, E o Vento Levou foi interrompido por 17 dias, para mais uma revisão. A odisséia tinha mais umdeafio pela frente. Os cenários ficaram vazios a um custo de 10 mil Dólares por dia.
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Hattie McDaniel, primeiro Osca de uma pessoa de cor, e merecido. |
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Hecht: "longo como o sonho de uma prostituta". |
Assim eles trabalharam dia e noite para finalizar tudo. Selznick à base de benzedrina e Hecht de energia pura. Passados duas semanas, Hecht estava aos frangalhos e Selznick ainda estava à base de comprimidos, cheio de força, vigor e ansiedade. Ele implorou para que Hecht ficasse mais uma semana para terminar o que achava necessário. Hecht não só não ficou, como saiu correndo, e se escondeu, pegando um trem de volta para casa, sem atender mais nenhum telefones.
No dia 2 de março, as filmagens recomeçaram com Victor Fleming. Ele contava com as vantagens de um recém chegado, pois não havia discutido com ninguém e possuia energia de sobra (ainda), e um certo descaso para com detalhes (comportamento oposto ao de Selznick). Com a ajuda dos desenhos de Menzies, ele conseguiu que Selznick dissesse claramente, 'cara a cara', sem fazer uso daqueles famigerados bilhetes, o que realmente queria.
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Muito trabalho árduo pela frente |
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Os decotes, aaah! os decotes; como deram trabalho a Selznick. |
No início de março, Selznick ainda não estava feliz com o que via na sala de projeção. A iluminação de algumas sequências deixavam a desejar; estavam escura demais. Ele reclamava que não conseguiu inculcar na equipe que, quando pedia efeitos de fotografia não queria dizer que a cena inteira devia ficar tão escura, a ponto de não se enxergar o que estava acontecendo. Portanto, se não conseguimos a arte e a luminosidade, deixemos a arte de lado. Exatos noves dias depois do reinício das filmagens Ernest Heller (1896-1970), foi trazido para substituir o Diretor de Fotogtafia Lee Garmes (1898-1978), com quem ele teve, digamos, divergências criativas. Selznick achava que o trabalho dele era sutil demais e não capturava a riqueza das cores que Menzies desenhara.
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Se não conseguimos a arte e a luminosidade, deixemos a arte de lado. |
A esta altura uma coisa era certa: o orçamento havia sido estourado em muito, e ninguém tinha certeza de quanto seria seu custo final. Só havia orçamento para mais três semanas de trabalho e a MGM negou a colocar um centavo a mais do que o combinado. Por sua vez, Jack Whitney não teve sucesso ao tentar persuadir os sócios da Costa Oeste a ajudar. Então, ele e sua irmã investiram mais um milhão e deram uma garantia pessoal de um futuro empréstimo de $1.250 milhões de A. P. Gianini, do Bank of America. Era a grana necessária para finalizar E o Vento Levou e Intermezzo, e também produzir o filme seguinte: Rebeca, um thriler psicológico, cujo papel principal seria entregue a Laurence Olivier, o marido de Vivien Leigh. Este foi o primeiro projeto nos EUA do mestre do suspense Alfred Hitchcock, e seu primeiro produzido sob o contrato com Selznick.
Com os novos fundos, agora á sua disposição, Selznick investiu boa parte deles na cena da evacuação de Atlanta. Entrementes, o roteiro, uma odisséia à parte, era reescrito todos os dias. Selznick ainda estava reescrevendo-o freneticamente todas às noites. No começo de abril, Sidney Howard foi novamente recrutado para fechá-lo, que já era um arco-iris de inserções coloridas. Eu dou a Selznick uma cena para filmar, na qual trabalhei com cuidado. Quando assisto, ele reescreveu cada traço de estilo dramático da mesma, cada detalhe da personagem e, para mim, toda a ilusão.
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Um diretor à beira de um ataque de nervos. |
O episódio foi um prato cheio para a imprensa:
Quando Fleming deixou o filme, em 29 de abril, a versão oficial foi que ele teria sofrido um colapso nervoso. Diziam os fofoqueiros de plantão que o sumiço dele durante o período de duas semanas foi, na verdade, uma punição a Selznick. Ele ficava pertubado pelo fato de Selznick assumir as filmagens. Selznick ficava mais tempo no set do que jamais ficara em outras produções. Ele dava muito palpite sobre os desempenhos, e dando instruções. E pior, fazendo tudo errado. Não se podia fazer isto com um diretor da envergadura de Fleming. Ele era muito competente. Esse comportamento extremamente intervencionista de Selznick fez com que nenhum deles tivesse liberdade suficiente para imprimir ao filme sua visão pessoal da história e seu estilo.
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Concepção do barbecue feita por Menzie |
E o Vento Levou perdia mais um diretor. Mas, desta vez, não houve pânico. O filme estava nos trilhos. O desespero de Selznick era a verdadeira força de direção e a MGM tinha outro curinga na manga: Sam Wood (1883-1949).
Depois de um estágio de dois anos com Cecil B. DeMille, como assistente de diretor, Sam Wood teve a sorte de ver atribuído a ele duas das maiores estrelas da Paramount durante seu auge : Wallace Reid (1893-1921), entre 1919 e 1920 , e Gloria Swanson, (1899-1983) entre 1921-1923 . No momento em que o seu contrato de sete anos com a Paramount expirou ele já tinha se estabelecido como um dos mais confiáveis e de maiores recursos de Hollywood. Nada mal para um ex- corretor de imóveis. Em 1927, Wood se juntou MGM e permaneceu sob contrato lá até 1939, bem sintonizado com o estilo predominante de produção do estúdio.
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Sam Wood. |
Sam Wood acabara de filmar Adeus, Mr. Chips, quando assumiu. O roteiro mudava todos os dias, mas agora os atores conheciam o papel. Selznick continuava levando aquela confusão adiante. Havia chegado o momento em que todo mundo mundo só quer terminar logo a coisa. Depois de duas semanas, porém, Fleming retornou, talvez recuperado, ou alertado para o fato de que Wood estava fazendo um ótimo trabalho.
Selznick teve uma conferência longa com Victor sobre acelerar o resto do filme. E ele, como sempre, se mostrou disposto a fazer o que fosse preciso. Além do fator custo, os nervos de todos estavam à flor da pele, e só Deus sabia o que aconteceria se não terminassem esse filme miserável. Então, Sam Wood ficou, e o trabalho foi dividido em duas unidades.
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O impressionnte traveling executado por Menzie. |
Quando o marido de Margareth Mitchell assistiu a esta cena no filme, contam que ele exclamou: "Se tivéssemos tantos soldados, teríamos ganho a guerra."
Às vezes os comandantes podem ser vítimas também. Selznick estava á beira de ter um piripaque, mas, constantemente dopado, não tinha tempo de admitir ou observar isso. . Ele supervisionava produção, retrabalhava no roteiro, nas cenas diárias e conseguia achar falhas nas mesmas. E ainda conseguia tempo para bajular Vivien e Gable. Ele já havia começado uma campanha de conselhos, broncas e pressão para assegurar que a MGM fizesse a publicidade adequada do filme. Ele estava terminando Intermezzo e preparando Rebecca, com Hitchcock. O homem era uma verdadeira máquina

Naquele ponto, já havia seis unidades trabalhando no filme. No mesmo dia, Fleming filmava a cena do campo de algodão, Wood filmava no moinho com Vivien, Menzies fazia a locação do campo de batalha e Reeves Eason (1886-1956), trabalhando como Diretor da Segunda Unidade (não creditado), filmava a sequência do vilarejo, com uma dublê de Vivien Leigh. Os estúdios Selznick estavam em estado de caos.. Havia muito descontentamento com muitas coisas. A moral estava baixa, pois Selznick, perfeccionista levara todos ao limite. e às vezes até além.
Bem, entre raios e trovões, o que importa é que o filme foi feito em 125 dias, caso contrário não estaría aqui contando como foi a odisséia. Alguns afirmam que nos dias de hoje dificilmente se faria um filme tão complexo como este em menos de 150 ou 200 dias. Finalmente, ele chega ao fim (me desculpem pela figura de linguagem). Mas, na mesma noite, começaram a refazer algumas cenas. E conforme refilmavam, também eram editadas. A edição também foi um tremendo e penoso processo. Tudo neste filme foi grandioso. Não era só saber onde estavam as tomadas, mas ter a sequência no papel. O que não existia, pois nunca houve um roteiro final. Depois de tantas revisões, ele só existia na cabeça de Selznick. Finalmente, aquele grande produtor, na sala de cortes, foi soberano.
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Trabalho gigantesco e de qualidade valeu Oscar de Edição. |
Não havia ninguém,. nenhum escritor ou diretor, que pudesse irritar ou confundí-lo. Imagino que, naquele momento, Selznick pôde hesitar tanto quanto desejou. Sua expectativa era para fazer a estréia em novembro, dali a apenas quatro meses, com um trabalho pela frente que hoje, seguramente, na melhor das hipóteses, levaria um ano. Promoveram, então, uma sessão de 50 horas com Selznick e Hal Kern (1894-1985), os únicos que ainda conseguiram ficar ali acordados. . Kern acabou levando o Oscar de Melhor Edição, pelo este trabalho, e foi um dos 10 que o filme ganhou. Ele também recebeu indicação pela edição em Rebeca e Desde Que Partiste (1944). Durantes os últimos meses do filme eles trabalharam 23 horas por dia. Eles não tiveram apenas que cortar 6 mil metros de filme, dentro dos 153 milímetros de celulóide.
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Observem o uso das cores na dramatizção dos efeitos da desolação no amanhecer, e nas ruinas da cerca, pintadas de preto. |
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, As cores foram usadas intensamente no filme. Observem aqui, o por do sol dramatizando o momento dos conselhos do pais sobre o valor da terra. |
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Pela fotogradia, sempre magnífica, é fácil perceber o contraste entre o antes e o depois da devastação causada pela guerra. |
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O implacável Will Hays. |
Will Hays diria há época: "Outros gostariam de sufocar este grande entretenimento com dominação artificial, o que não iremos permitir. E ao mesmo tempo devemos ficar de prontidão para cenas, ações ou falas que possam ser ofensivas. Os homens responsáveis da indústria não querem filmes desse tipo e não permitirão que sejam exibidos."
Como podemos ver, Will Hays era o censor de Hollywood e, abaixo dele, havia o Escritório de Código de Produção, dirigido por Joe Breen. A batalha da produção contra a censura de Will Hays, foi para deixar passar a palavra "damn" considerada pesada demais na época, e começou com a seguinte mensagem enviada por Selznick; "Prezado sr. Hays, a frase marcante de E o Vento Levou, a fala que estabelece para sempre a relação futura entre Scarlett O'Hara e Rhett Butler é: Frankly my dear, I don’t give a damn. (Francamente minha querida, não dou a mínima). Joe Breen não pôde me dar permissão para usar esta frase porque contém a palavra "danm". Alego que esta palavra não é usada no filme como xingamento. O máximo que se pode dizer é que é vulgar. E assim está descrita no dicionário Oxford".
Selznick tentou várias opções, mas nenhuma se comparou à fala original. Ele pediu o apoio da maioria dos big boss de Hollywood, mas só após uma longa luta é que lhe deram a permissão de usar a tal palavra. A Motion Picture Association Board aprovou uma emenda ao Código de Produção em 1º de novembro de 1939, para acomodar a palavra "danm" no último diálogo de Rhett Butler. Naqueles velhos e bons tempos!? "maldita" era considerada vulgar para o bom gosto e não poderiam ser usadas em filmes. A frase consta como a "número 1" do hank da AFI (American Film Institute). Em 11 de dezembro de 1939, Selznick escreveria para sua assistente: "Acabamos de terminar E o Vento Levou. Deus nos abençoe." Se Will Hays assistisse a uma das novelas exibidas em nossas emissoras de TV, imagino que teria uma síncope.cardíaca.
A cidade escolhida par a estréia não poderia ser outra que não Atlanta. Selznick diria: "Três anos de esforços nos trouxeram a este momento. Se Atlanta, que é o juiz final, aprovar nossos esforços, todo o trabalho não terá sido em vão."
E assim, encerrava-se o capítulo final desta que foi uma das maiores epopéias, se não a maior, já ocorrida em Hollywood. Aquela que foi uma estraordinária experiência para seus autores.
Nenhum filme, até o advento de Ben-Hur em 1959, vinte anos depois portanto, foi premiado com tantos Oscar, dez no total. Nenhum filme nunca tinha ido tão bem de bilheteria. No mundo todo, incluindo os principais lançamentos, arrecadou em Dólares de hoje mais de S$ 2 bilhões. E teve, de longe, o maior público para um filme já feito. Nunca houve tanta glória em Hollywood. Talvez nunca mais haverá um sucesso como esse. E o Vento Levou é o auge desta grande paixão, deliciosa loucura, arte e negócio chamado cinema.
Anos mais tarde, Selznick falaria sobre o dilema ao qual o grande sucesso de E o Vento Levou o teria condenado. Que ele tirara a sorte grande e, a partir daí, não importa o que fizesse, seus filmes seriam comparados e julgados inferiores a ele. Algo parcecido acontece a Peter Jackson (1961-) com sua trilogia O Senhor dos Anéis (2001-2002-2003).
Por Luiz Alvarenga
SOURCES:
At David
O. Selznick's Vanguard, the board of directors in 1947 included himself, Daniel
O'Shea and Loyd Wright. Selznick as the sole stockholder of SRO: see SIMPP v.
United Detroit, Deposition of David O. Selznick, April 28, 1949, p.
49, AMPAS.
For
O'Shea's humorous account of the short-lived plans for Selznick City, see
Thomas, Selznick, pp. 251-252. On Selznick's mental instability and
the O'Shea resignation, see Thomson, Showman, p. 554-556.
Dan O'Shea
parts with Selznick: “O'Shea Leaving Selznick; Will Open Agency,” Variety,
April 19, 1950; “Film Executive Given New Post by Radio System,” LAT,
November 25, 1950.
“Selznick
Studio Goes On Block,” HR, April 7, 1949, pp. 1, 3.
See Bibliography.
David O.
Selznick. In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
Making of
Oi mano! Parabens pelo trabalho! Muito bem explanado, com riqueza de detalhes. O triste eh que a producao cinematografica da atualidade nao esta voltada para a criacao de peliculas como a do "E o Vento Levou". A ida ao cinema era prazerosa e desistressante... Bjao
ResponderExcluirsu mana
Tio Querido, Favorito em Todo o Universo!!
ResponderExcluirQue ORGULHO de você, do seu Blog Luiz! Câmera! Ação!, da sua capacidade! UAU
Um Post CHEIO de informações jornalísticas, digno de todo e qualquer amante da 7ª Arte. Não fica NADA a dever a qualquer texto de revista séria e especializada.
E o que é melhor: MUITÍSSIMO bem redigido! É Grande, mas deliciosíssimo de se ler! E (finalmente) fiz minha leitura!... A espera pela oportunidade perfeita de devorar o seu trabalho TÃO BEM-FEITO valeu demais!...
Deus abençoe o seu Dom para apreciar as coisas, reunir informações sobre elas e, especialmente, contar a todos o que viu!
AMEI, AMEI, AMEI.
Um beijo épico na sua bochecha de Tio,
da sua sobrinha que já recomendou no Twitter, com Link para esta página, este Post TÃO MARAVILHOSO: Ana Paula!!
Saúde e Paz!!
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