terça-feira, 8 de outubro de 2013

E O VENTO LEVOU (Gone with the Wind - 1939 - EUA)

Um épico grandioso com uma fotografia e trilha sonora de tirar o fôlego. Esse cultuado clássico parece imune aos carunchos do tempo, pois continua tão fascinante e jovial quanto o era há mais de 70 anos

O romance de Margareth Mitchell, que imortalizou o visionário produtor David O. Selznick, se transformou em um dos maiores épicos do cinema ao narrar a história das vicissitudes de uma sulista aristocrática, mimada e orgulhosa, que vê seu mundo desabar com a chegada da Guerra Civil.   

"Eu te amo, Scarlett, porque somos tão parecidos, somos os dois renegados querida, e egoistas inescrupulosos. Nenhum de nós
dois importa se o mundo desmoronar, desde que estejamos seguros e confortaveis."
A epopeia de um épico
"Só temos algodão, escravos e arrogância"  Reth Butler, personagem de Clark Gable.

Devo a decisão e coragem, principalmente a ousadia, de haver criado meu próprio blog aos constantes encorajamentos de uma pessoa muito querida: minha sobrinha Ana Paula. Portanto, pareceu-me mais do  que justo a ideia de expressar no próprio blog meu reconhecimento e gratidão pelos constantes incentivos recebidos. Basicamente, a ideia foi deixar que ela escolhesse um filme, entre os de sua preferência, sobre o qual gostaria que escrevesse. Sugestão que de pronto foi aceita. Não suspeitava, entretanto, que teria pela frente uma missão um tantinho espinhosa. Pois, entre os milhares de filmes já produzidos, a 'diabinha' foi escolher justamente o clássico E o Vento Levou. Como seria constrangedor sugerir que escolhesse outro filme, não restou-me nenhuma outra alternativa a não ser seguir o conselho da Ministra: "relaxar e...".

E assim,, aqui estou tentando cumprir o mais dignamente possível a espinhosa missão. E o primeiro desafio foi tentar descobrir o que faltaria a ser escrito, que ainda valesse a pena, sobre este filme grandioso em todos os sentidos. Diria que pouco ou quase nada, pois este é um filme sobre o qual mais já se escreveu no planeta. Só livros, foram mais de 20, o que dizer dos incontáveis ensaios, críticas, artigos etc.. Para se ter uma pálida ideia sobre sua grandiosidade, os impressionantes números a seguir oferecem uma visão sobre seu festival de recordes. 


Vivien Leigh recebendo seu Oscar em 1940.
Verdadeiro fenômeno das telas, e um dos maiores da história do cinema, saiu-se vencedor em 10 Oscar, incluindo o de Melhor Filme. Sua produção, com um custo de $4,2 milhões que corrigidos pela inflação dos 70 anos, chegam a estratosféricos $800 milhões, a mais cara da história do cinema. Sua arrecadação até os dias atuais ultrapassam em muito os $400 milhões, que se também corrigidos elevaria a cifra para $2,9 bilhões. o que o torna detentor da maior bilheteria de todos os tempos. Quando as filmagens se encerraram seu produtor tinha pela frente uma verdadeira montanha de celulóide a ser editada, algo em torno de 60 mil metros, o equivalente a quase 30 horas de projeção. Selznick (1902-1965), seu produtor ficaria, como vamos ver, trancado por dias e noites com o editor Hal C. Kern (1894-1985) e o assistente deste, montando a fita e sem consultar nenhum dos diretores. O filme teve nada menos que três.
"Existia uma terra de cavalheiros e campos de algodão chamada "O Velho Sul". Neste mundo bonito, galanteria era a última palavra. Foi o último lugar que se viu cavalheiros e damas refinadas, senhores e escravos. Procure-a apenas em livros, pois hoje não é mais que um sonho. Uma civilização que o vento levou!"
Margareth Mitchell
Com estas palavras, passando lentamente na tela, inicia o filme dos filmes considerado por muitos o ponto mais alto na história do assombroso império que se tornou a Meca do cinema.  Esta frase inicial já oferece uma prévia do que está por vir: a destruição do mundo de cavalheiros e damas, e mostrado no início do filme. Surgido em 1939, E o Vento Levou conta o esplendor e o ocaso de uma época e seu contraste com os horrores de uma guerra que assolou o Sul dos Estados Unidos. Margareth Mitchell (1900-1949). autora do livro que serviu de base para o roteiro afirmou: "Se a história tem um tema, esse tema é a sobrevivência. O que faz com que algumas pessoas consigam superar catástrofes e outras - também capazes, fortes e bravas - fracassarem? Sei que os sobreviventes costumavam chamar esta qualidade de energia. Então escrevi sobre as pessoas que têm energia, e sobre as que não têm." E para fazer este filme, como veremos ver, seus realizadores precisaram de uma enorme dose desta energia... e de muitos medicamentos.

E o Vento Levou é uma obra que vai além apenas da qualidade. É eterna. É tão grandiosa e famosa por seus excessos, quanto o é pelo som, pela música, pelas cores e pela verdadeira epopéia que se transformou sua realização. Em sua fórmula podemos encontrar todos os ingredientes que habitam o imaginário, pelo menos os dos mortais comuns: melodrama, ação, sentimento, e tudo filmado em um glorioso Technicolor. Mas como  em toda história real tem sua dose de acidental e confusa, pois a verdade é que E o Vento Levou também surgiu do caos, da obstinação e da fé cega de seus realizadores. Principalmente do caos. E é esse caos, essa fé, coragem e obstinação em fazer o quase impossível se tornar possível, é que vamos tentar mostrar aqui. Para isto, foram necessárias horas e horas de pesquisa histórica, em livros, revistas, Internet e documentário de bastidores que registraram em imagem e som o processo de sua produção. Tudo atrás de fatos e fotos. Um trabalho que, pelo tamanho, guarado obviamente a devida proporção, espero estar à altura do gigantismo do filme..   


Fotografia deslumbrante.
A conclusão, é que o filme conquista seus fãs, quaisquer que eles sejam, por muitos atributos. Pode ser pela tempestiva e melodramática relação do casal central; pode ser pela pungente e vigorosa história da nação unificada pelas armas, e sangue de 600 mil vítimas; como também pelos ouvidos, pelos olhos ou pelo coração.  

Pelos ouvidos, por sua soberba trilha sonora. Ela foi escrita e conduzida pelo magistral Max Steiner (1888-1971), outra figura do cinema que se tornou lendária. Steiner, compatriota de Strauss, criou centenas de temas que se tornaram clássicos. Foi nomeado nada menos que dezoito vezes pela Academia, por seu trabalho, das quais ganhou três. Pelos olhos, por sua fotografia simplesmente deslumbrante e premiada com Oscar. Ela é recheada de cores vivas e intensas, e de autoria de Ernest Haller (1896-1970) e Ray Rennahan (1896-1980). Foi um o primeiro filme que usou o Technicolor a ganhar a estatueta de melhor filme. Pelo coração, por sua trama envolvente e melodramática. Inclusive, tentar entender esse fenômeno tem sido, ao longo de décadas, um enorme e infrutífero desafio para qualquer estudioso que se aventure a fazê-lo. Apenas por seus minutos iniciais já é possível entender que qualquer tentativa nesse sentido se transformará em frustração. Assim como em toda paixão, E o Vento Levou não pode ser entendido apenas do ponto de vista racional.


Cortejada desde as primeiras cenas.
O filme narra a história da turbulenta vida de Scarlett O'Hora, uma adolescente desejada por todos os homens da Geórgia, que, entretanto, só tinha olhos para seu vizinho Ashley Wilkes, o personagem de Leslie Howard  (1893-1943). Ela inicia em abril de 1861, dois dias antes dos homens serem convocados para lutar na Guerra Civi (1861-1865)l. Tem como palco principal a fazenda chamada Tara, de propriedade dos O'Hara, a família de um rico imigrante irlandês. A riqueza dos O'Hara está, bem como a da maioria dos ricos proprietários de terra sulistas, ancorada nas plantações de algodão. Os O'Hara deverão usar de todos os meios à sua disposição para sobreviver às duras penas que a Guerra Civil irá lhes impor, como também posteriormente, no período da Reconstrução. Principalmente nossa heroina. 


Fazendo seu famoso juramento sobre a terra devastada.
Logo nas primeiras cenas, o espectador é apresentado à Scarlett O'Hara. No explendor de seus dezesseis anos, ela é mimada (pois sempre recebeu tudo de mão beijada). invejosa, imatura, inconsequente, voluntariosa, egoísta e excessivamente manipuladora. Ufa! Creio que podemos assim descrever, com todos estes adjetivos, sem remorsos, a personalidade de nossa heroína. Heroína, que, em determinado momento de sua vida, será mostrada maltrapilha e despenteada sobre sua terra devastada pela guerra. Aquela mesma terra sobre a qual um dia, quando tudo parecia perdido, em uma emocionante e extraordinária demostração de força interior, ela jurará que nunca mais passará fome, nem que para isso tenha que "mentir, roubar e matar."

Scarlett sem a beleza de Viven, no romance de Michell.
"Tu és como rosto das rosas: diferente em cada pétala. Onde estava o teu perfume? Ninguém soube. Teu lábio sorriu para todos os ventos e o mundo inteiro ficou feliz. Eu, só eu, encontrei a gota de orvalho que te alimentava, como um segredo que cai do sonho." Apesar de bonita na pele de Vivien Leigh (1913–1967), como no suposto poema acima (pois não há certeza se este é o verdadeiro poema que Cecilia Meireles dedicou a Vivien, já que nenhuma referencia existe), Scarleth, porém, no romance não recebeu tanta generosidade por parte de sua criadora, Margareth Mitchell. 


 Existia um mundo de damas e cavalheiros... Neste mundo bonito galanteria
era a  última palavra
.
Foi a destruição daquele mundo de damas e cavalheiros, descrito no início do filme, que vai proporcionar a Scarlett os elementos necessários para seu devido amadurecimento, transformando-a em uma mulher forte, decidida e audaciosa. O que fez dela uma mulher muito admirada na época, inspirando gerações e gerações por onde o filme foi visto. Sua audácia pode ser observada em suas ações e em algumas de suas falas. Falas que podem ser creditadas ao roteirista Sidney Howard (1891-1039), e que ajudaram a entender sua personalidade egoísta e independente. Independência e força que só seria encontrada na mulher de décadas mais tarde. Mas que eram inconcebíveis por serem consideradas ousadas em demasia para uma mulher daqueles tempos, como nos seguintes exemplos: "Ashley vai voltar, Vamos plantar mais algodão, pois o preço vai disparar." ou "Acho que cometi um assassinato, mas não vamos pensar nisto agora, só amanhã.".


Mimada, centro das atenções e um mundo prestes a ruir.
Antes da guerra, Scarlett era a jovem sulista mimada que descrevemos acima, cujo único interesse era exercer seu charme irresistível sobre todos os rapazes da região e tentar conquistar o coração de Ashley Wilkes. Essa jovem, porém, irá passar por uma grande transformação ao longo do filme. Ela vai perceber, e da pior maneira, que o mais importante da vida reside no afeto, nos amigos e na família. Aspectos que ela não ainda dava o devido valor. As muitas vicissitudes sofridas por ela no decorrer desse tempo, seja por suas atitudes inconsequentes, seja por fatores como a fome, a miséria, a pobreza e a destruição, impostas pela guerra, bem como pela perda dos entes queridos, acabarão por fazê-la amadurecer dando-lhe ao caráter uma têmpera de aço.


O amadurecimento chegou também com a perda de entes queridos.
E essa transformação, que tem inicio a partir do momento em que o mundo de glamour à sua volta começa a ruir, forçando-a a abandonar seus antigos hábitos em nome de sua sobrevivência e daqueles ao seu redor que mesmo a criticando dependem de sua força e determinação. Assume então a responsabilidade de cuidar do que sobrou daquilo que amava e não sabia. Gradativamente, a menina irresponsável vai cedendo espaço à mulher que não se deixa abater frente a nenhum problema e que sempre consegue resolvê-los quando surgem.

Essa nova mulher, dona de novos hábitos, pode ser notada em cenas como a que ela faz seu próprio vestido aproveitando uma velha cortina. Ou ainda, quando atira sem nenhum sentimento de culpa em um ianque que invade sua fazenda. Essa Scarlett fria, inconformada e destemida: é a nova mulher em que se transfoormou com os sofrimentos. Assume a postura que vinha sendo moldada desde o início da guerra: com o abandono das atitude da mimada sulista e aceitação de sua verdadeira personalidade.


Amadurecimento à custa de muito softimento.
Essa jovem detentora de todos aqueles predicados descritos acima, que consegue exercer um charme ir resistível sobre todos os homens, irá passar por uma grande transformação ao longo do filme. Ela vai perceber, e da pior maneira, que o mais importante da vida reside no afeto, nos amigos e na família. Aspectos aos quais não ainda dava o devido valor. As muitas vicissitudes sofridas no decorrer desse tempo, seja por suas atitudes inconsequentes, seja por fatores como a fome, a miséria, a pobreza, a destruição imposta pela guerrae a perda dos entes queridos, acabarão por fazê-la amadurecer dando-lhe ao caráter uma têmpera de aço.

As vicissitudes começam cedo para essa menina mimada, com sua paixão infantil e desenfreada,. Logo no início, ao saber que seu amado irá se casar com Melanie Hamilton, Scarlett parte para tentar conquistá-lo a qualquer custo. Assistimos extasiados a ela jogar o que sabe e o que não sabe para fisgar Ashley. Porém, toda as artmanhas e esforços se mostram infrutíferos, pois não são correspondidos.  Vale, aqui, chamar a atenção para a relação de Scarlett com Melanie, crucial na construção da história. No início, ela sente um ódio mortal por Melanie por enxergá-la como uma rival de peso. Afinal, ela esta de casamento marcado com Ashley Wilkes, filho do fazendeiro vizinho. 


A paixão não correspondida.
Para fazer ciumes, Scarlett casa-se com o bobalhão Charles Hamilton, irmão de Melanie. Após o casamento, Ashley e Charles partem para a guerra, que fora recém declarada. Durante este tempo, ela fica  fora de casa e sente na pele as imponderáveis sofrimentos de uma guerra, entre eles o abandono e a fome. Ao voltar para a fazenda dos pais, Scarlett encontra um cenario desolador; sua mãe morta, seu pai louco e toda sua fortuna perdida. Diante do quadro desesperador, Scarlett precisa dobrar seu orgulho e ir por diversas vezes atrás de Rhett Buttler. Chegando, por fim, até a se casar com ele, após a perda de seu segundo marido.Porém, ela nunca se deu bem com Rhett. O casamento foi apenas por interesse. Como veremos, a paixão só vai aparecer mais tarde e tardiamente. .    

Com o desenvolvimento da história o destino unirá fortemente Scarlett e Melanie. Somente dessa forma elas conseguirão superar os dias amargos que o futuro lhes reserva, com o recrudescer da guerra. Com o tempo elas vão se tornar cada vez mais íntimas, mais próximas uma da outra. Revendo o filme mais atentamente, para escrever este trabalho, pareceu-me nas cenas que a relação entre elas extrapola um pouco aquilo que convencionou-se chamar apenas de 'um sentimento de amizade'. A suspeita acabou levando-me a uma instigante e polêmica questão, que deixo para cada um dos leitores como uma boa oprtunidade para reflexão, sob a ótica do tão atual e acalorado debate sobre a causa gay: não teria rolado entre as duas mulheres uma reprimida relação homoafetiva? Reprimida porque uma relação aberta, ente duas mulheres,  jamais poderia ser exibida numa tela de cinema naqueles anos 30, de velada censura. É algo para se pensar, não é mesmo?

Seria a segunda história de amor do filme?
Scarlett e Melanie são o oposto uma da outra. Enquanto a primeira, possui uma grande força interior  e determinação; a segunda é doce, e possui a generosidade dos corações sensíveis. Sua bondade, a impedia de perceber que Scarlett a via como uma odiosa rival, e até gostava do jeito de Scarlett, tão diferente do seu. Scarlett, por outro lado, tinha desprezo pela personalidade da futura sra. Wilkes, do seu jeito calmo e pacífico. Rapidamente, porém, e sem que perceba, o ódio que Scarlett sente por ela vai se transformando em uma terna e profunda relação de amizade. Agora tentem imaginar uma relação assim, escancarada, há 70 anos atrás no auge do medieval Código Hays, de censura, imposto pelas ligas de decência dos EUA. Lembremos, que foi exatamente na década de 30, a partir de sua primeira metade, que criou-se em Hollywood um incômodo clima inquisitorial. Foram proibidos até mesmo singelos selinhos de boca (beijos de língua nem pensar), caso durassem mais do que oito segundos na tela. Um casal, mesmo de “papel passado”, só podia aparecer numa cama se o homem e a mulher estivessem completamente vestidos e com os pés de um dos parceiros no chão, o que era ainda mais ridículo. Definitivamente o cinema perdeu a pureza. Já não é mais assim há tempos. Já vimos de tudo nos dias atuais.


 Ashley, desprezado por sua
própria criadora.
Felizmente, para os puritanos de plantão e fiel seguidores do Deputado Feliciano, as atenções do filme estão totalmente voltadas para uma outra relação. Essa heterosexual,  portanto mais óbvia e de acordo com aqueles paladinos, defensores da intolerância sexual. Ou, se preferirem, mais de acordo com os rígidos costumes vigentes na puritana sociedade americana da primeira metade do século XX.

Vale também chamar a atenção para outros pontos não menos interessantes: o filme não retrata somente a desolação física causada pela guerra, mas, sobretudo, a desolação moral. Observem também que a história de Margareth Mitchell, como já mencionado acima, é "sobre as pessoas que têm e energia, e sobre as que não têm", segundo as próprias palavras de Mitchell. Não é difícil perceber que ela despreza o personagem Ashley Wilkes, relegando-o para segundo plano. É verdade que ela o descreve como um herói e integro, porém superficial e até meio bobalhão. E Scarlett só irá conseguir enxergar a fraqueza de Ashely já no final do filme, quando parece se dar conta de que jamais o conhecera de verdade. Reconhece que durante todo esse tempo endeusava um homem que, de fato, era cria de sua imaginação. Mitchell também esnoba o final feliz, bem como não há menção da vitória do bem sobre o mal. 


You should be kissed, and often. And by someone who knows how.
Uma relação que não entra em choque com a moral da época.  
Quanto à conflituosa relação entre Scarlett O'Hara e Rhett Butler, o canalha encantador, a história é bem diferente. São dois personagens de personalidades fortes, e muito bons em administrar as próprias vidas, entretanto um fiasco quando se trata de administrar o próprio amor. E só o descobrem quando é tarde demais. A incompetência de ambos para amar e serem amados é que rege a condução até seu final, desta tragédia melodramática de muitas lágrimas. 

Rhett Butler e Scarlett, têm personalidades muito parecidas. São companheiros de trapaças tanto quanto de ideias. Não tinham vergonha de fazer o que fosse necessário  para sobreviver em tempos duros como aqueles. Scarlett o  criticava, hipocritamente, afinal em situações semelhantes ela agia da mesma forma que ele.  O relacionamento dos dois é do tipo arrebatador, o amor negado, do permanente desencontro, que acaba por desaguar em ressentimento e mágoa.


O primeiro encontro dos dois ocorre no interior da sede de Tara, e se desenvolve até a última cena quando Rhett pronuncia a famosa frase final e considerada por muitos como uma das mais marcantes da história do cinema: “Frankly my dear, I don’t give a damn.” (Francamente minha querida, não dou a mínima). Frase que, como será visto mais à frente, foi motivo de muita dor de cabeça para Selznick. O Capitão Rhett não demorará muito para descobrir seu amor por aquela criaturinha geniosa e prepotente. Mas ela, cega pelo amor impossível a Ashley, não admite isto, e só vai descobrir seu amor por ele tardiamente. Pois, à medida que ambos vão superando as muitas dificuldades impostas pela guerra vão também tornando-se mais próximos um do outro.


Este espetacular fotograma registra o momento  que Scarlett recebe
os ensinamentos do pai, sobre a importância da terra,
É também no inicio, que Scarlett recebe do pai uma das mais importantes lições de sua vida: sobre o valor da terra. Algo que ela ignora naquele instante de sua  vida, mas que mais tarde acabará por justificar suas ações. Casa-se três vezes sem amar, respectivamente com Charles Hamilton, apenas para fazer ciúmes a Ashley, após ser rejeitada; em seguida, com Frank Kennedy, no final da guerra, por conveniência, a fim de arrecadar dinheiro para pagar os impostos de Tara; e por último com Rhett Butler, apenas por ele ser um dos homens mais ricos do país. Contudo, todas essas decisões lhe trarão consequências no futuro, mas essenciais para seu amadurecimento.

E o Vento Levou é um filme que está recheado de alegorias. Algumas explícitas, outras nem tanto, subliminares. Entre estas alegorias, está uma sequência das tantas memoráveis do filme. O encontro de Scarlett com o seu pai, ao por do sol, sob uma grande e frondosa árvore com ambos contemplando a fazenda Tara. O expectador mais atento perceberá facilmente, que a árvore encontra-se carregada e florida, o que pode ser interpretado como uma alegoria à vida de Scarlett, que naquele momento encontra-se em seu esplendor, totalmente livre e sem maiores preocupações, exceto pelo amor não correspondido. Depois, bem mais adiante, e já sob a devastação causada pela guerra, quando ela jura nunca mais voltar a passar fome, encontra-se também sob uma árvore, essa, porém, totalmente desfolhada e ressequida, agora podendo significar a miséria que tomou conta de sua vida. É certo que, no final, Scarlett perde tudo, inclusive Melanie, a melhor amiga, sua filha Bonnie, que morre após uma queda de seu cavalo, e Rhett Butler, que a abandona, logo no momento em que ela descobre seu amor por ele


Dois momentos alegóricos e emblemáticos de Scarlett: com o pai ao por do sol, à esquerda, sob uma árvore frondosa, e durante a guerra, sob uma árvore ressequida e a terra devastada, à direita. 
Essa mulher, dona de um orgulho mas também de uma fibra inquebrantável, percebe que nada está perdido. Ela que superou a morte dos seus pais, dos amigos e a destruição de suas terras pela guerra, imagina ouvir as vozes de Rhett, de Ashley, e de seu pai lembrando-lhe as palavras “A terra é o que mais importa, pois é a única coisa que dura."  "É a terra de Tara que te dá força” “Algo que tu amas mais que tudo, apesar de não o saberes…Tara”. Então, recorda-se da lição ensinada pelo pai, e de onde havia retirado toda a força possível para suportar as desilusões que a vida lhe trouxera, bem como de de Tara, a sua fazenda, que agora representava sua família.


Sob a mesma árvore, agora sem o apoio do pai,
porém esperançosa de uma nova vida. 
Então, ao perceber que ainda lhe restava Tara, ergue-se, e, olhando na direção da câmara, parece querer passar uma lição de vida aos espectadores. Ela diz, por fim, que regressará a Tara e arranjará uma maneira de voltar a conquistar Rhett. E o filme termina com a famosa frase “Afinal, amanhã é um novo dia!”, seguindo-se pelo último plano da árvore. É um plano idêntico ao primeiro, já referido. Porém com a diferença que ela não se encontra ao lado do seu pai e a árvore, apesar de não se encontrar carregada, está prestes a florescer novamente. Agora provavelmente em uma outra alegoria esta à sua nova vida. Pois Scarlett havia finalmente compreendido o verdadeiro sentido da vida, e contempla Tara esperançosamente como nunca antes havia feito, resultando num dos planos mais profundos e emocionalmente já filmados.

Com o final do filme não é só Scarlett O'Hara que aprende ou pode tirar lições de vida, ela duramente, mas também o espectador. A lição que afinal a vida vale apena ser vivida. Outra lição importante, a última, e que provavelmente também deverá passar despercebida para alguns, é a que E o Vento Levou repudia de forma veemente o derrotismo. Através da fibra de Scarlett, mostra que sempre há coisas na vida pelas quais se deve e vale a pena lutar, por mais improváveis de acontecer que elas possam nos parecer.


David O. Selznick.
Todos que admiram ou amam o cinema, devem a existência e a grandiosidade de E o Vento Levou a um lendário sujeito chamado David O. SelznickEle foi o grande responsável não só por sua realização bem como pela fidelidade com que os personagens do best seller de Margareth Mitchell foram transpostos para a tela. Megalomaníaco, desde o início Selznick sonhara com um projeto ambicioso para o filme, e trabalhou duro para que ele fosse o maior de todos já produzidos em Hollywood. E foi esse empenho de Selznick que faz de E o Vento Levou até hoje uma referência para a produção de épicos. 


Era filho do produtor Lewis Selznick, um pioneiro da época do cinema mudo, para quem trabalahou como aprendiz até a falência do pai em 1923. Esse trabalho permitiu que ele conhecesse bem cedo os meandros do cinema, e contribuisse também, além de seu enorme talento é claro, para torná-lo um dos mais famosos e respeitados produtores da história. Em 1926, mudou-se para Hollywood usando as conexões de seu pai, e conseguiu um trabalho como editor assistente na Metro-Goldwyn-Mayer. Rapidamente passou a produtor associado. Mas pouco depois, em 1928, mudou-se para a Paramount Pictures, onde ficou até 1931.

Em seguida à Paramount, foi contratado pela RKO como chefe de produção. Esta, porém, foi atingida por graves problemas financeiros, mas não sem antes proporcionar-lhe seu primeiro grande desafio ao permitir que tocasse um ambicioso plano de produção, que incluiu o mítico King Kong (1933). Pouco depois, regressou à MGM, onde produziu alguns sucessos como A Queda da Bastilha e A Vida e Aventuras de David Copperfield, ambos de 1935. Em 1936, funda seu próprio estúdio a Selznick International, que produziria filmes de elevada qualidade como Nasce Uma Estrela (1937), As Aventuras de Tom Sawyer (1938) e  Intermezzo (1939), responsável pela vinda para Hollywood de Ingrid Bergman (1915-1982), a maravilhosa atriz de Casablanca (1942). Ela encontrava-se no auge de sua beleza.  Em 1939, dá-se o momento mais mágico de sua carreira, quando compra os direitos cinematográficos do livro de Margaret Mitchell Gone With the Wind. Em 1939, contrata o cineasta britânico Alfred Hitchcock (1899-1980) com quem manteve uma relação atribulada. Isto porque ambos possuíam personalidades fortes, gostavam de ter o controle artístico dos seus filmes, o que gerava choques frequentes. Em 1940, realizam o grande sucesso Rebecca, pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Filme.

Selznick com Jennifer, na premíere de Duelo ao Sol.
Em 1944, Selznick produziria um filme cuja atriz acabaria por resgatá-lo novamente do solitário universo dos solteirões conduzindo-o pela segunda vez ao altar. Essa proeza coube à bela Jennifer Jones (1919-2009), por quem ele haveria de se apaixonar, e o filme foi Desde Que Tu Partiste. Casou com a atriz em 1949, e passou, desde então, a escalá- la no elenco de quase todos os seus filmes subsequentes. Entre os quais destaco o bom Duelo ao Sol (1946), de King Vidor (1894-1982), possuidor de explêndida fotografia. A última produção de Selznick seria o fracassado remake de A Farewell to Arms (Adeus às Armas), realizado em 1957 por Charles Vidor (1900-1959), e que foi baseado na obra Ernest Hemingway (1899-1961). Charles Vidor foi também no diretor do cult que imortalizou Rita Hayworth (1918-1987), no papel de Gilda em 1946. Selznick venceria em 1940 também o importante prêmio  Irving Thalberg.

Podemos dividir E o Vento Levou em dois momentos distintos, e que, apesar de indiscutivelmente belos e tecnicamente quase perfeitos, possuem também um simbolismo profundo. A primeira, se concentra basicamente em mostrar a decadência de Tara e da família O’Hara. E a segunda no estudo da complexa personalidade de Scarlett, e de sua relação com Rhett Butler e Melanie Hamilton. Tão extenso quanto a obra de Mitchell, que possui 1037 páginas e é famosa por sua clareza, o filme também procurou manter todos os ingredientes, além dos já mencionados, que fascinam o imaginário popular, como aventura, guerra, paixão, traições e turbulência social. Acredito que são estes ingredientes que ajudam a fazer dele um septuagenário tão jovial quanto o era há mais de 70 anos.



Em 1961, David Selznick, Vivien Leigh (1913–1967) e Olivia de Havilland (1916) voltariam novamente a Atlanta. Foram participar das comemorações do Centenário da Guerra Civil. Eles estavam felizes e ao mesmo tempo tristes. Os sinais do tempo, implacável, já eram visíveis em suas faces. Não havia como não perceber como envelheceram e o filme, contudo, mantinha o mesmo frescor de seu lançamento, em 1939, quando lá estiveram para a pré estréia. Os três eram os últimos sobreviventes. Leslie Howard havia morrido em um acidente de avião durante uma missão secreta para o governo britânico. Margareth Mitchell, que nunca escrevera outro romance, morrera atropelada em 1949, em um acidente de carro, ao atravessar uma rua em Atlanta. Clark Gable (1901-1960) tivera um ataque cardíaco no ano anterior, logo após o término das filmagens de Os Desajustados (1960), onde contracenou com Marilyn Monroe.    

Civil War Centenial - 1961

E o Vento Levou foi um filme que despertou muito interesse entre os cineastas e enorme sucesso com o público. Para os priimeiros, pelas inovações técnicas que introduziu na produção cinematográfica  na época; para o segundo, por sua história imortal mesmo considerando seu excesso de cenas  melodramáticas em determinados momentos, nos remetendo às atuais telenovelas, que mostram situações demasiadamente óbvias. Entretanto, o filme conta com o atenuante de ter sido feito há mais de 70 anos. Naqueles tempos, uma época de transição, pode se dizer que o cinema estava em sua adolescência e em franco processo de amadurecimento, e os roteiros ainda precisavam ter uma dose de obviedade para facilitar o entendimento do público.

Quando Selznick, então com 34 anos, resolveu fazê-lo, no verão de 1936, metade da América já estava lendo o livro e sonhando influenciada pelo feitiço de seu romance. Os EUA ainda esperavam pelo fim da Depressão, e torciam para não participar da iminente tragédia que se prenunciava ameaçando a paz, e prometendo trazer crueldade e desespero, companheiras dos conflitos armados. Selznick era um visionário e fez coisas fantásticas na MGM. Na biografia desse homem incomum, cabem perfeitamente muitos adjetivos, entre os quais louco, gentil, charmoso, arrogante e desorganizado.  Era um produtor de filmes em larga escala. Em 1930, casou-se com Irene Mayer, de quem se divorciou em 1948. Ela era filha de Loui B. Mayer (1884-1957), ninguém menos que o magnata da MGM. 

Loui B. Mayer foi um homem que com seu império de teatro expandido, que ele havia adquirido, e suficientemente remodelado em pequenas salas de cinema, foi capaz de mover seu negócio para Los Angeles, em 1918, e se aventurar na produção de filmes. Junto com seus Samuel Goldwyn (1879-1974) e Marcus Loew (1870-1927) da Metro Pictures, ele formou uma nova empresa chamada Metro-Goldwyn-Mayer (MGM).


Loui B. Mayer
Nos 25 anos seguintes a MGM se transformou na "Tiffany dos estúdios", produzindo mais filmes e estrelas de cinema do que qualquer outro estúdio no mundo. Loui Mayer se tornou então o principal criador do duradouro mito de Hollywood, o abrigo de estrelas como Clark Gable, Judy Garland (1922-1969), Joan Crawford (1906-1977), e Jean Harlow (1911-1937). Também se tornou o homem mais bem pago nos Estados Unidos, um dos mais bem-sucedidos criadores de cavalos do país, uma força política e um porta-voz líder de Hollywood. Tanto ele como o MGM atingiram seu auge no final da II Guerra Mundial, e Mayer foi forçado a sair em 1951. Ele morreu de leucemia em 1957.


Sede da Selznick International
Após ir trabalhar para Loui Mayer, obviamente, foi vítima de muitas piadinhas infames. Afinal, ele era genro do homem. Entretanto, por não ser uma pessoa comum, como já dissemos, Selznick não estava satisfeito. Sonhava ter seu próprio estúdio. E ele havia prometido ao pai que uma dia recuperaria o prestígio do seu nome no mundo do cinema, abalado pela falência da Select Pictures, antiga companhia da família. Não antes de passar por vários estágios dentro de alguns dos estúdios de Hollywood. Assim, encontrou um sócio em um dos homens mais ricos dos EUA. Jack Whitney (1904-1987) não era propriamente um homem do show business, mas propiciou a Selznick a coragem e os investidores que a independência exigia. Estava fundada a Selznick International Pictures.

Whithey era descendente de John Whitney, um puritano que se estabelecera em Massachusetts em 1635, bem como de William Bradford, que veio no Mayflower. Seu pai era Payne Whitney, e seus avós foram William C. Whitney e John Hay, ambos os membros do gabinete presidencial. O tio de Whitney, Oliver Hazard Payne, um parceiro de negócios de John D. Rockefeller, organizou a compra de concorrentes do duque para criar a American Tobacco Co.Depois de se formar em 1926, Whitney foi para a Universidade de Oxford, mas a morte de seu pai exigiu seu retorno para casa. Ele herdou um fundo de $20 milhões (cerca de $210 milhões de Dólares por volta de 2005), e mais tarde herdou mais quatro vezes esse valor de sua mãe.
Jack Whitney;

Whitney investiu $870 mil Dólares na sociedade, e ficou como Chairman do Conselho da nova empresaEle investiu também a metade da grana na compra dos direitos para a filmagem de E o Vento Levou. Mais tarde investiu também na produção de Rebecca (1940). Whitney investiu também em vários espetáculos da Broadway, incluindo a de Pedro Arno em 1931, reedição Here Goes the Bride, um fracasso que lhe custou $100 mil Dólares, mas foi mais bem sucedido na vida como patrocinadororEm outubro de 1934, ele viu um artigo na revista Fortune, sobre a empresa Technicolor Corporation, que acabou despertando seu interesse pelas imagens. Whitney havia conhecido Herbert Kalmus, Chairman e CEO da Technicolor Corporation, no Saratoga Race CourseEm 1932, a Technicolor  conseguiu um avanço com o seu processo three-stripMerian C. Cooper da RKO Radio Pictures aproximou-se de Whitney com a idéia de investir na Technicolor. Então eles juntaram esforços e fundaram a Pictures Pioneer em 1933, com um acordo com o RKO para distribuir filmes da Pioneer. Whitney e seu primo Cornelius Vanderbilt Whitney comprou uma participação de 15% da Technicolor.



O Estúdio Selznick no lote dos fundos
da RKO.
Em 1935, David Selznick deu o chamado 'salto'. Foi para um terreno um pouco mais á leste da MGM. Um velho lote da RKO Pathe, que se transformaria em seu estúdio. Ambicioso, queria qualidade: as melhores estrelas e diretores; era controlador. A arrogância, energia e o instinto foram herdados de seu pai, um pioneiro do cinema. 

Não seria de todo errado, afirmar que a epopéia que estamos narrando começou realmente quando Selznick decidiu comprar os direitos de adaptação do romance de Mitchell, em junho de 1936. Quase que simultaneamente ao seu lançamentoEle desembolsou a bagatela de $50 mil, até então a mais alta quantia já paga pela adaptação do primeiro livro de um autor desconhecido. Começava assim, os enormes desafios com os seus incontáveis imprevistos, que a ambiciosa produção iria lhe impor. Quem se acomoda em uma poltrona para assistir ao filme, ignora completamente, ou não faz a mínima ideia, do volume de trabalho e enormes dificuldades para se chegar ao seu resultado. 

Porém, como veremos a seguir, a decisão de Selznick pela compra dos direitos autorais não foi imediata. Ele teve dúvidas no primeiro momento; A história toda iniciou quando Katherine Brown, a assistente e caçadora de talentos de Selznick, recebeu uma cópia do livro da representante da MacMillan,  gestora pela venda dos direitos autorais. Então a assistente, responsável por encontrar material importante para Selznick, achou-o absolutamente maravilhoso e imediataemnte levou-o até ele. Um outro personagem, este o editor de histórias de Selznick, que também havia recebido uma cópia, correu ao escritório de Selznick  e disse-lhe: "Sr. Selznick isso não passa de um monte de lixo. Vai cometer o maior erro de sua vida se tentar filmá-lo." 


Assim, em 25 de maio de 1936, após refletir, Selznick enviaria um telegrama à sua assistente com os seguintes dizeres: "Pensei cuidadosamente sobre E o Vento Levou.  Se contratarmos uma mulher perfeita para o papel principal, possivelmente ficarei mais inclinado a comprá-lo do que estou hoje. Sinto dizer "não" em virtude do seu entusiasmo por esta história."

Como podemos ver pela resposta, mal educadamente Selznick disse a ela que $50 mil por um livro de autor desconhecido era loucura. E perguntou se por acaso ela estava louca. Não, ela responderia. Ela achava que ele era o louco.

Mas, para o deleite dos amantes do cinema, aquela não era uma assistente qualquer. Não, não era do tipo que desistia assim tão facilmente. Com a negativa, ela apelou para Jack Whitney, o sócio de Selznick. Ele disse: "Certo, eu o compro para você, Kay (era como eles carinhosamente a chamavam). Nós o daremos para a Pioneer." Ela então respondeu: "Certo, vamos fazer isso."  Mas é melhor contarmos a Selznick." Então, contaram a ele.

Ela teve certeza que esse foi o motivo para Selznick ter mudado tão rapidamente de ideia. Ele não queria que a Pioneer comprasse os direitos, pois era a outra metade da empresa. Portanto, no dia 6 de julho de 1936 ela recebia a seguinte mensagem de Selznick: "Se conseguir fechar E o Vento Levou por $50 mil, então faça." Ela fecharia o negócio naquele mesmo dia, semana antes da publicação do livro.


George Cukor.
Para um projeto tão ambicioso tudo ganha dimensões homéricas. O primeiro grande desafio foi reduzir as 1037 páginas do livro em um filme gerenciável. E uma decisão foi tomada de imediato: para iniciar o projeto, Selznick chamou para direção seu amigo George Cukor (1899-1983). Cukor que já havia dirigido cinco filmes para ele, incluindo Vítimas do Divórcio (1932) e Jantar ás 8 (1933), foi o primeiro funcionário da Selznick International. Cukor tinha fama de diretor durão que sabia lidar com atrizes temperamentais, e a fama era tão lendária quanto verdadeira. E uma das que mais o xingavam era Katharine Hepburn (1907-2003). Sua receita para o sucesso era "Trate-as como amigas". Como fez com as também muito temperamentais Joan Crawford, Ingrid Bergman e Jean Harlow. Porém, em relação a E o Vento Levou ele não se deu bem com alguns atores do elenco, especialmente Clark Gable, este por puro preconceito.

Em 29 de setembro, três meses após a compra dos direitos autorais, Selznick tratou com Cukor a contratação de Sidney Howard para escrever o roteiro. Neste dia, ele enviaria à sua assistente o seguinte mensagem: "Eu acabei de falar com Cukor. Ele compartilha do meu entusiasmo por Sidney Howard para o filme. Gostaria muito que ele viesse e fizesse o roteiro assim que pudesse. A elaboração do roteiro seria, como vamos ver, um dos maiores responsáveis pelas muitas dores de cabeça que a pré-produção enfrentaria. 


Sidney Howard
Era 1921, a primeira peça de Sidney Howard foi produzida na Broadway. Era um drama em versos neo- romântico definido no tempo de Dante, Swords, não se saiu bem com o público e os críticos. Foi com seu romance realista They Knew What They Wanted, três anos depois, que Howard estabeleceria sua reputação como um escritor sério. O romance foi elogiado por sua visão melodramática de adultério e a abordagem tolerante a seus personagens. O crítico de teatro Brooks Atkinson chamou-o de um drama "terno, original e misericordioso". They Knew What They Wanted ganharia o Pultizer em 1925, na categoria drama. No cinema teve três adaptações (1928, 1930 e 1940) No Brasil foi exibido com o título Não Cobiçarás a Mulher Alheia. Mais tarde tornou-se musical na Broadway com o título The Most Happy Fella. Howard ganhou o Oscar póstumo da Academia de 1939 por Roteiro Adaptado em E o Vento Levou (ele foi o único homenageado pelo roteiro, apesar do fato do mesmo ter sido revisado por vários outros escritores, inclusive o próprio Selznick) Foi a primeira vez que um candidato póstumo para qualquer categoria ganhara o prêmio. Sidney Howard morreu no verão de 1939, aos 48 anos, enquanto trabalhava em sua fazenda. Era um amante da vida rural tranquila, Howard passava tanto tempo em sua fazenda quanto possível. Só se ausentava para ir N. York ou a Hollywood, mesmo assim com relutância como iremos ver à frente. Ele foi esmagado até a morte em uma garagem por um de seus tratores. No momento da sua morte, ele estava trabalhando em uma dramatização da biografia de Benjamin Franklin, de Carl van Doren. 

Na opinião de Selznick, ele e Ben Hecht (1894-1964) eram os dois melhores escritores para filmes. Além disso, não estavam de acordo com os estúdios, e eram raros, por não precisarem receber tudo mastigado ou que se escrevesse a metade dos diálogos."

Howard aceitou a tarefa de escrever o roteiro, com a condição que pudesse trabalhar em sua fazenda em Massachusetts. Era considerado o melhor dramaturgo daquela época. Mas esse era um trabalho muito difícil, que levaria tempo, muito tempo mesmo. E Selznick não era o tipo de chefe mais paciente do mundo. Ele ligava com frequência para sua assistente querendo saber sobre o andamento do roteiro. 


Gable, unanimidade entre o público.
Finalmente, depois de algum tempo o primeiro esboço do roteiro, com 50 páginas, chegava ás mãos de Selznick no Natal de 1936. Nesse momento, o livro já era um enorme best seller e sua autora uma celebridade. O público perguntou se ela via em Gable o seu Rhett Butler, e Mitchell declararia; "Tenho certeza que Scarlett não sofreu tanto durante o sítio de Atlanta quanto eu sofri durante o sítio que foi minha vida desde o dia da publicação." Margareth se negou a participar da elaboração do roteiro, afirmando que sua ligação com filme havia acabado no instante que vendeu os direitos de filmagem.  

A escolha da atriz, porém, para o cobiçado papel de Scarlett O'Hara foi, ao lado do roteiro, um dos vários e grandes desafios enfrentados pela produção, e que deu um bocado de trabalho. As notícias sobre a pré-produção atraíram tanto a atenção dos norte-americanos que, em 1937, uma rádio decidiu realizar um concurso para saber quem faria o papel de Scarlett. O elenco do filme se tornara uma obcessão nacional. Foram, por ordem, seis as atrizes que receberam o maior número de votos: Bette Davis (1908-1969) em primeiro, Katherine Hepburn em segundo; seguidas por Miriam Hopkins (1902-1972), Margaret Sullivan (1909-1960), Joan Crawford (1906-1977) e Barbara Stanwick (1907-1990) em sexto.   

 As seis mais bem colocadas do concurso, pela ordem: Bette, Katherine, Miriam, Margaret, Joan eBarbara.
A escolha, entre as divas, transformou-se numa desgastante queda de braço em Hollywood. Ao final, após os testes, todas acabaram descartadas, uma a uma, sem a menor cerimônia. Selznick, não enxergou em nenhuma delas a heroína aristrocrática sulista que procurava. Ele tinha plena consciência da importância da escolha certa para o desenvolvimento do personagem de Scarlett, e não estava disposto a cometer erros. 

A revista Vogue também resolveu entrar na brincadeira, divulgando um esboço da Scarlett ideal com fotos das primeiras concorrentes. As cartas enviadas pelo público chegavam aos milhares. Nelas 121 atrizes foram recomendadas. 


Iniciou-se, em paralelo, pelos realizadores, uma ação neste sentido. Selznick contratou um sujeito chamado Russel Juarez Birdwell, reporter do Hearst Newspapers, que sabia como ninguém escrever uma manchete e impulsionar uma história.  Assim, o assunto se tornou uma mania. Quem fará Scarlett O'hara? Birdwell foi responsável por uma procura nacional e, já que todas as mulheres de qualquer idade, principalmente as jovens, na época se viam como Scarlett, a busca se tonou um verdadeiro alvoroço.


Em novembro de 1936, a assistente de Selznick realizaria a primeira de três longas buscas por talentos no Sul. Viajou por várias cidades em busca da Scarlett idealizada por Selznick. Em cada cidade aparecia uma multidão de candidatas. Apenas em Atlanta, em uma audição aberta, havia pelo menos umas 500 candidatas. Enquanto isso, em Hollywood todas as mulheres com alguma altura também se viam como Scarlett, e os testes seguiam infindáveis. A produção entrevistou mais de 1400 atrizes desconhecidas, sendo que mais de 400 delas chegaram a fazer leitura do roteiro. Um trabalho insano. Ao final da maratona, não prevaleceu nem uma coisa nem outra. A intérprete seria encontrada por obra do acaso acaso.

David Selznick era um gênio da publicidade. Ele sabia que a busca por Scarlett seria uma grande distração e um jeito de manter o interesse do público pelo filme. Filme para o qual ele ainda não tinha orçamento, roteiro e muito menos a coragem de fazer. Se ele não conseguia achar sua Scarlett, e quanto ao Capitão Rhett Butler?


Os principais candidatos da direita para a esquerda: Ronald Colmam, Errol Flynn , Gary Cooper e Clark Gable, o preferido do público.
Para o papel do almofadinha sem princípios Reth Buttler, um negociante que se aproveitou da guerra para enriquecer, Selznick cortejou e tentou seduzir Ronald Colman (1891-1958), Errol Flynn (1909-1959) e Gary Cooper (1901-1961), mas, nesse ponto, o público era unânime. Só havia um homem capaz de encarnar Rhett Butler. Todos que leram o livro estavam convencidos de que o papel teria que ser de Clark Gable. 

Ele era a sensação do período de ouro de Hollywood, e o astro número "um", o ator mais rentável da Metro, ou seja, a estrela de maior de bilheteria. E não era hábito do estúdio sair emprestando sua melhor mercadoria. Portanto, foi um grande constangimento para Selznick saber que só poderia tê-lo se implorasse a Loui B. Mayer, seu sogro, e ainda se pagasse uma fortuna.

Nessa altura dos acontecimentos, Selznick ainda tinha esperanças que o filme fosse feito por $1,5 milhão e que conseguiria fazê-lo sem a ajuda de seu sogro. No final de fevereiro de 1937 Sidney Howard entregava o primeiro rascunho do roteiro. Ele tinha cinco horas de duração.Teria que ser cortado com certeza. E Haoward, relutantemente, concordou em ir a Los Angeles para as revisões. Apesar da obviedade de algumas situações e dos momentos melodramáticos já mencionados, o roteiro de Howard continha bons diálogos. Entre eles destacam-se os envolvendo Scarlett, sempre egoísta e mimada, e Butller, sempre sarcástico. O diálogo dos dois na biblioteca, por exemplo, após a declaração de Scarlett para Ashley, sem que ela tenha notado a presença de Butller deitado atrás no sofá é de refinado humor. Na sequência da cena, com o negativa de Ashley, ela joga um vaso contra a parede e Rhett se levanta fazendo a pergunta: "The war start?" Começava assim o tumultuado relacionamento entre os dois.     

Howard chegou para as revisões em 1º de fevereiro, para descobrir que Selznick estava totalmente preocupado com outras questões. Passado duas semanas, Howrad enviaria uma carta à sua esposa com os seguintes dizeres: "Esse sujeito, Selznick, nasceu sem saber como organizar seu tempo." Envolvido com as filmagens de O Prisioneiro de Zenda (1937), só em julho Selznick, finalmente, voltaria suas atenções para o roteiro juntamente com Cukor e Howard. Assim, em 15 de agosto ele tinha um novo rascunho, porém 15 páginas maior que o original. Estava ficando claro para Selznick que este não seria um filme comum, mas dois filmes gigantes juntos.  Aquilo estava exigindo um planejamento  a longo prazo.


William Cameron Menzies
Foi nesse instante que Selznick tomou uma decisão fundamental para o destino do projeto. Ele contratou William Cameron Menzies (1896-1957), como designer de produção. Menzies era um gênio. Assim como Fritz Lang (1890-1976), ele também estudou arquitetura. Entretanto, a diferença entre os dois foi que Menzies estava mais preocupado com o aspecto visual dos filmes do que com seus conteúdos. Daí seus cenários futurísticos para o filme Daqui a Cem Anos (1936), dirigido por ele, e os panoramas dramáticos que criou para E o Vento Levou. Uma de suas grandes contribuições para o projeto, está na sequência que Scarlett caminha entre os corpos de sobreviventes da batalha de Gettysburg, como será detalhado mais à frente. Porém, odevaneios de Menzies podiam custar caro. Consta que um memorando de Selznick lamentava o fato dele ter passado um ano analisando ideias gráficas para o filme. Mas o resultado foi fantástico. 

A verdade é que Selznick precisava de alguém com o talento e a experiência de Menzies nos cenários e na sua produção. Seu trabalho permitiu economizar algumas centenas de milhares de Dólares. Menzies elaborou um roteiro completo em quadrinhos. O visual do filme como um todo era ditado pelos storyboards de Menzies (exemplo na imagem  logo abaixo), Os desenhos davam uma ideia de como o resultado final dos cenários, dos personagens e dos figurinos ficaria. Ele desenhou cada encenação, e os desenhos sugeriam o fluxo e o jeito de cada cena.

Os storyboards de Menzies fazem parte de um planejamento cuidadoso. Acima estão alguns referentes à sequência da queima de Atlanta, realizado no lote dos fundos da MGM.  
David Selznick e E o Vento Levou, são fundamentais para a história do design da produção cinematográfica. Foi Selznick que criou o título de "Designer de Produção" para Menzies. O filme teve as primeiras cenas de ação na história do cinema a ser inteiramente criadas por storyboards. Assim, enquanto os designers de produção eram, originalmente responsáveis somente pela concepção cênica, Menzies influenciou todo filme, incluindo cores, iluminação, composição e movimento de câmera. Sua conquista lhe rendeu um Oscar Especial, pelo excelente desempenho no uso das cores para a aumento da dramaticidade no filme. 


O vestido cor de vinho da mulher escarlate.
Menzies incorporou várias paletas de cores no filme para destacar visualmente as diferenças entre as primeiras cenas 'antebellum' do filme, e as seqüências após a Guerra Civil, o sombrio período de reconstrução. Menzies muitas vezes exaltou a personalidade impetuosa da heroína com tons vermelhos, como nos seguintes exemplos: a fuga de Atlanta por Scarlett, que é iluminada pelos edifícios em chamas ao seu redor; o céu ardente ao fundo em sua desafiante delcaração que "nunca passará fome novamente"; o vestido de baile cor de vinho, marcando-a como a mulher escarlate, que ela usa para festa de aniversário de Ashley, depois de ser pega abraçando-oSâo detalhes assim que, somados a outros tantos atributos já anteriormente mencionados, contribuem para a grandeza de E o Vento Levou, e que continue há mais de 70 anos encantando gerações após gerações. Fazem também dele objeto de estudos, teses, livros, homenagens e permaneça tão cultuado e fascinante quanto o foi na época de seu lançamento. É uma obra única, que parece imune aos 'carunchos' do tempo, pois nada o faz envelhecer.


Arquitetura típica da Georgia, que serviu
de inspiração para criação de uma
Tara apimentada. 
Em E o Vento Levou, Selznick também aplicou um velho hábito que virou regra em Hollywood, a de filmar no lote de trás do estúdio. Além dos muitos cenários construídos foram utilizados vários truques fotográficos, tão criativos quanto inovadores, que criaram a ilusão da história ter sido filmada no Sul. Na verdade, Selznick nunca havia visto o Sul até o dia da estréia do filme, quando foram a Atlanta. Mas Cukor e sua equipe sim, foram até lá para conhecer Margareth Mitchell, tirar fotos, dar uma olhada no lugar e trazer de volta não só o conhecimento (ideias), mas também o visual e o sabor do Sul para a Califórnia. 


Interiores de fazer inveja a qualquer fazendeiro
Eles contrataram William Kurtz, um historiador da Georgia, amigo de MargarethMitchell. Ele aceitou trabalhar com Menzies e Lyle Wheller (1905-1990), Diretor de Arte, no desenho e na construção do velho Sul, no lote de trás do estúdio, de modo a satisfazer tanto a precisão histórica quanto a magia de Hollywood. Twelve Oaks, por exemplo, é pura ficção, pois nunca existiu um lugar assim em Clayton County. No entatnto, os escritores exigiram ao menos um vestígio do tradicional luar e da atmosfera do velho Sul. Daí aqueles maravilhosos interiores e a atmosfera  de opulência que fariam um fazendeiro de Clayon County ou de qualquer outro lugar, que tenha bom gosto, esfregar os olhos . E quanto a Tara, eles ouviram atentamente a explicação de Wilbur Kurtz sobre arquitetura rural na Georgia do Norte. Mas, já que Tara também era pura ficção, eles decidiram que a sede da fazenda deveria ser um pouco apimentada.               

No começo de 1938, já havia se passado um ano inteiro desde que Sidney Howard apresentara seu primeiro roteiro. Selznick finalmente estava pronto para a difícil tarefa de enxugá-lo. Um trabalho frustante e os principais papeis ainda não haviam sido encontrados. Nessa altura, Selznick recebia uma mensagem de Cukor dizendo que ele parecia ter testado meio mundo, não se lembrando de alguém que não tenha feito testes.



Bette Davis em sua história que também tem o Sul como palco,
na N. Orleans do século XIX. Igualmente um interessante retrato 
sobre os costumes da época. 
Os testes para encontrar a intérprete de Melanie também foram frustantes. Nenhuma das candidatas impressionou. Mas uma Scarlett havia ficado na cabeça de Selznick: era Paulette Goddard (1910-1990). Ao mesmo tempo, em outro ponto da cidade, outra atriz fazia um teste ainda mais extenso e real, ao participar de um filme inteiro. Era Jezebel. Era março de 1938, quando a Warner finalizava seu próprio romance sulista, estrelado por uma das favoritas para o papel de Scarlett: Bette Davis. Sua atuação mexeu com a cabeça de Selznick. Tanto que em 8 de março ele enviava uma mensagem (carta) para Jack Warner (1892-1978), com os seguintes dizeres: "Prezado Jack, o filme inteiro está permeado de caracterizações, atitudes e cenas que, infelizmente, lembram E o Vento Levou." Jack Warner respondeu imediatamente, agradecendo a David por seu interesse. 

O tempo foi passando e até julho de 1938 Selznick já havia torrado quase $400 mil em direitos, escritores, testes e preparação, sem ainda ter sua Scarlett, Rhett e nenhum roteiro. satisfatório  Ser seu próprio patrão estava ficando caro para Selznick.

No final de maio, Selznick enviou uma mensagem a Jack Whitney dizendo que L.B. (como seu sogro també era tratado) havia ligado para sugerir que a MGM estaria interessada na compra imediata do filme, junto com os serviços dele, Selznick, como produtor, com uma quantia substancial a ser considerada. Os lucros seriam tão atraentes que "sinto que o risco é pequeno". Eu não gosto da ideia de ver a nossa empresa não fazendo o filme, completava Selznick: "Eu devo analisar a discussão dos dois lados. Se fizermos o filme, meu cabelo ficará branco; se eu vender para a Metro, meu cabelo só começará a ficar cinza."    


Selznick, jogador compulsivo 
como o pai.
Desta vez Selznick, um jogador contumaz, não pode decidir se faria a grande aposta: fazer o filme ele mesmo, ou vendê-lo à MGM. Resolveu pedir ajuda a Jack Whiteney. David havia apelidado-o de "coração forte". Mais uma vez, foi Whitney que estudou a jogada e agora tinha a resposta: "Vá em frente. Porque começamos se não estávamos prontos para fazer?" Uma nova rodada muito arriscada do jogo começou. Mas Selznick ainda precisava de mais dinheiro se quizesse fazer o filme. Precisava de um Rhett, e o público exigia Gable. Assim, ele começou novas negociações com a MGM.  A Warner Bros. começou a negociar também. Eles ofereceram Errol Flynn, Bette Davis e um acordo financeiro mais generoso do que a Metro. Mas Bette Davis já tivera sua dança sulista em Jezebel, que lhe rendera um Oscar. E Flynn era apenas uma pálida sombra de Gable. 


Viu como fui trouxa!
Em agosto de 1938, o jogo chegaria ao seu climax. A MGM emprestaria Gable e forneceria metade do orçamento de até $1,250 milhões. Em troca, teriam a distribuição mundial e metade dos lucros do filme por 7 anos. Era um momento decisivo. Dessa vez, Selznick ganhou a rodada. Mas a MGM ganhou também. E o Vento Levou foi a diferença entre o lucro e o prejuizo, durante o período de vacas magras que viria. Gable achou que foi o grande perdedor. Não queria fazer o filme, pois o assustava e fora negociado como gado. Então, L.B. melhorou o acordo para ele. Seu contrato foi assinadono no dia 24. 

Selznick agora tinha pela frente um prazo limitado. As filmagens deveriam começar em janeiro de 1939. Assim, ele ficou um mês nas Bermudas para tentar terminar o roteiro. A difícil tarefa exigia novamente a ajuda de Sidney Howard. Esse disse que não iria às Bermudas, e que escreveria em sua fazenda. Então, Selznick chamou Jo Swerling (1893-1964), que havia acabado de escrever Nascidos para Casar (1939). Era alguém para discutir e para datilografar. Mas ao voltar das Bermudas já estava pedindo outro escritor: "Quero o escritor de diálogos para E o Vento Levou na minha chegada a Nova York. Não me interessa Sidney Howard. Entendo que a peça de Oliver Garret foi um terrível fiasco. Então, deve ser possível comprá-lo barato." Garret foi contratado, e começaram uma revisão substancial do roteiro, enquanto voltaram a Hollywood onde a favorita para Scarlett, finalmente, estava surgindo.     


Paulette, a atriz que impressionou Selznick.
Em situações análogas, é natural haver boatos. E eles eram muitos. Corria um, que Paulette Goddard, que fizera testes há um ano para o papel, havia assinado contrato com Selznick. Outro, dizia que um executivo da Selznick International, informara que a srta. Goddard fora escalada em definitivo para o papel, e que uma confirmação oficial seria feita em duas semanas. Selznick, afirmava: "Eu vi o teste de Paulette Goddard contracenando com Jeffrey Lynn (1909-1995), e achei que houve enorme melhora no trabalho dela, tanto que a achei ainda uma candidata muito forte a filmar Scarlett. Por outro lado, não fiquei nem um pouco impressionado com Jeffrey Lynn, e acho que não deveríamos escalá-lo como como Ashley." Nesse momento, a onda de boatos voltava com força repetindo o que já havia rolado há três semanas, que Paulette Goddard era a favorita para o papel de Scarlett.. A segunda opção seria Katherine Hepburn, que esteve no páreo desde o começo. 

Sobre ela Selznick afirmaria: "Hepburn tinha duas coisas coisas contra ela. Primeiro, o inquestionável e amplo desgosto do público para com ela no momento. E, segundo, o fato de que ela ainda não provou que tem a sensualidade que, provavelmente, é o requisito mais importante de uma Scarlett. Só o que precisamos fazer é reunir um elenco completo com gente como Hepburn e Leslie Howard e teremos um filme adorável para ter sido lançado 8 anos atrás."              
     
A imprensa continuava a dar espaço ao filme. Uma rádio voltaria com a manchete: Bette Davis, Carole Lombard, Margareth Sullivan e as outras candidatas agora estão fora do páreo. Hoje, um azarão apareceu no fundo quando os testes de Lana Turner (1921-1995), uma jovem atriz da MGM, foram feitos no set fechado, contracenando com Melvyn Douglas (1901-1981).

Selznick diria: "Eu vi o teste de Lana Turner e Melvyn Douglas. Achei Turner completamente inadequada. Jovem demais para entender o papel. Temo que devamos esquecê-la. Acho que Douglas ofereceria a leitura mais inteligente de Ashley qie vi. Mas, quanto ao tipo, é totalmente errado. É muito forte fisicamente. Isso torna a questão de Leslie Howard ainda mais vital e urgente." 


Paulette com Chaplin em Tempos Modernos.
Quanto a Paulette, ele voltaria a afirmar: "Vi o teste de Goddard, o que ela fez com Jeffrey Lynn, praticamente todos os dias desde que cheguei. Posso dizer que cada vez que vejo fico mais impressionado. O maior volume de trabalho possível deve ser feito com ela."  

Paulette Goddard era uma atriz pela qual Charlie Chaplin (1889-1977) se apaixonara e que estrelpara em Tempos Modernos (1936). Ela era a favorita. Uma amiga de Selznick, Cukor e Jack Whitney. Era uma garota muito alegre, ria muito. Vivia com Chaplin, em frente a casa de Selznick, e Hollywood presumia ou achava que ambos eram casados. E se  não fossem? Paulette poderia ser Scarlett na tela e na vida? 

Para nós que já vimos o filme, temos hoje uma grande vantagem.  Mas tentemos imaginar como estava a cabeça de Selznick na época. Depois de dois anos de muito barulho e uma busca por todo o país, quem ele acaba colocando como Scarlett? A própria vizinha. A cabeça do homem deveria estar parecida com um vulcão. Poderia, realmente, Paulette fazer o papel? Selznick escrevia bilhetes desesperados, tentando se convencer de que sim, mas o que ele precisava naquele momento era de algo que nenhum bilhete, charme ou dinheiro poderia conseguir: um milagre.

Quem seria essa garota?



Beleza vinda de um convento Inglês;

Produto de um convento inglês, o milagre havia nascido na Ìndia no seio de uma família inglesa rica. Criada para uma vida de lanches comportados em picniks ao ar livre, seu nome era Vivien Leigh. Ela era tímida com as câmeras. Mas, às vezes,  a timidez pode ser uma máscara para as necessidades de fingir. Naquela época ela estava com 21 anos e não era uma atriz de muito sucesso. Em 1935, fez muito sucesso numa peça chamada The Mask of Virtue. E, quando ela leu E o Vento Levou, no ano seguinte, ficou convencida de que o papel de Scarlett fora escrito para ela. Sentia-se como Scarlett, desejosa de seguir seu próprio caminho. Assim, começou a trabalhar para obter o papel sem saber as poucas chances que tinha. Charles Morrison, um olheiro de Selznick, a recomendara em fevereiro de 1937. "A srta, Vivien Leigh em Fogo Sobre a Inglaterra (1937) é uma das maiores promessas  ao estrelato, que vi ultimamente." Selznick viu um rolo de Fogo Sobre a Inglaterra, mas não conseguiu enxergar, desculpem o trocadilho, o fogo, este sob o vestido elizabetano dela.


Ela se apaixonara por Laurence Olivier (1907-1989), seu pai em Fogo Sobre a Inglaterra, e largou o marido e a filhinha pequena para viver com ele. Em 1938, Olivier foi à Hollywood trabalhar para Sam Goldwyn (1987-1974), o Goldwyn do "G" da MGM,. Vivien Leigh tinha um agente em Londres, mas, secretamente, também assinou com o agente norteamericano de Olivier. Ninguém menos que Myron Selznick. Então ela tira uma foto, no que imaginava ser o visual mais persuasivo de Scarlett O'Hara, e envia-a para a América. Ainda assim, nada aconteceu. No outono de 1938, ela embarca no Queen Mary e cruza o AtLântico em direção a N. York. Na viagem, ela relê o livro e memoriza algumas fals de Scarlett. Chega na Big Apple no início de dezembro e, então, pega um avião rumo a Califórnia. Vivien foi acompanhando o marido, que filmaria O Morro dos Ventos Uivantes (1939), mas certamente com o pensamento em Scarlett.

Então, ela se apresentou a Myron. Ele a olhou e deve ter pensado: "Huuummm! Talvez." 

Seria uma grande piada e um presente surpreendente para David, diria Myron mais tarde. Então, ele pergunta a Vivien: "Gostaria de ir a um incêndio?"

O lote dos fundos do estúdio tinha 40 acres.e estava entulhado de cenários de filmes antigos: King Kong (1933), O Rei dos Reis (1927) e O Jardim de Alá (1936). Portanto, a área precisava ser limpa para dar espaço à construção dos cenários de E o Vento Levou. Então, Menzies e o Gerente de Produção, Ray Klone, tiveram a ideia de botar fogo no velho para dar lugar ao novo, e filmar a sequência do incêndio de Atlanta. Lee Zavitz (1907-1977), dos efeitos especiais, infelizmente não creditado, construiu um sistema elaborado de canos para bombear óleo e água por todo o cenário, para que as labaredas pudessem ser controladas, aumentando ou diminuindo conforme a necessidade.                       
A cena do incêndio:  à esquerda sem os dublês e a carroça;  e à direita adicionados mais tarde pelo pessoal de Jack Cosgrove.
Finalmente, após muitas preparações, as câmeras começaram a filmar o incêndio de Atlanta. Era 10 de dezembro de 1938. Naquela época existiam somente 7 câmeras Technicolor em Hollywood, e todas foram utilizadas nas tomadas do incêndio. Parecia que todo o fundo dos estúdios estava em chamas. Ao ver a luz do incêndio refletida nas nuvens baixas, a população de Los Angeles se assustou. Com isso, a cia telefônica passou por maus momentos, com todos ligando para saber onde era o incêndio. Outros tantos ligaram para os bombeiros achando que a MGM estava em chamas. 

Dois personagens atuavam incógnitos, enquanto as chamas subiam> Eram dublês. Rhett foi substituído por um adestrador de cavalos, e a jovem que nos enganou, para que pensássemos ser Scarlett, contorcia-se no calor intenso encobrindo seu rosto, por medo que algum crítico com olhos de lince percebesse que ela era diferente da futura Scarlett O'Hara. Mais tarde, eles foram adicionados à frente do incêndio pelo pessoal dos efeitos especiais. Foi Menzies que desenhou e dirigiu esta grande sequência. Cukor, Selznick e seus convidados apenas assistiram e se deleitaram.  



Entre os visitantes presentes ao set estava Myron Selznick. E foi durante o incêndio que ele foi até seu irmão e disse: "Ei, gênio, quero que conheça a sua Scarlett O'Hara." E apresentou Vivien Leigh a Selznick. Parecia, naquele instante, que tudo estava se encaixando. Ali estava uma garota encantadora e linda, disse Cukor: "O que acha dela?" Mais tarde, com Cukor, ela fez uma leitura muito inteligente de parte  do roteiro. Infelizmente, por mais que procurasse, não foi possível encontrar fotos registrando o histórico momento do encontro no set, entre Selznick e Vivien, durante as filmagens do incêndio. Fato que considero uma lástima do ponto de vista histórico. As úincas palavras pronunciadas foram por Selznick: "Eu apresento a escarlata O'Hara.... Ela está com a gente!" Provavelmente, pela cor do incêndo refletido nas faces dela.

Na manhã seguinte ao incêndio, Selznick escrevia para sua esposa em N. York: "Fiquei muito animado com a sequência do incêndio. Foi uma das maiores emoções que tive atrás das câmeras. Primeiro, por causa da própria cena e, depois, por causa da assustadora mas importante visão de E o Vento Levouem andamento. Myron apareceu com Larry Olivier e Vivien Leigh. Ela é o grande azarão de Scarlett e muito bonita. Vamos fazer os testes finais esta semana." O contrato seria assinado no mesmo mês de janeiro.

Anos depois, a secretária de Selznick diria para um documentário sobre o filme: "Ela incorporava perfeitamente a personagem que estávamos procurando pelo mundo." Qualquer um que visse de perto essa garota sentia o calor dela . Tinha uma intensidade e vivacidade que não havia sido visto, até então,   

No Natal, Vivien ficou sabendo que ela faria o papel. 

Então, o tão esperado janeiro de 1939, enfim, chegara. As filmagens deveriam começar até final do mês. A epopéia que havia se transformado a produção de E o Vento Levou começa, finalmente, a tomar corpo. Agora, a definição dos demais papéis passou a  ser imperativa. Selznick finalmente resignou-se à ideia de que o ícone das matinês inglesas, Leslie Howard seria a melhor opção para interpretar Ashley, o fazendeiro bobalhão e vizinho, de 25 anos, dotado de toda honradez que um sulista podia ter. Um caráter oposto ao de Buttler, que gosta de farras com mulheres, ternos vistosos, muita grana no bolso e que passa o filme inteiro jogando seu charme prá cima de Scarlett. 


Ashley, herói íntegro porém bobalhão. 
Leslie, nem tanto. 
Seria nosso querido Ashley Wilkes um refinado espião, a serviço de sua Majestade? Pois é, Leslie Howard teve também um papel na história do Velho Mundo, por suas contribuições como agente do Governo Britânico, durante a Segunda Guerra. Pelo menos, é o que diz um livro sobre o artista. Trata-se de O Vôo de Ibis, do espanhol José Rey-Ximena, que mistura a biografia do autor, que também trabalhou em filmes como Intermezzo, com a pesquisa feita pelo autor ao longo de mais de duas décadas.Howard passou a infância em Viena, falava alemão e tinha consciência do perigo representado pela ascensão de Adolf Hitler ao poder. Por esse motivo, participou ativamente da resistência britânica, fazendo filmes e incentivando os ingleses a enfrentar a invasão alemã em uma guerra que, em vários momentos, parecia perdida para seu país.

Ele faleceu em 1º de junho de 1943, quando o avião que o levava da Espanha para o Reino Unido, o Ibis, foi derrubado por caças nazistas. Howard retornava a seu país após uma viagem de mais de um mês pela Espanha e Portugal, supostamente fazendo palestras  para a guerra sobre Hamlet (para quem quizer acreditar), uma possibilidade improvável, para não dizer impossível, segundo Rey-Ximena, devido à importância de Leslie e ao momento tão crucial para a guerra, vivido na época. Suspeita comprovada pelas várias cartas entre Howard e Anthony Eden, então Secretário de Dehesa do Reino Unido, revelam que o ator foi enviado à Espanha por vontade do Governo, para cumprir com os esforços de guerra britânicos.



Greta Garbo espanhola.
Mas que tipo e importância de missão seria confiada a Howard, que o vitimou pelas forças nazistas? A resposta somente foi possível ser conhecida por causa da atriz Conchita Montenegro, considerada a Greta Garbo espanhola dos anos 30. Ela teve um caso com Howard quando atuaram juntos em Never the Twain Shair Meet (1931, que serviu, mais tarde, para aproximação entre Howard e o ditador Francisco Franco, supostamente para falar de um projeto cinematográfico sobre sobre Cristóvão Colombo. O que na verdade tratou-se de um pacto. Através dele a Espanha se manteria neutra na guerra, em troca do reconhecimento do regime de Franco por parte dos aliados ao fim do conflito, conforme depoimentos de Conchita, que morreu em 2007. Esta é a descrição de Leslie Howard feita por Rey-Ximena, como sendo um ator intelectual e típico gentleman inglês. Como vemos, o oposto do personagem bobalhão que foi Ashley, e que deixou Hollywood no auge de sua carreira para dar a vida por seu país.       


Leslie, rejuvenescido, ao lado de Scarlett.
Para tornar Howard tão jovem quanto seu personagem Ashley Wilkes, foi necessário usar a magia da maquiagem. Para mim, tanto as mulheres como o cinema, deveriam agradecer muuuuito a Max Factor (1887-1938), por ele ter existido! Este russo que emigrou para os EUA, é considerado o pai da maquiagem moderna. Ele foi o homem que maquiou Hollywood, e a quem a expressão "mudou a face da história" cabe como uma luva. A maior parte das maquiagens modernas foram criadas por ele. Entre elas o corretivo, gloss, cílios postiços, lápis de sobrancelha, delineador, lápis para lábios, embalagem de máscara para cílios com bastão próprio, pan Stich e, claro, não posso esquecer falar do pancake. Esse ultimo, um dos muitos responsáveis pela fama adquirida por ele. Foi Max Factor que primeiro utilizou o termo “makeup”, além de também criar o conceito da harmonia de cores na maquiagem, se preocupando em realçar cada tom  de pele, cabelo e olhos com uma cor específica de maquiagem. Quando faleceu aos 66 anos, este gigante de pouco mais de 1,50 metro, pintar os olhos, faces e boca deixara de ser um privilégio das atrizes e das mulheres suspeitas. 

Max Factor maquiando Jean Harlow.
No caso de Leslie Howard é possível notar a maquiagem colorida usada ao redor dos olhos, para atenuar sua idade. Leslie tinha 46 anos na época. Foram necessárias muitas tentativas com maquiagem e tintura para rejuvenescê-lo. Ashlei poderia parecer mais velho na segunda metade do filme, mas, nas primeiras cenas, ele deveria parecer tão jovem quanto Scarlett, e romântico. Leslie, desde o início, assim como Clark Gable, estava relutante em atuar em E o Vento Levou. E chegou a dizer: "Se me colocarem naquelas roupas sulistas colonial eu vou parecer porteiro gay do Beverly Wilshires. Não façam isso comigo. Eu não quero esse filme." O único jeito que Selznick encontrou para convencê-lo a aceitar o papel foi prometer-lhe algo que tinha sido um sonho por sua vida inteira, isto é, ele se tornar produtor. Leslie Howard nunca lera o livro e também nunca lera nada de nenhuma outra personagem do fllme. Entretanto, ele sabia exatamente o que teria que dizer em cada cena. 


A má, a boa e o bobalhão. Contratos finalmente assinados.
Olívia de Havilland (1916-) era, havia algum tempo, a primeira opção de Selznick para o papel de Melanie Hamilton. Ela, entretanto, estava sob contrato da Warner, que não queria emprestar suas estrelas. Foi apenas por um pedido pessoal dela à esposa de Jack Warner (1892-1978), que foi liberada para o papel. Assim, três dos quatro atores principais assinaram os contratos, e o comunicado à imprensa se deu em 13 de janeiro de 1939. 


Bebendo em intimidade.
A Hollywood de Hedda Hopper (1885-1966), anunciava na época: "O sr, Selznick levou dois anos para escolher uma Scarlett, e, entre milhões de americanas não conseguiu encontrar nenhuma que fosse adequada. Isto denigre todas as desse país. Tenho certeza de que milhões delas passarão longe do filme, em um gesto de protesto." Para felicidade de seus realizadores, as americanas compareceram em massa aos cinemas, ignorando a exortação da revoltada srta. Hopper, e, no Sul, arrematavam: "Antes uma inglesa do que uma ianque." 

Hedda Hopper foi uma colunista social, durante a primeira metade da década de 1900. Ela possuia intimidade para beber com os maiores e mais brilhantes personagens de Hollywood, para escrever sua coluna "Hollywood de Hedda Hopper", e era conhecida por usar chapéus incrivelmente ultrajantes. Ela foi também uma atriz de cinema mudo e personalidade do rádio.

Enquanto isso, as coisa estavam acontecendo para E o Vento Levou. Uma delas, era que Walter Plunkett (1902-1982), brilhante e talentoso figurinista, desenhava mais de 110 costumes só para os quatro papéis principais, sem contar os demais. Costumes, que, a esta altura, estavam sendo provados diante das câmeras Technicolor. 

Desde O Nascimento de Uma Nação (1915), ninguém conseguia se lembrar de mais nada que tivesse atingido tanto, os EUA e o mundo, como esse livro conseguiu. Não importa o que e onde fosse em qualquer cidade, as pessoas liam e choravam em cima do livro. Os ecos de O Nascimento de Uma Nação, com suas notórias cenas da Ku Klux Klan eram pouco tranquilizadoras para o público negro. E em E o Vento Levou, os atores negros aceitaram os papéis em clima de desaprovação.  Houve um período muito difícil para a imprensa, negra, que também ameaçou um boicote ao filme por medo de racismo. 


Hollywood pior que Hitler. Sob pressão, a palavra "preto" (nigger) foi eliminada do roteiro e Selznick apagou todas as referências à KKK. De acordo com sua cabeça e com os padrões da época, ele tentou honrar o ponto de vista dos negros. Conforme um "memo" enviado a Jack Whtiney: "Prezado Jack, eu fui radical durante a preparação e escolha do elenco, para evitar qualquer alusão pejorativa aos negros como raça ou indivíduos, e eliminar as principais coisas da história que, aparentemente, fossem ofensivas aos negros  no livro de Margareth Mitchell. Sinto tão profundamente o que aconteceu aos judeus (lembro que Selznick era descendente de judeus) no mundo, que não pude evitar de me compadecer com os negros em seu medo de ver algum material ofensivo ou prejudicial." 

E o filme seguia em frente. Nesse momento, Selznick levou mais tempo e teve mais problemas moldando o visual e o sotaque de Vivien Leigh, para atender sua visão de Scarlett. Para atender essa visão, ela chegava regularmente até às 9h30, cada manhã, para trabalhar pelo menos duas horas no sotaque. Em seguida fazia os ajustes, depois ensaiava com Cukor e fazia os testes de fotografia necessários. Selznick, receoso das convenções sociais da época decidiu que Vivien e Olivier não viveriam juntos durante as filmagens.  Ele queria que sua Scarlett fosse a bela e a virtuosa do Sul. 



Em 21 de janeiro chegava a vez de Clark Gable iniciar seus testes. Rolou uma informação, vinda da MGM, que Gable se recusava veementemente a ter qualquer tipo de sotaque sulista. Ele estava inflexível em sua posição de nunca mais fazer um filme de época. Gable havia feito Parnell, o Rei Sem Coroa (1937), que foi um terrível fracasso. Fato que sempre o deixara constrangido. Segundo Gable, sua razão por não querer fazer o filme, era porque tratava-se de um romance dos mais vendidos de todos os tempos. E as pessoas já haviam formado opinião sobre as personagens e decidiram que ele deveria atuar. Segundo ele, o público tinha uma ideia preconcebida do que queriam ver. Era, por isso, que ele não queria fazê-lo. Haviam pessoas demais que conheciam a personagem. Então ele disse: "Mas, Deus, com Rhett Butler, se vissem qualquer coisa de que não gostassem, se lembrariam do livro. Eu sabia que tinha que ficar alerta." 



Com o final das preocupações com o elenco,  a revisão ficou mais intensa. Selznick teve uma sucessão de novos escritores. Edwin J. Mayer (1896-1960), John Van Dreton (1901-1957), e Scott Fitzgerald (1896-1940), que veio para enxugar o diálogo mas logo foi demitido. Nenhum deles foram creditados. A esta altura o roteiro estava uma bagunça, pois agora só um homem o escrevia: David Selznick.

Em 25 de janeiro, Selznick escrevia para Jack Whitney: "Prezado Jack, não se desespere ao ver essas poucas folhas do roteiro revisadas. Está tão claro dentro de minha cabeça, que eu poderia te contar o filme todo do começo ao fim, quase cena por cena. Há dois dias, eu estava doente de ansiedade mas, hoje, na noite anterior ás filmagens, estou cheio de confiança. Mas terá de me tolerar pelos próximos dois meses." Convenhamos, era um enorme risco um projeto desse porte, dependendo da cabeça de um só homem. Nessa altura, milhares de Dólares já haviam sido investidos.

No dia seguinte, 26 de janeiro de 1939, dois anos e meio depois de Selznick ter comprado os direitos do livro, finalmente, tinha início o que podemos chamar de "a segunda parte da odisséia", com o começo das filmagens  E a primeira cena, seria a apresentação de Scarlett. Porém, a versão a vista por todos não seria a filmada naquele primeiro dia. Ela foi refilmada cinco vezes durante os meses seguintes, antes de Selznick se dar por satisfeito. Ali estava um homem realmente escravo dos detalhes.


Cukor tinha talento para cenas com mulheres conversando, 
como esta, filmada por ele logo no início do clássico.

No primeiro dia, ele achou que o cabelo das gemias esta ruivo em demasia, e que o vestido de Scarlett não era adequado. Selznick era um perfeccionista. Por outro lado, Cukor era excelente em cenas domésticas de mulheres conversando. Ele possuía um jeito especial de fazer com que uma atriz se sentisse segura. Era afetuoso, gentil, delicado e amoroso, o que levava a maioria delas a querer trabalhar com ele. 

Em 31 de janeiro, era a vez de Clark Gable chegar para sua primeira participação. Na cena do bazar. Ele chegou sem a preparação que Vivien Leigh estava recebendo,  e com a suspeita de que Cukor não era o seu tipo de diretor. Suspeitava que Cukor tratava as mulheres como flores raras, e que os homens só serviam para trabalhar. Foi azar que logo nas primeiras cenas Gable tivesse de dançar, habilidade que não tinha. Foi preciso fazer uma plataforma móvel para dar suavidade aos seus passos, e ele se sentiu exposto. 



Butterfly: tapas realistas demais.
Já, Butterfly McQueen, que fez a personagem Prissy, teve problemas com Vivien e Cukor. devido ao excesso de realismo dos tapas desferidos nela por Scarlett. Ela odiava o papel, e Selznick entendia que tratava-se de papel difícil para se fazer. A mãe de Butterfly diria a ela mais tarde que nunca mais ela voltaria a Hollywood, pois reclamava em demasia.

Mas Butterfly não era a única a reclamar. Conforme a cena se desenvolvia, Selznick conflitava com Cukor por causa da leitura de uma das falas. Depois de 10 dias filmando, só haviam 23 minutos de tomadas finalizadas e 10 delas teriam que ser refeitas. A coisa não estava dando certo. Depois de mais de dois anos preparando as filmagens juntos, Cukor e Selznick não estavam se acertando. Brigavam pelo roteiro e o ritmo de Cukor era excessivamente lento para Selznick. O filme se estendia, e Gable estava começando a ficar inquieto, não estava seguro sobre o seu Rhett ser a 'cocada preta' do pedaço. Por outro lado, Selznick previa as grande cenas épicas ainda por virem, e sabia que iria precisar de um trator, coisa que Cukor definitivamente não era. 


Fleming e Cukor: "trator" versus "pé no freio".
Selznick sabia que seu amigo era um bom diretor, que os atores eram bons, mas as coisas não estavam funcionando como deveriam. E Cukor estava cada vez mais convencido que o problema era o roteiro (e não estava longe da verdade).  Então ele disse a Selznick que não poderia trabalhar mais se o roteiro não fosse melhorado. E queria o roteiro de Howard de volta. Selznick respondeu que ele era o diretor, não o autor, e ele, Selnick, era o produtor, o juiz de bons roteiros. Cukor respondeu que ele era o diretor e dos bons (o que não era uma inverdade), e não assinaria o nome dele num filme ruim. E, se não voltassem para o roteiro de Howard, ele, Cukor, estava fora do projeto. Selznick, de cabeça quente, disse "tudo bem, dê o fora."

Após a confusão, Vivien Leigh escreveu para casa dizendo: "Ele era minha última esperança de gostar do filme." Ela ficou  muito chateada com a saída de Cukor do projeto. Victor Fleming foi chamado. Ele era um dos principais diretores da MGM, e  amigo de Gable. Havia dirigido Terra de Paixões (1932) e Piloto de Prova (1938). No daquele ano de 1939, Fleming dirigia O Mágico de Oz, um dos maiores projetos da Metro. Mas ele era a primeira opção de Selznick para substituir Cukor. Então, Louis B. Mayer que, sem trocadilhos, era outro leão da Metro muito feroz, veio ao socorro com a velocidade de um campeão de Fórmula 1. Portanto, Fleming foi retirado da direção de O Mágico de Oz, antes de seu término.   
     
Fleming no comando.
Curiosamente, Fleming era ex-piloto de corridas e fotógrafo. E teve seu lugar na história conquistado por E o Vento Levou e O Mágico de Oz, ambos de 1939, Mas sua reputação foi construída com os filmes de ação estrelados por Gary Cooper, Clark Gable e Spencer Tracy. Aprendeu com D. W. Griffith (1875-1948), John Emerson (1874-1956) e Allan Dwan (1885-1985), este considerado um dos pioneiros do cinema. 

Os mais atentos perceberão uma diferença de condução entres as cenas rodadas por Cukor e as por Fleming. Este último, acabou ficando coma parte mais novelesca, principalmente as que o casal entra em crise, prejudicados pelas consequências da guerra. Essas são possuem menos brilho que as do início do conturbado romance, rodadas por Cukor. 

Fleming se apresentou a Selznick em 17 de fevereiro. E, quando terminou a leitura das poucas páginas do roteiro que haviam sido filmados até o momento, ele se voltou a Selznck e disse: "Sr. Selznick o senhor não tem roteiro nenhum". Então, E o Vento Levou foi interrompido por 17 dias, para mais uma revisão. A odisséia tinha mais umdeafio pela frente. Os cenários ficaram vazios a um custo de 10 mil Dólares por dia.


Hattie McDaniel, primeiro Osca de uma pessoa de cor, e merecido.
Victor Fleming estava em um momento de grande inspiração naquele ano de 1939, pois além de E o Vento Levou, dirigiu também o cultuado e premiadíssimo  O Mágico de Oz. Não foi por acaso que a Academia de Hollywood distinguiu E o Vento Levou com dez Oscar, um deles merecidamente para Hattie McDaniel (1892-1952), a inesquecível Mammy e a primeira atriz negra a receber o prêmio.


Hecht: "longo como o sonho
de uma prostituta"
.
A essa altura do campeonato, a boataria rolava solta e os críticos "caiam de pau" e falavam na 'loucura de Selznick'. Enquanto Hollywood zombava de Fleiming, Selznick mexia no roteiro. Desta vez, Ben Hecht (1894-1964) foi chamado para as revisões. Ele era um dos maiores escritores de Hollywood e da Broadway. Ganhou um Oscar de melhor história original por Paixão e Sangue (1927), nas primeiras premiações da Academia, em 1929. Participou no roteiro de muitos filmes que se tornaram clássicos. Ele foi indicado mais cinco vezes para o Oscar de melhor roteirista. Paixão e Sangue (Underworld) ainda na época do cinema mudo, em 1927, foi o primeiro filme de gangster aceito como tal. Ele declararia na oportunidade: "O sr. Selznick e Victor Fleming chegaram e disseram que eu teria de acompanhá-los. Agora, eu iria escrever E o Vento Levou . Assim, Selznick me contou a história  toda, que eu não conseguia entender Chamaríamos a ela em Chicago de "longo como o sonho de uma prostituta", algo sem sentido. Então, para economizar tempo com os dois, eles me disseram que poderiam fazer (interpretar) as personagens e me explicá-las. Finalmente, Hecht fez Selznick reavivar o tratamento de Howard, dizendo que era soberbo e usou-o como base para a revisão. 

Assim eles trabalharam dia e noite para finalizar tudo. Selznick à base de benzedrina e Hecht de energia pura. Passados duas semanas, Hecht estava aos frangalhos e Selznick ainda estava à base de comprimidos, cheio de força, vigor e ansiedade. Ele implorou para que Hecht ficasse mais uma semana para terminar o que achava necessário. Hecht não só não ficou, como saiu correndo, e se escondeu, pegando um trem de volta para casa, sem atender mais nenhum telefones.

No dia 2 de março, as filmagens recomeçaram com Victor Fleming. Ele contava com as vantagens de um recém chegado, pois não havia discutido com ninguém e possuia energia de sobra (ainda), e um certo descaso para com detalhes (comportamento oposto ao de Selznick). Com a ajuda dos desenhos de Menzies, ele conseguiu que Selznick dissesse claramente, 'cara a cara', sem fazer uso daqueles famigerados bilhetes, o que realmente queria.


Muito trabalho árduo pela frente
Fleming era dotado de comando, permitindo que todos se concentrassem rapidamente. Sempre era o líder onde quer que estivesse. Era objetivo. Não tolerava bobagens e era muito respeitado por todos. Todos também reconheciam seu talento. Fazia bem o estilo 'machão', o perfil tão procurado por Gable. Fleming não gostava de Selznick. Alguns achavam que não gostava de ninguém, exceto de Clark Gable e dele mesmo. Porém, ele fez algo muito importante ao revitalizar E o Vento Levou, como um todo. De repente, o filme começou a acontecer. As atrizes não perceberam, pois choravam pelos cantos por George Cukor. Mas o fato era que o filme adquirira espírito e ritmo. Ele era um diretor competente. 


Os decotes, aaah! os decotes;
como deram trabalho a Selznick.
 
Contudo, alguns não suportavam a linguagem que ele utilizava para tratar Vivien Leigh. Era particularmente ríspido com ela. Fleming, ao contrário de Cukor, queria que ela fosse uma megera, como Scarlett era descrita no livro. Em determinado momento, Selznick enviou uma mensagem a Fleming, na qual revelava ter descoberto, para seu próprio deleite, que ele tinha uma opinião ainda mais forte do que a dele próprio, Selznick, sobre os decotes. Selznick incomodava muito a pobre Vivien sobre isso. Portanto, preferia que Fleming fosse o vilão daquele momento em diante. Esta seria a nova regra: Scarlett se tornar o tipo de garota de Gable.

No início de março, Selznick ainda não estava feliz com o que via na sala de projeção. A iluminação de algumas sequências deixavam a desejar; estavam escura demais. Ele reclamava que não conseguiu inculcar na equipe que, quando pedia efeitos de fotografia não queria dizer que a cena inteira devia ficar tão escura, a ponto de não se enxergar o que estava acontecendo. Portanto, se não conseguimos a arte e a luminosidade, deixemos a arte de lado. Exatos noves dias depois do reinício das filmagens Ernest Heller (1896-1970), foi trazido para substituir o Diretor de Fotogtafia Lee Garmes (1898-1978), com quem ele teve, digamos, divergências criativas. Selznick  achava que o trabalho dele era sutil demais e não capturava a riqueza das cores que Menzies desenhara. 


Se não conseguimos a arte e a luminosidade, deixemos a arte de lado.
Heller foi um distinguido cineasta americano. Começou na indústria como ator, em 1914Dentro de pouco tempo descobriu sua verdadeira vocação: atuar do outro lado da câmera. Em 1920, tornou-se um Diretor de Fotografia completo e foi trabalhar com Samuel Goldwyn.  Apesar da prolífica produção, levou vários anos para criar sua reputação. Ironicamente, ela chegou com o estupendo trabalho em Jesebel (como já dito, também de época). Com ele conquistaria, ao lado de Ray Rennahan (1896-1980), o primeiro Oscar das cinco indicações recebidas. E foi justamente seu trabalho em Jesebel que, em última análise, levou Selznick a chamá-lo como diretor de fotografia de sua obra-prima em Technicolor. Embora seus trabalhos anteriores terem sido quase exclusivamente em preto-e-brando, a aposta valeu a pena. 

A esta altura uma coisa era certa: o orçamento havia sido estourado em muito, e ninguém tinha certeza  de quanto seria seu custo final. Só havia orçamento para mais três semanas de trabalho e a MGM negou a colocar um centavo a mais do que o combinado. Por sua vez, Jack Whitney não teve sucesso ao tentar persuadir os sócios da Costa Oeste a ajudar. Então, ele e sua irmã investiram mais um milhão e deram uma garantia pessoal de um futuro empréstimo de $1.250 milhões de A. P. Gianini, do Bank of America. Era a grana necessária para finalizar E o Vento Levou e Intermezzo, e também produzir o filme seguinte: Rebeca, um thriler psicológico, cujo papel principal seria entregue a Laurence Olivier, o marido de Vivien Leigh. Este foi o primeiro projeto nos EUA do mestre do suspense Alfred Hitchcock, e seu primeiro produzido sob o contrato com Selznick.  

Com os novos fundos, agora á sua disposição, Selznick investiu boa parte deles na cena da evacuação de Atlanta. 
Entrementes, o roteiro, uma odisséia à parte, era reescrito todos os dias. Selznick ainda estava reescrevendo-o freneticamente todas às noites. No começo de abril, Sidney Howard foi novamente recrutado para fechá-lo, que já era um arco-iris de inserções coloridas. Eu dou a Selznick uma cena para filmar, na qual trabalhei com cuidado. Quando assisto, ele reescreveu cada traço de estilo dramático da mesma, cada detalhe da personagem e, para mim, toda a ilusão.


Um diretor à beira de um ataque de nervos.
Enquanto Fleming tomava quatro comprimidos, só para se manter na ativa, e outro para conseguir dormir, depois dos estimulantes do dia, Selznick se contorcia com uma indigestão permanente e crônica. Metade da equipe olhava, falava e se comportava como se estivesse à beira de um colapso. Por um tempo houve uma preocupação geral se Fleming terminaria o filme. Ele estava muito perto de ter um chilique. Estava tanto fídica quanto mentalmente esgotado, que seria um milagre se conseguisse conduzir seu trabalho por mais algumas semanas. O que de fato acabou por acontecer; ele deixou o filme. A gota d'água foi os seguidos aborrecimentos com Viven Leigh, que a exemplo de Olivia de Havilland, ia ensaiar em sigilo na casa de Cukor. Então, após mais uma grande discussão ele simplesmente se mandou.

O episódio foi um prato cheio para a imprensa:


Quando Fleming deixou o filme, em 29 de abril, a versão oficial foi que ele teria sofrido um colapso nervoso. Diziam os fofoqueiros de plantão que o sumiço dele durante o período de duas semanas foi, na verdade, uma punição a Selznick. Ele ficava pertubado pelo fato de Selznick assumir as filmagens. Selznick ficava mais tempo no set do que jamais ficara em outras produções. Ele dava muito palpite sobre os desempenhos, e dando instruções. E pior, fazendo tudo errado. Não se podia fazer isto com um diretor da envergadura de Fleming. Ele era muito competente. Esse comportamento extremamente intervencionista de Selznick fez com que nenhum deles tivesse liberdade suficiente para imprimir ao filme sua visão pessoal da história e seu estilo. 


Concepção do barbecue feita por Menzie
O genro do poderoso Loui B. Maywer foi, sem dúvida, um dos maiores produtores de Hollywood, e  tornou-se o pesadelo dos cineastas, pois sempre impunha a sua vontade. Nnguém pode tirar dele o mérito como o maior responsável pelo sucesso de E o Vento Levou.Parece-me, entretanto, injusto atribuir o crédito pelo sucesso do filme somente a ele. Outros, como renomado Bill Menzies, responsável pela concepção estética do filme, bem como pelo magistral uso das cores, com destaque para o característico vermelho saturado, também teve uma grande contribuição. Menzies teve também importância por ter dado unidade ao filme, que poderia ter sido um desastre devido a bagunça causada pelas constantes trocas de diretores.

E o Vento Levou perdia mais um diretor. Mas, desta vez, não houve pânico.  O filme estava nos trilhos. O desespero de Selznick era a verdadeira força de direção e a MGM tinha outro curinga na manga: Sam Wood (1883-1949).

Depois de um estágio de dois anos com Cecil B. DeMille, como assistente de diretor, Sam Wood teve a sorte de ver atribuído a ele duas das maiores estrelas da Paramount durante seu auge : Wallace Reid (1893-1921), entre 1919 e 1920 , e Gloria Swanson, (1899-1983) entre 1921-1923 . No momento em que o seu contrato de sete anos com a Paramount expirou ele já tinha se estabelecido como um dos mais confiáveis e de maiores recursos de Hollywood. Nada mal para um ex- corretor de imóveis. Em 1927, Wood se juntou MGM e permaneceu sob contrato lá até 1939, bem sintonizado com o estilo predominante de produção do estúdio. 


Sam Wood.
Sam Wood foi inflexivelmente de direita em suas opiniões pessoais. Seus testemunhos em 1947, perante o Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara, fez com que quase certamente ganhasse menos amigos do que inimigos dentro da indústria de cinema. Independentemente de sua personalidade, ou de suas cenas habitualmente filmadas mais de vinte vezes, Wood finalizou alguns filmes dramáticos muito importantes durante os últimos dez anos de sua vida, começando com Adeus , Mr. Chips (1939). Este melodrama popular, lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar. Seu projeto mais caro (e mais longo , com 170 minutos) o levou de volta a Paramount. Foi o drama da guerra civil espanhola Por Quem os Sinos Dobram (1943), de Ernest Hemingway. Comprado por $150 mil, tinha originalmente De Mille programado para ser o diretor. Apesar das incongruências editoriais do roreiro e de seu riímo relativamente irregular das imagens, acabou por ser o maior (e último) da carreira de Wood.

Sam Wood acabara de filmar Adeus, Mr. Chips, quando assumiu. O roteiro mudava todos os dias, mas agora os atores conheciam o papel. Selznick continuava levando aquela confusão adiante. Havia chegado o momento em que todo mundo mundo só quer terminar logo a coisa.  Depois de duas semanas, porém, Fleming retornou, talvez recuperado, ou alertado para o fato de que Wood estava fazendo um ótimo trabalho. 

Selznick teve uma conferência longa com Victor sobre acelerar o resto do filme. E ele, como sempre, se mostrou disposto a fazer o que fosse preciso. Além do fator custo, os nervos de todos estavam à flor da pele, e só Deus sabia o que aconteceria se não terminassem esse filme miserável. Então, Sam Wood ficou, e o trabalho foi dividido em duas unidades. 


O impressionnte traveling executado por Menzie. 
Fleming enfrentou a maior sequência do filme: a revelação da derrota do Sul. Um amplo e espetacular panorama elaborado por Bill Menzies das vítimas Confederadas. Eles se prepararam para a tomada com um ano de antecedência. Não existia uma grua que pudesse levantar os cameras men até a altura necessária. Mas conseguiram encontrar um enorme guindaste de 43 metros, que podia levantá-los até os 25 metros para fazer a audaciosa tomada. Para suportar seu enorme peso, foram colocados aproximadamente meia quadra de concreto. Na sequência, a câmera acompanha a personagem em um impressionante traveling aéreo, conseguido graças à utilização do guindaste, que rolava por cima da rampa de cimento armado. Uma sequência contundente. Cerca de centenas de figurantes misturados com outros tantos bonecos de cera, contribuíram para a grandeza da tomada. O restante são efeitos especiais e transparências desenvolvidos por Jack Cosgrove (1902-1965), Lee Zavits (1904-1967) e equipe. A composição da cena foi difícil , pois queriam que todos os corpos e feridos fossem filmados numa cena o mais grandiosa possível. 

Quando o marido de Margareth Mitchell assistiu a esta cena no filme, contam que ele exclamou: "Se tivéssemos tantos soldados, teríamos ganho a guerra."

Às vezes os comandantes podem ser vítimas também. Selznick estava á beira de ter um piripaque, mas, constantemente dopado, não tinha tempo de admitir ou observar isso. . Ele supervisionava produção, retrabalhava no roteiro, nas cenas diárias e conseguia achar falhas nas mesmas. E ainda conseguia tempo para bajular Vivien e Gable. Ele já havia começado uma campanha de conselhos, broncas e pressão para assegurar que a MGM fizesse a publicidade adequada do filme. Ele estava terminando Intermezzo e preparando Rebecca, com Hitchcock. O homem era uma verdadeira máquina

David O. Selznick apesar de ter sido um produtor brilhante e exigente, era terrivelmente desorganizado. Como resultado disso, todos ficavam muito confusos com o cronograma de filmagens. A desorganização era tal que, certo dia, numa das reuniões diárias com os chefes de departamentos, Arthur Arling recebeu do primeiro contra regra uma bola de cristal com a afirmação: "Espero que consiga prever o que David vai fazer a seguir."

Naquele ponto, já havia seis unidades trabalhando no filme. No mesmo dia, Fleming filmava a cena do campo de algodão, Wood filmava no moinho com Vivien, Menzies fazia a locação do campo de batalha e Reeves Eason (1886-1956), trabalhando como Diretor da Segunda Unidade (não creditado), filmava a sequência do vilarejo, com uma dublê de Vivien Leigh.  Os estúdios Selznick estavam em estado de caos.. Havia muito descontentamento com muitas coisas. A moral estava baixa, pois Selznick, perfeccionista levara todos ao limite. e às vezes até além.


Bem, entre raios e trovões, o que importa é que o filme foi feito em 125 dias, caso contrário não estaría aqui contando como foi a odisséia. Alguns afirmam que nos dias de hoje dificilmente se faria um filme tão complexo como este em menos de 150 ou 200 dias. Finalmente, ele  chega ao fim (me desculpem pela figura de linguagem). Mas, na mesma noite, começaram a refazer algumas cenas. E conforme refilmavam, também eram editadas. A edição também foi um tremendo e penoso processo. Tudo neste filme foi grandioso. Não era só saber onde estavam as tomadas, mas ter a sequência no papel. O que não existia, pois nunca houve um roteiro final. Depois de tantas revisões, ele só existia na cabeça de Selznick. Finalmente, aquele grande produtor, na sala de cortes, foi soberano.

Trabalho gigantesco e de qualidade valeu Oscar de Edição.

Não havia ninguém,. nenhum escritor ou diretor, que pudesse irritar ou confundí-lo. Imagino que, naquele momento, Selznick pôde hesitar tanto quanto desejou. Sua expectativa era para fazer a estréia em novembro, dali a apenas quatro meses, com um trabalho pela frente que hoje, seguramente, na melhor das hipóteses, levaria um ano. Promoveram, então, uma sessão de 50 horas com Selznick e Hal Kern (1894-1985), os únicos que ainda conseguiram ficar ali acordados. . Kern acabou levando o Oscar de Melhor Edição, pelo este trabalho, e foi um dos 10 que o filme ganhou. Ele também recebeu indicação pela edição em Rebeca e Desde Que Partiste (1944). Durantes os últimos meses do filme eles trabalharam 23 horas por dia. Eles não tiveram apenas que cortar 6 mil metros de filme, dentro dos 153 milímetros de celulóide. 


Observem o uso das cores na dramatizção dos efeitos da desolação no amanhecer,
e nas ruinas da cerca, pintadas de preto.
Mas o departamento de Jack Cosgrove (1902-1965) teve de fazer as centenas de montagens. Ele disse a Selznick que eles (seu departamento) podiam fazer o filme todo bem ali, no seu estúdio, usando truques ou cenas "matte", isto é, efeitos de fotografia. Foi ele que fez o incêndio de Atlanta funcionar. Cosgrove era um cara muito inventivo, e recebeu cinco indicações ao Oscar por Melhores Efeitos. Foram utilizados vários efeitos, como a luz escura na parte de baixo da tela, na morte da sra. O'Hara, com pretos profundos e uma luz azulada no rosto da falecida. Os ajustes da luz e das cores, usadas intensamente, ajudaram a dar um ângulo forte na composição do movimento. No quase amanhecer, por exemplo, ajudou a dramatizar o efeito de desolação e destruição. Não foram pintados só os portões e as ruínas de preto, mas vários acres de grama foram escurecidos. Não tentaram apenas fazer com que E o Vento Levou ficasse bonito, quando necessário, usaram cores desagradáveis  para realçar o drama. Os céus vermelhos e fundos escuros foram planejados para dar uma atmosfera forte, depressiva e infeliz. Mais do que nunca, a preocupação e cuidado com a fotografia exigiu estudos sobre as cores das várias horas do dia. 


As cores foram usadas intensamente no filme. Observem aqui, o por do sol 
dramatizando o momento dos conselhos do pais sobre o valor da terra.
Muitos dos sentimentos inspirados pelo filme no espectador, foram valorizados por sua espetacular e premiada fotografia. É perceptível que Scarlett antes da guerra é mostrada vivendo em ambientes ricos em cores e luz. Tudo é efusivamente colorido, vivo. As paisagens são verdejantes e a vegetação rica. As moradias são imponentes e reluzentes, mostrando a opulência de uma economia eminentemente agrícola e escravagista . Após o início da guerra, porém, a fotografia vai mudando e passa a recorrer exclusivamente a cores quentes, com predominância para os tons de vermelhos, laranjas, amarelos. De modo a realçar a sensação de destruição e da miséria que invade a cidade e arredores de Atlanta. Ou cores frias, quando o filme se concentra mais no psicológico de Scarlett, em seus momentos de angústia e solidão. No pós-guerra, os cenários tornam-se secos, a cor predominante passa a ser o amarelo, de modo a realçar a pobreza, o desespero, só voltando a recuperar os tons coloridos quando a vida de Scarlett começa a melhorar.          
Pela fotogradia, sempre magnífica, é fácil perceber o contraste entre o antes e o depois da devastação causada pela guerra. 
A competência técnica exibida no filme não foi utilizada apenas para transformá-lo em “deleite para os olhos”, embora também haja nesse aspecto uma importância cinematográfica inquestionável. Pois o filme utiliza também em cada frame um simbolismo ou uma mensagem, ás vezes subliminar, à vezes nem tanto.   

O implacável Will Hays.
Mesmo àquela altura, com o filme já na fase dos laboratórios, ainda havia mais uma maldita batalha pela frente a ser enfrentada. A batalha contra Will Hays (1879-1954). Ele foi o primeiro presidente dos Produtores de Cinema e da Associação dos Distribuidores da América. Antes disso, teve uma carreira como um político, mais notadamente como presidente do Comitê Nacional Republicano (1918-1921) e, como Executivo geral dos Correios do EUA (1921-1922). Como o Administrador Geral, ele foi um ferrenho oponente ao envio de material obscenos através do correio. Assim, quando os produtores de Hollywood e chefes de estúdio decidiram formar sua própria organização de vigilância, depois de vários escândalos durante o início da década de 20, eles sentiram que Hays seria o homem perfeito para o trabalho. A partir de 1922, e durante as duas décadas seguintes, foi um trabalho que Hays levou muito a sério, e que atingiu o seu ápice com a adoção do chamado altamente restritivo Código Hays, em 1934. No final dos anos 1940, no entanto, a Suprema Corte dos EUA decidiu que os filmes estavam protegidos pela Primeira Emenda, e Hays sentiu que aquilo era o início da derrocada de seu poder. Como os filmes americanos começaram a entrar em novos e diferentes rumos, as várias restrições contidas do Código Hays também começaram a ruir sob Hays e seus sucessores imediatos, Joseph Breen, Eric Johnson, e Jack Valenti. Esse último acabou por dar o golpre de misericórdia, ao substituir o Código Hays, no ano de 1967, em favor do sistema de classificação atual. Para o bem ou para o mal, Will Hays foi uma força a ser reconhecida na história do cinema americano, e sua influência ainda é sentida e debatida até hoje.


Will Hays diria há época: "Outros gostariam de sufocar este grande entretenimento com dominação artificial, o que não iremos permitir. E ao mesmo tempo devemos ficar de prontidão para cenas, ações ou falas que possam ser ofensivas. Os homens responsáveis da indústria não querem filmes desse tipo e não permitirão que sejam exibidos." 

Como podemos ver, Will Hays era o censor de Hollywood e, abaixo dele, havia o Escritório de Código de Produção, dirigido por Joe Breen. A batalha da produção contra a censura de Will Hays, foi para deixar passar a palavra "damn"  considerada pesada demais na época, e começou com a seguinte mensagem enviada por Selznick; "Prezado sr. Hays, a frase marcante de E o Vento Levou, a fala que estabelece para sempre a relação futura entre Scarlett O'Hara e Rhett Butler é: Frankly my dear, I don’t give a damn. (Francamente minha querida, não dou  a mínima). Joe Breen não pôde me dar permissão para usar esta frase porque contém a palavra "danm". Alego que esta palavra não é usada no filme como xingamento. O máximo que se pode dizer é que é vulgar. E assim está descrita no dicionário Oxford".


Selznick tentou várias opções, mas nenhuma se comparou à fala original. Ele pediu o apoio da maioria dos big boss de Hollywood, mas só após uma longa luta é que lhe deram a permissão de usar a tal palavra. A Motion Picture Association Board aprovou uma emenda ao Código de Produção em 1º de novembro de 1939, para acomodar a palavra "danm" no último diálogo de Rhett Butler. Naqueles velhos e bons tempos!? "maldita" era considerada vulgar para o bom gosto e não poderiam ser usadas em filmes. A frase consta como a "número 1" do hank da AFI (American Film Institute). Em 11 de dezembro de 1939, Selznick escreveria para sua assistente: "Acabamos de terminar E o Vento Levou. Deus nos abençoe." Se Will Hays assistisse a uma das novelas exibidas em nossas emissoras de TV, imagino que teria uma síncope.cardíaca.  

A cidade escolhida par a estréia não poderia ser outra que não Atlanta. Selznick diria: "Três anos de esforços nos trouxeram a este momento. Se Atlanta, que é o juiz final, aprovar nossos esforços, todo o trabalho não terá sido em vão."  

E assim, encerrava-se o capítulo final desta que foi uma das maiores epopéias, se não a maior, já ocorrida em Hollywood. Aquela que foi uma estraordinária experiência para seus autores.


Terminada a sessão, Margareth Mitchel levantou-se e, pela primeira vez, falou em público sobre o filme: "Achei que todos conseguem entender que esse filme foi uma grande experiência emocional para mim. Acho que foi pungente e sei que não sou a única que tem um lenço encharcado nas mãos. Mas quero falar só um minuto sobre o sr. David Selznick. Ele é o homem do qual todos vocês fizeram aquela piada sobre esperar que Shirley Temple (1928-), então com nove anos, crescesse para fazer Scarlett. Quero elogiar a coragem, a obstinação e a determinação do sr. Selznick em manter a boca calada até conseguir o elenco que queria, apesar de tudo o que todos diziam. E acho que todos concordam comigo, que ele conseguiu o elenco perfeito."     

Nenhum filme, até o advento de Ben-Hur em 1959, vinte anos depois portanto, foi premiado com tantos Oscar, dez no total. Nenhum filme nunca tinha ido tão bem de bilheteria. No mundo todo, incluindo os principais lançamentos, arrecadou em Dólares de hoje mais de S$ 2 bilhões. E teve, de longe, o maior público para um filme já feito. Nunca houve tanta glória em Hollywood. Talvez nunca mais haverá um sucesso como esse. E o Vento Levou é o auge desta grande paixão, deliciosa loucura, arte e negócio chamado cinema.


Anos mais tarde, Selznick falaria sobre o dilema ao qual o grande sucesso de E o Vento Levou o teria condenado. Que ele tirara a sorte grande e, a partir daí, não importa o que fizesse, seus filmes seriam comparados e julgados inferiores a ele. Algo parcecido acontece a Peter Jackson (1961-) com sua trilogia O Senhor dos Anéis (2001-2002-2003).

Por Luiz Alvarenga
SOURCES:
At David O. Selznick's Vanguard, the board of directors in 1947 included himself, Daniel O'Shea and Loyd Wright. Selznick as the sole stockholder of SRO: see SIMPP v. United Detroit, Deposition of David O. Selznick, April 28, 1949, p. 49, AMPAS.
For O'Shea's humorous account of the short-lived plans for Selznick City, see Thomas, Selznick, pp. 251-252. On Selznick's mental instability and the O'Shea resignation, see Thomson, Showman, p. 554-556.
Dan O'Shea parts with Selznick: “O'Shea Leaving Selznick; Will Open Agency,” Variety, April 19, 1950; “Film Executive Given New Post by Radio System,” LAT, November 25, 1950.
“Selznick Studio Goes On Block,” HR, April 7, 1949, pp. 1, 3.
David O. Selznick. In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2013.

Making of

2 comentários:

  1. Oi mano! Parabens pelo trabalho! Muito bem explanado, com riqueza de detalhes. O triste eh que a producao cinematografica da atualidade nao esta voltada para a criacao de peliculas como a do "E o Vento Levou". A ida ao cinema era prazerosa e desistressante... Bjao
    su mana




























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  2. Tio Querido, Favorito em Todo o Universo!!

    Que ORGULHO de você, do seu Blog Luiz! Câmera! Ação!, da sua capacidade! UAU

    Um Post CHEIO de informações jornalísticas, digno de todo e qualquer amante da 7ª Arte. Não fica NADA a dever a qualquer texto de revista séria e especializada.

    E o que é melhor: MUITÍSSIMO bem redigido! É Grande, mas deliciosíssimo de se ler! E (finalmente) fiz minha leitura!... A espera pela oportunidade perfeita de devorar o seu trabalho TÃO BEM-FEITO valeu demais!...

    Deus abençoe o seu Dom para apreciar as coisas, reunir informações sobre elas e, especialmente, contar a todos o que viu!

    AMEI, AMEI, AMEI.

    Um beijo épico na sua bochecha de Tio,
    da sua sobrinha que já recomendou no Twitter, com Link para esta página, este Post TÃO MARAVILHOSO: Ana Paula!!

    Saúde e Paz!!

    ~~~

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