UM TOLO DECIDE ENCARAR O MONTRO
"Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para
ela." Einsten.
Há algum tempo vinha convivendo com a angústia da indecisão.
Então, quando menos esperava, meu médico me veio com esta: "Procure
escrever, pode ser sobre qualquer coisa, ajudar a prevenir o Alzheimer.".
Foi a gota d’água.
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Com imagens poderosas, o cinema criou e alimentou um apetite voraz pelo espetáculo, oferecendo a oportunidade de se recriar o passado, reimaginar o presente e visualizar o futuro. |
A aventura da imagem - uma breve digressão
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A esquerda poster de O Nascimento de Uma Nação, e à direita uma cena em que se vê claramente um branco com o rosto pintado. |
É considerado atualmente como o pai do cinema, mas não por ser o inventor, e sim por ter criado a 'moderna linguagem cinematográfica' exatamente como a conhecemos. Ele foi um dos pioneiros no cinema norte americano, e chegou a realizar cerca de 50 filmes por ano. Seu talento criativo permitiu que a câmera de cinema abandonasse sua origem fotográfica, abandonando as imagens estáticas do tripé, sempre apoiado ao solo, para explorar o potencial de sua mobilidade. Com esta simples mas ao mesmo tempo revolucionária alteração, fez com que o espectador passasse a sentir que também participava da ação e se identificar com o que via. Outra importante descoberta foi o uso inteligente da montagem para que a narrativa ganhasse em emoção. Criou a linguagem dos planos (enquadramentos) ao levar a câmera para próximo dos atores, era o close-up, e assim captar seu todo seu potencial dramático. E não parou por aí, com seu poder criativo foi o primeiro a usar o recurso do flashback e a introduzir as mudanças de luz e sombra para criar atmosfera.
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A meca. |
Também não demorou muito para que o cinema adquirisse o status de importante atividade social. As senhoras vestiam o que tinham de melhor em seus guarda roupas e empoavam-se toda para ir ao cinema; era um acontecimento social. Os jovens, por sua vez, criaram o hábito de se encontrar nestas ocasiões para flertar. O cinema ganha o sentido de espetáculo, e passa a ser o grande assunto nas rodas sociais. Portanto, começava bem cedo a exercer sua influência, assumindo o papel de principal veículo a embalar nossos sonhos.
O cinema transformou-se rapidamente em um negócio altamente lucrativo, e passou a ser visto como a indústria sem fumaça; poderosa e exercendo enorme influencia em nosso cotidiano. Ditando hábitos e costumes, o cinema experimentou constante evolução. Esta rápida evolução teve também por influenciada as mudanças sociais, culturais, e econômicas ocorridas no primeiro século de sua invenção. Nenhuma das outras seis formas de expressão artística conhecidas obteve a espantosa disseminação que o cinema alcançou. Através dele as pessoas passaram a interagir com maior frequência e mais facilmente umas com as outras, traduzindo e expressando suas emoções e sentimentos, idéias e desejos. Foi uma mudança de paradigma.
Após a Segunda Guerra Mundial, o cinema passou por uma fase que teve como característica uma busca frenética e constante por novas formas de expressão e renovação de conteúdo. Foi um período dinâmico em que o novo envelheceu rapidamente e vice versa. Nesta fase, sobressaíram-se alguns movimentos como o neo-realismo italiano, a nouvelle vague francesa, o Cinema do Terceiro Mundo, o underground, e outros menos conhecidos. Todos, porém, tiveram como premissa o vento da renovação. Todavia, ao lado deste dinamismo criador, persistiram velhos problemas: a censura; o papel da política no cinema (aqui vale citar o Macartismo, a abordado em ocasião oportuna devido seu impacto no cinema); a polêmica em torno do chamado cinema de autor; a autonomia artística frente ao poder econômico e outros. Tudo faz parte da história do cinema.
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Imagem clássica de Godard na busca de um melhor enquadramento. À direita cena de Os Incompreendidos (1969), dirigido poe ele. |
Os movimentos estudantis acabaram por se organizar, ganhando força e o apoio de jornalistas cinéfilos, intelectuais e jovens cineastas como Jean-Luc Godard (1930) e François Truffaut (1932). Com isto, contaminaram toda a sociedade e o movimento atingiu seu ápice em 1968, quando adquiriu o significado e proporções revolucionárias. Em maio daquele ano estouraria a greve geral.
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O Movimentos Estudantil na França em maio de 1968. |
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Dois clássicos do neo-realismo italiano: Ladrões de Bicicletas (1948), de De Sica; e Roma, Cidade Aberta (1945), de Rossellini |
Um tolo decide encarar o monstro
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"Nossas dúvidas são traiçoeiras e nos fazem perder o que, com frequência poderíamos ganhar por simples medo de arriscar." Shakespeare |
Sem o saber ele havia despertado um sonho bem antigo, hibernado há a anos, que teve início quando já encontrava-me próximo à ‘idade do lobo’. Para quem ainda não conhece a expressão, explico: refere-se a nós, homens, que ao atingir determinada faixa de idade começamos a ter algumas idéias esquisitas na cabeça. Embora, por puro preconceito, costumamos resistir a ela, é quando começa o climatério, que vem a ser como se fosse uma menopausa masculina. Não queiram polemizar, porque já está cientificamente provado que é acontece. Em poucas palavras, a tal 'idade do lobo', acontece quando começamos a sentir com mais peso a passagem dos anos (a famosa idade dos metais), e de repente percebemos que estamos na terrível 'casa dos enta', e já não somos mais os mesmos.
A idéia de realizar algo ligando minhas duas paixões, escrever e cinema, começou a me atormentar no final dos anos 80. No meio do caminho, atrapalhando o sonho, havia o desconforto pelo conflito entre o ardente desejo de realizá-lo, e o pesadelo pelo receio de não ter a necessária competência. E esta simples possibilidade tornava o desejo, um sonho. sabia que ainda não possuía a maturidade necessária para encarar o desafio . Naqueles tempos já conhecia uma máxima que dizia: “Qual a primeira coisa que deve fazer quem começa a filosofar? Rejeitar a presunção de saber. De fato, não é possível começar a aprender aquilo que se presume saber.”. Muito sábio.
Desde então o tempo foi passando e eu vivendo com a angústia da indecisão. Como não há bem que sempre dure, nem mal que sempre perdure, tudo tem fim, certo dia meu geriatra – sim meus caros já os consulto; e por favor não me venham com gracejos – saiu-me com esta: "Luiz, procure escrever, pode ser sobre qualquer assunto, atividade mental ajuda a combater o Alzheimer". Aquilo soou como uma bomba. Naquele exato instante o medo se dissipou como que por um passe de mágica, e me lembrei de outra máxima, esta de Einstein: "Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela.". Então, eu, tolo, decidi encarar o 'monstro'.
Por favor, aguardem pela Parte II - O sonhe de escrever.
Por Luiz AlvarengaPor favor, aguardem pela Parte II - O sonhe de escrever.
"Então, eu, tolo, decidi encarar o 'monstro'."
ResponderExcluirPara o deleite de quem não tinha a oportunidade de te-lo em sua lista de contatos no email, como eu!!
Beijos!!