sábado, 22 de junho de 2013

O ÁLBUM DE FIGURINHAS - Parte II

O SONHO DE ESCREVER

O cinema, como a história do detetive, torna possível que se experimente sem perigo toda a empolgação, a paixão e o desejo que devem ser reprimidos no ordenamento humanitário da vida. Carl Yung

Sonhos não envelhecem
“Você tem que ter um sonho, assim você pode se levantar de manhã.”  Billy Wilder

No início, a possibilidade de escrever sobre cinema, assunto que tem lá sua dose de complexidade, parecia aquele tipo de sonho inatingível, desafiador e tão excitante quanto assistir a filme de suspense. Todavia, ao contrário de escrever sobre uma ciência exata como a Física, por exemplo, demanda bem menos ou nenhuma formalidade, conhecimento ou rigor acadêmico. Especialmente para o cidadão comum e de seus sentidos laicos, distantes da mente cartesiana de um cientista. 

Para nós, que fazemos parte dessa tribo, a dos leigos, prevalece o que procede do coração: como a emoção. Nossa sabedoria é adquirida através das percepções; pela relação de causa-efeito; pela intuição ou pela fé, dependendo é claro da fonte do aprendizado; enfim, pelo empirismo. Outrossim, para o pesquisador científico predomina o racionalismo, e a matemática, sua linguagem, exclui a possibilidade de hipóteses. Sua crença é a certeza absoluta, o rigor dos métodos de provas baseadas em práticas matemáticas; enfim, no axiomático.  Talvez, ai resida um dos fatores que pesaram na minha decisão de embarcar nesta aventura. Houve outros motivos, igualmente fortes, como verão mais à frente.

A estesia das imagens
"Eu acredito, como sempre acreditei, que está em nossas mãos o controle do mais poderoso instrumento que o mundo já conheceu, para o bem ou para o mal." Thomas Edson, no Congresso de Cineastas em 1924 
"A imaginação é mais importante que o conhecimento." Einstein 

Ao contrário de uma ciência exata, a arte é entendida como uma atividade humana por excelência, e, como tal, não está sujeita ao rigor matemático. Ela é por natureza espontânea, informal, permissiva. Seu ordenamento ou assentimento é com as manifestações de ordem emocional, estética e de comunicação, realizadas a partir da percepção das emoções e idéias. O cinema por conter em si todas as demais formas de expressão artística, e por esta razão conhecido como a Sétima Arte, é completo e complexo. Portanto, mais que qualquer uma das outras manifestações artísticas conhecidas, interage mais fortemente com o emocional. As reações emotivas provocadas por suas imagens, belas e poderosas, por se utilizar de amplos recursos, podem, em uma única cena, levar um espectador das lágrimas ao pavor, ou vice versa em questão de segundos, O cinema vive de explorar nossa imaginação e produzir imagens que nos leve ao deslumbramento.

Este eficiente arsenal compõe-se de planos, closes, som, cortes, diálogos (linguagem escrita) e a música, entre outros, que combinados e na mão de um talentoso diretor pode ser usado também como insuperável instrumento de doutrinamento político-ideológico, como veremos mais à frente. Este poderio levou o cinema, cedo ainda, a alcançar uma posição de destaque diante das demais artes conhecidas. E foi por antever esta possibilidade que, em 1912, o italiano Ricciotto Canuto, cunhou a expressão Sétima Arte. Canuto foi um teórico e crítico de cinema pertencente à escola futurística italiana. Perspicaz, percebeu que o cinema provocaria uma revolução cultural no século XX, uma vez que em si mesmo reunia as outras seis artes já conhecidas: a dança, o teatro, a música, a literatura, a pintura e a escultura.

Como uma indústria voltada principalmente para mexer com a imaginação, o cinema consegue com seu principal produto, o filme, estimular essas instâncias da consciência, valendo-se para isso dos tais extraordinários recursos cinematográficos. Esee poder influenciador (criador) transporta o espectador para alhures, novos mundos e realidades outras, fazendo que perca a noção de tempo. E este é um dos motivos pelos quais, não o único o espectador comum, desavisado, desconhece que sua vida está inexoravelmente à mercê desta influência, no exato momento em que se acomoda na poltrona de uma sala qualquer de cinema. E que, se vista do ponto de vista de lazer boa, por outro pode ser nociva.
O templo do cinema.

Em seu ensaio ‘O Cinema do Diabo’, escrito em 1947, Jean Epstein, afirma que “Mesmo quando amplia convicções que, posteriormente, poderão ser confirmadas pelo raciocínio, o filme continua a ser, por si só, um caminho pouco racional, um caminho sobre o qual a propagação do sentimento ganha em velocidade sobre a formação da idéia. É um caminho romântico, acima de tudo.

Segundo o mesmo Epstein, o cinema tem o poder de imitar a psicanálise, pois ajuda a despistar e vencer determinados recalques, seja individual ou coletivo. O antídoto pode ser entendido, de fato, pela sua ação catártica, sedativa e terapêutica no que concerne ao descontentamento e agitação popular. Esta hygiène mentale possui uma função pública imprescindível ao equilíbrio psíquico, é o que o ele considerava, na primeira metade do século XX, como um dos bens do cinema. 

Outra opinião de respeito parte de Carl Jung, notável psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana. Como outro apaixonado pelo cinema, certa vez, ele observou que "o cinema, como a história do detetive, torna possível que se experimente sem perigo toda a empolgação, a paixão e o desejo que devem ser reprimidos no ordenamento humanitário, da vida". E este é o papel que os cineastas conseguem com o gênero drama psicológico: explorar o mundo interior dos personagens, e o espectador acaba influenciado a realizar uma introspecção com  ele  mesmo.
Por favor, aguardem pela Parte III - Consciência crítica.
Por Luiz Alvarenga.

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